quarta-feira, 26 de junho de 2013

É o Saci Urbano em Ubatuba


Recebemos esta semana, eu e a Marlene, aqui no nosso cantinho no pé do Funhanhado, o artista Thiago Vaz (thiagovaz.com.br), cujo heterônimo Iderê Dudu da Silva (algo como Madeira Escura da Floresta), hora nascituro no mundo artístico, é o autor do É o Saci (Urbano). Esteve acompanhado da dulcíssima Vanessa, para um almoço e uma conversa com o Julinho Mendes e com o editor desta revista, Luiz Roberto de Moura. A comida ficou por conta do mestre-cuca caiçara Julinho, que nos presenteou com um magnífico Azul Marinho, acompanhado de pirão, arroz e salada. Claro que demos nossa contribuição, disponibilizando o fogão e uma faca de cozinha com corte apenas razoável. Até a panela o Julinho trouxe. Sua generosidade foi ao ponto de ensinar à Marlene, passo a passo, como preparar a iguaria caiçara, da qual o Luiz Roberto explicou a origem: caiçara sabe que dá trabalho plantar mandioca (bem entendido, a planta com sua raiz comestível) e depois ralá-la e passar pela pedra de mó para virar farinha. Por conta disso, usa a banana  verde, que dá às pencas nas antigas terras de Coaquira. E em contato com a panela de ferro, a banana verde fica com o tom azulado que dá nome ao prato.

Iderê Dudu da Silva é heterônimo de Thiago Vaz, um jovem artista plástico baiano de nascimento que mora em Ribeirão Pires (SP), cujas intervenções em paredes e muros de São Paulo e outras cidades revelam trabalhos de alta qualidade e com uma ideia criativa, original, o Saci Urbano. É o mesmo nosso brasileiríssimo Saci Pererê, ou, como é conhecido aqui no litoral, Saperê. Mas é um Saci contemporâneo, urbano, calçado com tênis mas sem dispensar o cachimbo e o gorro vermelho, não o pontudo, outro mais assemelhado a um gorro. Nascido do mesmo colmo de bambu em dias de chuva como o Saperê, vive, contudo, no ambiente urbano, sujeiro às mesmas angústias que levaram às atuais manifestações dos jovens brasileiros. Ciclista, amante das ciclovias, quer um ambiente urbano no qual tenha mobilidade e no qual não precise causar poluição. Preocupa-se com as causas sociais, sem abandonar suas traquinagens: tem sempre um estilingue à mão, e não hesita em usá-lo para afugentar algum eventual rato Mickey que esteja a roer alguma abóbora, que é alimento para consumo humano e não para servir de lampião de raloim. E é aí que entra o Julinho, o criador do Raloim Caiçara, justamente no Dia do Saci.

Iderê sabe que a parte física de sua obra sofre de atroz efemeridade: se o proprietário do imóvel cujo muro foi presenteado com a obra de arte não a compreende, xingando-a de pichação, mandará pintar uma mortalha branca por cima. É também como as prefeituras costumam agir. Se a compreende ou, mesmo, se apenas gosta dela, permitirá sua exposição à radiação solar, à nociva radiação ultravioleta que esmaece qualquer tinta, à chuva que carrega poluentes, ao ar poluído (especialmente o de São Paulo). A obra física é efêmera, mas a ideia, o brilho da criatividade, é perene. Esse é o Saci Urbano, "É o Saci", a assinatura tímida de Iderê.
Em conversa de artistas não se mete a colher. Puderam conversar um pouco, Thiago e Julinho, e quem sabe não armam alguma coisa para o fim de outubro deste ano, aqui em Ubatuba? O futuro só o futuro revelará, mas nossa torcida é para que, em meio às chuvas de outono, nasça de algum colmo de bambu algum belo Saci caiçara, que se integre à paisagem urbana de nossa linguiça espremida entre o mar e a serra, a nossa Ubatuba.

Expusemos intimidades. Confirmamos: de perto, ninguém é normal. Mas ficou a certeza de que Iderê tem uma genialidade que talvez não alcancemos, nem nós nem ele, em profundidade, e que, queira ele ou não, compreenda ele ou não, se expressa através do Saci Urbano. De mim, confirmando suspeitas recentes, fica a certeza de que, dito de maneira muito doce, calou fundo a possibilidade de que eu esteja mesmo numa fase pré-Alzheimer, merecedora de cuidados. Além, claro, de minha rigidez racional constitucionalmente arraigada (o erro de Descartes, já denunciado em livro da obra do neurologista português António Damásio, que não por acaso minha filha Tatiana me deu de presente). O que não me impede, é claro, de ver os Sacis que rondam nosso cantinho no pé do Funhanhado.

Adendo
Um adendo. Talvez uma origem remota do Saci esteja no folclore asturiano, diz o site de etimologia Origem da Palavra, que não revela nomes de seus autores: trata-se do Trasgo. Baixinho, moreno, mancava da perna direita, vestia-se de vermelho e usava um gorro pontudo da mesma cor, diz o site: "Hoje vamos começar por um ser que visitava as casas de nossos antepassados do Norte de Portugal, o trasgo. Este era o equivalente aos gnomos e duendes de outras culturas. Seu nome era trasgu na mitologia asturiana.

