segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Enfim, Ubatuba brilha na Praia Grande

Um brilho pequeno, azulado, mas o atual “governo municipal” faz Ubatuba começar a brilhar. Depois de semanas de tempo chuvoso ou simplesmente nublado, enfim, um sábado ensolarado, dia 14 de dezembro, em Ubatuba. Sul da Praia Grande, perto do Quiosque Coqueirinho, um gazebo. É um tipo de tenda de praia cujo nome parece um palavrão. Sob uma tenda branca desse tipo, que tem quatro pés de sustentação, um fogareiro de duas bocas e um botijão pequeno de gás GLP. Um brilho pequeno, azulado, mas Ubatuba começa a brilhar. Cheiro forte de gordura de carne de segunda, fumaça, atraindo moscas grandes, conhecidas como varejeiras, fedor espalhando-se pela praia apinhada de turistas – quiçá algum morador também.

Se, para minha comodidade, prefiro usar os serviços de um quiosque, é decisão minha. Mas não sou obrigado a consumir alimentos e bebidas nos quiosques de praia, alguns dos quais (nem todos) exorbitam nos preços. Ninguém retira de mim o direito, se eu quiser, de levar minha farofa para a praia. Mas farofa pronta, porque não posso montar na praia uma cozinha, churrasqueira nem menos ainda destilaria de cachaça ou tanque de fermentação de cerveja. Nem posso deixar na areia da praia quaisquer restos de farofa, gorduras intragáveis, pão com mortadela Marba, ossos do frango assado, pontas de cigarros, copos descartáveis, latinhas de cerveja e refrigerante, PETs, lenços de papel e tudo quanto é lixo que eu, turista ou morador, gero em profusão. A quem cabe fiscalizar isso? O quiosqueiro, de boa vontade, pode ajudar, mas não tem a obrigação. O morador ou turista com um pouco mais de consciência não precisa brigar, mas pode, voluntariamente, recolher o lixo que outros deixam na praia – e, por alguma razão obscura, ao mencionar “outros” as palavras “Tarba” e “São Zé” sempre me vêm à cabeça. Cabe ao poder público municipal botar ordem no galinheiro. Tem fiscais e uma Guarda Municipal para isso, cujo lema “Apoio ao turista” jamais pode ser confundido com “Apoio ao sem noção, turista ou não”.

Esse tipo de uso da praia, o pequeno brilho azul dos fogõezinhos e vermelho dos braseiros, tem imenso potencial de virar epidemia, do tipo dengue. É necessário combater esse tipo de coisa quando ainda no início, porque depois fica muito mais difícil. Claro, é necessário combater se essa for uma decisão política, mas pode ser que a decisão política seja de outra ordem, a de permitir esses pequenos brilhos azulados e avermelhados nas praias do nosso pedaço do Litoral Norte. Afinal, de uma forma ou de outra, é brilho, “né não”?

Sabem o que faltou? Penitencio-me. Uma foto para documentar o triste episódio. Mas, de qualquer forma, foto não grava fedor de gordura ruim, sufocamento por fumaça fedorenta em narinas vizinhas, nem varejeiras pululando.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 16/12/2013.