sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A irmã votou em Dilma


Ladainha (MG), a Cidade Irmã de Ubatuba, votou em Dilma. Quase quatro em cada cinco eleitores votaram em Dilma, no segundo turno: 79,41%, contra 20,59% que votaram em Serra. Foi uma confirmação do que aconteceu no primeiro turno, quando Dilma teve 74,55%, Serra 20,45% e Marina 4,52% dos votos válidos. Os outros seis candidatos, juntos, tiveram menos de meio por cento.

Mas o que chamou mesmo a atenção foi a abstenção em Ladainha: 34,76% dos 11.747 eleitores registrados lá não compareceram às urnas (33,62% no primeiro turno). Boa parte, tem-se como certo, protocolou o requerimento de justificativa eleitoral aqui, em Ubatuba. Se a maioria dos que transferiram para cá seu título de eleitor votou em Serra, como afirma o Soçaite, é impossível saber.

Para governador, vale a piada de que Maluf, Lula e Aécio elegem até poste: funcionou, em Ladainha (como, de resto, em toda Minas), a composição de voto chamada de "Dilmasia". Antonio Anastasia, o ilustre poste desconhecido de lá, com maciço apoio de Aécio, foi eleito governador em primeiro turno, e teve 63,58% dos votos válidos de Ladainha, contra 35,63% dos votos dados ao ex-Rede Globo e ex-ministro das Comunicações de Lula, Hélio Costa. Alckmin também era um ilustre desconhecido, quando Covas, mesmo doente, relutava em se afastar do governo estadual. Resultado: Covas acabou morrendo, Alckmin assumiu definitivamente e depois conseguiu se reeleger. E elegeu-se agora, novamente, em primeiro turno, apesar de notabilizar-se por ser um "picolé de chuchu", expressão criada pelo humorista João Simão, tão insosso que se mostra. Importante aqui em São Paulo, berço e feudo do PSDB, Alckmin não conseguiu projeção nacional, e sua campanha para presidente, quatro anos atrás, mal decolou.

Pitta deu no que deu, mas o eleitorado de Maluf não o atendeu: "nunca mais votem em mim". Está, por enquanto, eleito, visto que ainda resta ultrapassar a malha fina da Lei da Ficha Limpa, ainda não inteiramente julgada pelo reticente e empatado STF. Dilma e Anastasia representam o anseio de continuidade dos eleitores, da mesma forma quando da reeleição de FHC e Lula, e de Alckmin. Exceto pelos anátemas lançados pelas viúvas políticas de Serra, algumas já agarradas indecentemente ao Alckmin, que já vaticinam receitas de fracasso para Dilma, ela e Anastasia têm uma chance razoável de bons governos. É diferente a situação de Alckmin: já mostrou seus limites e se, especialmente em Ubatuba, os paulistas acham que o que está por vir será melhor, só há que lamentar.

Preconceito e xenofobia
Preconceito é preconceito, quando expresso em poucas linhas muito agressivas no twitter, ou dito com palavras mais edulcoradas, numa revista eletrônica. Quem tiver curiosidade de ver a quantas anda a juventude paulista e sua relação com o preconceito, um bom local é o tumblr.

O Nordeste, nestes últimos dias, tem sido vítima predileta desse preconceito, classificado como xenofóbico. Separar entre bons e maus, entre inteligentes e burros, entre os que produzem e os que usufruem, entre os desta região e daquela, entre os de "raça inferior" e os de "raça superior" são formas maniqueístas de expressar preconceito. São a forma mais pobre do reducionismo que dá vazão a sentimentos que brotam da parte mais obscura e antiga do cérebro, e não da racionalidade de suas funções mais modernas e complexas.

Fato é que não foi o Nordeste o fiel da balança que elegeu Dilma. Foram, basicamente, Minas Gerais e o Rio de Janeiro, Estados que somam no esforço nacional de produção de bens e serviços e que, certamente, não são, na visão maniqueísta, os que usufruem sem contribuir.

Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 05/11/2011
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Oportunidades de melhoria perdidas na votação

 
É possível que o amptigo, velho e (quase) infalível pincel atômico, bem como seus dois grandes amigos, o papel de embrulho e o papelão, não tenham ainda sido apresentados aos responsáveis pela sinalização visual do 2° turno da eleição, na Escola Maria da Cruz Barreto, no Perequê-Mirim. Bastaria usá-los para que ficasse visível de longe, porque o pátio e os corredores da escola são grandes, a localização das seções eleitorais que lá funcionaram. Com isso, ficou perdida uma oportunidade de melhoria. Foi criada outra oportunidade, um bilhetinho no portão: a sinalização do local para entrega do requerimento de justificativa eleitoral.