Ele era baixinho, moreno, mancava da perna direita e tinha um furo na palma da mão esquerda. Vestia-se de vermelho e usava um gorro pontudo da mesma cor. Não era difícil reconhecê-lo, portanto.

Não façam essas caras de medo, ele não era dos piores. Ele era o responsável pelos barulhos que uma casa faz à noite e às vezes ficava travesso e quebrava alguma louça. De minha parte, acho que mais de um prato foi quebrado pelas crianças da casa e ele acabou levando a culpa.
No fundo ele era bonzinho, pois até fazia serviços domésticos quando se sentia bem tratado."
Alguma semelhança com o Saci-Saperê que descrevi em março de 2010? "Saci-Saperê, só para concluir, é o mesmo Saci-Pererê. É o Saci-perereg (do Tupi-Guarani Çaa Cy - olho mau; perereg - saltitante), do depoimento de M. L. de Oliveira Filho citado por Monteiro Lobato em seu (grafia original) "O Sacy-Perêrê - Resultado de um Inquérito", publicado em 1918. Usei a forma Saperê porque, nas palavras de Lobato, citando o depoimento de Procópio Silvestre, "No litoral é comumente chamado de Saci-saperê (pág 317)". Procópio acrescenta: "Os sacis do litoral apesar de travessos são bondosos, bem comportados, e alguns religiosos até."
Há sempre uma advertência necessária, quando se trata de Dudu. Jamais, leitor que conseguiu chegar ao fim do quilométrico texto, confunda o Dudu nome do meio do Iderê com um certo político local que infelicitou esta cidade.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 26/06/2013.

Maurício: `Ainda não fui à Sabesp´

O prefeito de Ubatuba, Maurício Moromizato (PT), em evento sábado, dia 25, da "Prefeitura no Bairro" no Perequê-Mirim, disse que ainda não foi à Sabesp, apesar de ter recebido dirigentes locais da empresa em seu gabinete, para ouvir as demandas, "e estou ajudando". Segundo ele, ainda não é o momento de ir à empresa de saneamento para cobrar obras e responsabilidades e, eventualmente, dinheiro

O prefeito explicou que está se preparando, buscando informações técnicas e jurídicas, inclusive cópias dos contratos entre a empresa e cidades como Taubaté, São José dos Campos e Botucatu, "porque não se pode ir com muita sede ao pote e depois perder na justiça". Citou como exemplo de possíveis cobranças que a Sabesp não pagou nada a Ubatuba pela concessão do saneamento em gestões passadas, enquanto que Taubaté recebeu R$ 60 milhões e São José dos Campos R$ 80 milhões.

O prefeito explicou que a situação mudou a partir da criação da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, porque o Governo do Estado interpreta que existindo a Região Metropolitana o saneamento básico deixa de ser municipal e passa a ser regional, caso em que o município perderia a titularidade da concessão do saneamento. A controvérsia, disse, já chegou ao Supremo Tribunal Federal. De qualquer forma, "o saneamento básico não está nas mãos do governo municipal, apesar de ser concessão municipal". Reafirmou a posição que assumiu em sua carreira política a favor do saneamento básico, pois sabe "o quanto impacta favoravelmente na saúde e no turismo". Acrescentou que "talvez, por conta desse histórico", a empresa em Ubatuba está mostrando boa vontade. No entanto, disse que "a Sabesp poderia ser muito mais rápida do que é".

O tema foi levantado por Elcio Machado, que disse ser morador em Ubatuba, no Perequê-Mirim, há cinco anos e que, durante esse período, a praia do bairro tem sido a mais poluída do município, "mais poluída do que a famosa praia do Itaguá". Afirmou que um dos principais problemas do bairro é a falta de saneamento básico, "saneamento pra valer, água tratada até o sertão, esgoto". Mencionou que haverá o problema da duplicação da conta paga mensalmente pelos moradores (que já têm água da Sabesp), quando houver coleta de esgoto, e que então os políticos precisarão se posicionar. Acrescentou que "Só que a Sabesp tem que falar que vai fazer, e fazer. Ouvir falar de onda limpa e uma porção de coisas, mas de concreto pouco acontece aqui no Perequê-Mirim".

O prefeito corrigiu que a poluição é na água do mar, o que está comprometida é a balneabilidade, não a praia em si. Quanto à questão das marinas, levantada por outro morador, quem respondeu foi o secretário de Meio Ambiente, Juan Blanco Prada, que disse da legislação sobre o tráfego de tratores para tirar e colocar barcos na água, "em linha reta", não para ficar circulando pela praia. Pediu que a população denuncie, se possível como fotos, porque sua pasta tem apenas dois fiscais e carro uma vez por semana para fiscalizar toda a extensão do município. Para as denúncias, informou o telefone 3833-4400, da Copam, Comissão Municipal de Proteção e Defesa Ambiental.

- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 28/05/2013.

sábado, 22 de junho de 2013

Moromizato: nenhum plano para a av. Nove de Julho

O prefeito de Ubatuba, Maurício Moromizato, em entrevista à revista O Guaruçá, afirmou que a posição oficial da Prefeitura é a de que não há, neste momento, nenhum plano para alterar a situação da avenida Nove de Julho, paralela à rua Guarani, no Itaguá. Disse que, no início da atual legislatura, o presidente da Câmara, vereador Xibiu, solicitou-lhe, oralmente, que estudasse a possibilidade de abertura daquela via ao tráfego de veículos de emergência, "ambulância e bombeiro", principalmente na temporada, "e todo mundo sabe que ali é uma avenida". No entanto, disse, "há um decreto aprovado pela Câmara, não sei precisar qual, de muitos anos atrás, transformando aquela avenida no que é hoje, e a Prefeitura não tem intenção nenhuma em revogar esse decreto".

O prefeito mostrou posição semelhante quanto à avenida Marginal norte (sertão) do Perequê-Mirim, paralela à rodovia sob gestão estadual, SP 055 Manuel Hipólito Rego, na altura do quilômetro 60. Disse que não tem compromisso nem de manter como está nem de abrir, "não fez parte de nenhum compromisso político com comerciantes e lideranças do bairro, nem foi tratado na campanha eleitoral". Lembrou que esteve no local, quando do evento Prefeitura no Perequê-Mirim, e que pediu ao administrador regional (Centro-Sul) estudos sobre o local, para melhoria no trânsito de veículos. Mas não se comprometeu com prazos: antes de qualquer cronograma são necessários recursos. "Tenho muita clareza de que uma das questões a ser colocada junto ao Governo do Estado e DER, ou, se houver a federalização da rodovia junto ao Governo federal, é a abertura das marginais", disse.

A origem dos recursos seria o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias – DADE, vinculado à Secretaria Estadual de Turismo, que gere o Fundo de Melhoria das Estâncias, ou o Plano de Aceleração do Crescimento do Governo federal, o PAC, caso ocorra a federalização da rodovia.

A polêmica
Projetada como via de tráfego, a avenida Nove de Julho, que começa em sua ligação com a rua Leovigildo Dias Vieira, na altura da praça Alberto Santos (a dúvida é se a homenagem é a Alberto Santos, advogado, político, três vezes prefeito de Ubatuba, ou Alberto Santos Dumont, reverenciado aviador), conhecida também como "praça do esqueleto" (onde há o esqueleto de uma baleia), vai até a praça Capricórnio, em frente à continuação da diretriz da pista do aeroporto local. Essa praça tem uma pista de skate. A avenida não está mais aberta ao tráfego, exceto, em um trecho, pela calçada, para moradores para os quais a via é a única forma de acesso a seus imóveis. A calçada também está ocupada por estabelecimentos comerciais, em uma parte. Onde seriam as faixas de rolamento da avenida existem alguns equipamentos para lazer e alguma arborização, bem como uma ciclovia. Através de indicação, o vereador Xibiu, presidente da Câmara e integrante de uma das coligações partidárias que apoiou o atual prefeito, pediu ao Executivo, que tem a exclusiva competência para iniciativa a respeito, a liberação daquela via ao tráfego geral de veículos, e não apenas aos de emergência. A proposição, apresentada na sessão do Legislativo de 12/3/2013, motivou reação de moradores e comerciantes daquele trecho, que fizeram abaixo-assinado e pretendem continuar com seu uso preferencial da via como é hoje, repudiando tráfego de quaisquer veículos. Na sessão da Câmara do dia 18 último, ao ocupar a Tribuna Popular, Elton Herrerias, vinculado a atividades de skatismo, leu o abaixo-assinado em repúdio às mudanças propostas. Na mesma sessão, foi veiculada a informação de que a indicação do vereador foi arquivada.

Há outra questão referente àquele trecho, que é a regularidade dos imóveis, bem como o fato de terem sido aprovados desmembramentos de lotes que descaracterizaram o projeto original.
Não foi possível confirmar a afirmação de Maurício sobre "um decreto da Câmara", que ele não soube precisar qual é. Nada a respeito foi localizado com o uso do sistema de buscas do portal do legislativo, nem quanto a decretos, nem quanto a leis. De qualquer forma, exceto para administração interna da casa, a Câmara Municipal não edita decretos, que são atribuições do Executivo.

Quanto à avenida marginal do Perequê-Mirim, o que obsta o tráfego de veículos em seus dois primeiros quarteirões a partir do acesso do quilômetro 60 da rodovia é um coqueiro, protegido por um pequeno poste de concreto. O coqueiro é usado pelo comerciante local para colocar faixas de publicidade de seu estabelecimento.

Entrevista
A entrevista foi concedida dia 10/6/2013, depois de várias solicitações desde o início do mandato do atual prefeito, mas afinal acabou sendo agendada por iniciativa da própria Prefeitura, através da Ouvidoria municipal, cujo titular é o jornalista Saulo Gil. Foram tratados outros temas, que serão abordados nas próximas edições.

-Texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 21/06/2013.