Mudei-me definitivamente para Ubatuba antes da Marlene, que ainda tinha pendências profissionais a resolver em Assis. Transferi meu título para cá um pouco antes do encerramento do prazo para isso. Ela veio depois e seu domicílio eleitoral, portanto, ainda é Assis. Precisava justificar sua ausência na urna do 2º turno. Votei logo cedo e não havia nenhuma sinalização sobre local para a justificativa eleitoral. A seção onde voto fica na escola Maria da Cruz Barreto, a três quarteirões daqui e, por volta da hora do almoço, fomos até lá, para a Marlene poder assinar e entregar o formulário de justificativa eleitoral obtido no site do TSE. Bem, por volta da hora do almoço havia um bilhetinho, afixado no portão, dizendo que a justificativa deveria ser entregue em outra escola do bairro.

Até o 190, Polícia Militar, registro para preservação de direitos, tentamos. O atendente, de voz aguda mas de nome masculino, interpôs uma porção de perguntas, antes de acolher qualquer pedido. Queria saber de tudo, ter um panorama preciso, antes de acionar qualquer medida. A pergunta fatal foi: "Tem um PM aí, no local?" A resposta foi, claro, "sim". "Então fale com ele, que ele tomará as providências". Escusado dizer que não seria o caso de voltar ao policial militar, postado no portão, evitando, à guisa de informar, a entrada dos 8 em cada 10 eleitores que procuravam o local, para tentar a justificativa. Estava ali para impor a autoridade de sua (felizmente) respeitada farda para dizer: "justificativa não é aqui".

Não conseguimos nenhum contato. Nem o dr. promotor eleitoral, nem, menos ainda, o dr. juiz dotado de Poder de Polícia eleitoral. Mas, através da eficiente Leila, conseguimos falar com a eficiente Cecília, diretora do Cartório Eleitoral, repartição que já elogiei. Ela abriu o jogo: o TSE está errado, ao dizer "qualquer seção eleitoral", para justificativa. Que, em Ubatuba, foram selecionados 16 locais para justificativas. Mas que, sendo o caso (e era) de discordância, estava aberta a possibilidade de consignação em ata do requerimento da justificativa. Leila, com eficiência, orientou a mesária quanto ao preenchimento da ata, coisa rápida e que não atrapalhou o andamento da votação. O problema agora é do dr. juiz, de acolher, deferir, o requerimento de justificativa, ou denegá-lo, conforme seu livre e fundamentado convencimento.

Qualquer burocracia, e a eleitoral não é exceção, tende a regulamentar procedimentos conforme sua própria conveniência, e não conforme conveniente para os usuários dos serviços burocráticos. Os usuários, é claro, não sabem, e nem querem saber, das dificuldades do burocrata, com malotes, horários para malotes, logística, coisas assim. O usuário, leigo, lê, nas instruções para preenchimento do formulário, "qualquer local de votação", e pronto. Nem um, nem outro, estão essencialmente errados.

Ubatuba é cidade turística, recebe, como recebeu neste feriado prolongado, uma multidão de pessoas, a maioria das quais eleitoras, que precisaram justificar ausência. Faz todo o sentido canalizar essa demanda para locais específicos, evitando tumultuar o processo normal de votação dos ubatubenses. Mas, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O TSE orienta no sentido de que o formulário da justificativa, disponível em seu site da internet, pode ser entregue em qualquer seção eleitoral. No entanto, abre a possibilidade, para os TREs, de que a justificativa possa ser entregue nas seções eleitorais ou em mesas receptoras específicas, ou em ambas, mas diz: (parágrafo 3º, art. 9º, Res. 23.218): "O Tribunal Regional Eleitoral que adotar, para o segundo turno, mecanismo alternativo de captação de justificativa deverá regulamentar os procedimentos e divulgá-los amplamente ao eleitorado". Amplamente é a a palavra. Não canhestramente, com bilhetinhos de hora de almoço.

Por final, há duas questões. Deficiência física, ambulatória, e necessidade de comprovação do exercício do dever legal de votar, ou justificar, para perceber os legítimos vencimentos de aposentadoria. A decisão da seção eleitoral, do cartório eleitoral, do juiz eleitoral, tem reflexos mais do que patrimoniais, tem reflexos na sobrevivência - alimentação, água, moradia - e no dever de prover acessibilidade a quem tem deficiência. Vejamos no que vai dar.

- Texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 04/11/2010
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Ubatuba elege Serra novamente

 
Confirmando a tendência apontada pelo 1° turno, Ubatuba deu a José Serra, do PSDB, 63,2% dos votos válidos, contra 36,8% dados a Dilma Rousseff, do PT. Nacionalmente, Dilma teve 56,05% e Serra, 43,95%. A abstenção foi muito alta, 24,02%, ou seja, quase 1, em cada 4 ubatubenses, não compareceu às urnas. Nacionalmente, a abstenção foi de 21,47%. Aqui, os votos em branco foram 2,86% e os nulos, 3,65%, contra, nacionalmente, 2,3% e 4,4%, respectivamente.
Abaixo, os resumos da votação do 2° turno no Litoral Norte (apuração concluída) e no Brasil (99,99% das urnas apuradas, faltando só 23, dados do arquivo do TSE das 01:46:56 horas de 1/11/2010).

Ubatuba - 169 Seções - Eleitorado: 58.399
Abstenção - Em branco - Nulos14.028 (24,02%) - 920 (2,07%) - 1.516 (3,42%)
Dilma - 15.432 (36,80%) - No primeiro turno, 30,09%
Serra - 26.503 (63,20%) - No primeiro turno, 47,39%

Caraguatatuba - 181 Seções - Eleitorado: 68.781
Abstenção - Em branco - Nulos15.891 (23,10%) - 1.284 (2,43%) - 1.909 (3,61%)
Dilma - 20.732 (41,72%) - No primeiro turno, 33,76%
Serra - 28.965 (58,28%) - No primeiro turno, 44,01%

São Sebastião - 144 Seções - Eleitorado: 52.108
Abstenção - Em branco - Nulos11.872 (22,78%) - 861 (2,14%) - 1.331 (3,31%)
Dilma - 19.547 (51,38%) - No primeiro turno, 40,64%
Serra - 18.497 (48,62%) - No primeiro turno, 34,69%

Ilhabela - 57 Seções - Eleitorado: 20.204
Abstenção - Em branco - Nulos4.650 (23,02%) - 238 (1,53%) - 398 (2,56%)
Dilma - 4.854 (32,54%) - No primeiro turno, 24,35%
Serra - 10.064 (67,46%) - No primeiro turno, 52,93%

Brasil - 400.001 Seções - Eleitorado: 135.804.433
Abstenção - Em branco - Nulos29.194.309 (21,50%) - 2.452.588 (2,30%) - 4.689.293 (4,40%)
Dilma - 55.751.918 (56,05%) - No primeiro turno, 46,91%
Serra - 43.710.381 (43,95%) - No primeiro turno, 32,61%

- Texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 01/11/2010.

Alvíssaras: as Nephilengys cruentata voltaram


Cães são diferentes de gatos, e humanos são diferentes de ambos. Cães vivem com o focinho pregado no chão, o mundo em que vivem contém uma imensidão de odores, cheiros, traços que lhes ativam o aguçado olfato. Têm, dizem, nunca contei, 220 milhões de receptores olfativos, enquanto que nós, pobres mortais, temos apenas 5 milhões. Cães raramente olham para o alto, só mesmo quando algum ruído lhes chame a atenção. Gatos, nem imagino quantos receptores olfativos têm, mas são curiosos e têm o aguçado olhar de caçadores que são. Cães não escalam. Não mesmo?  Gatos adoram subir em coisas, móveis, objetos, muros, telhados, árvores. Até mesmo para um aconchego. Frequentemente, do nada, começam a olhar para cima, para o alto, procurando uma oportunidade de escalada ou buscando algum pássaro, mariposa ou barata para predar. Dizem que gatos caçam camundongos. Por aqui não os há, nem ratos que aqui não é Prefeitura, e raramente há baratas, mas mesmo essas poucas não escapam das garras e do espírito brincalhão da Elis, nossa gatinha vira-lata.
Humanos, moderadamente, escalam, cheiram, olham para o alto. Os nomes das constelações estelares que conhecemos hoje foram dados séculos atrás, pelos curiosos que olhavam o céu noturno. A maioria das constelações e nomes de estrelas veio de um imbróglio de tradições gregas, romanas e árabes. Mas, bichos humanos urbanos que somos, raramente olhamos para o telhado, para o forro, para o alto, dentro de nossas casas.
Assim, não sei desde quando, pois foi somente hoje que olhei para o alto, para a face inferior do telhado da varanda, três filhotes de Nephilenbis cruentata estão a construir suas teias de caça e abrigos diurnos. Tem uma maiorzona, uma média e uma pequenina. Alimentam-se de pequenos insetos voadores, inclusos os pernilongos chatos Culex e os perigosos Aedes, estes últimos, felizmente, sumidos daqui.
Há uma outra habitante, da qual ainda não sei o nome. Instalou-se no forro da cozinha. Fez seu casulo diurno e sua teia de caça, mas não é uma Nephilengys. É menor, e muito bonitinha.
Humanos têm fobias. A Zélia, que cuida da limpeza pesada da casa, tem horror, pânico, a gatos, mesmo os mais inofensivos do mundo, como são a Elis Elis e o Goya. E não gosta, nem um pouco, de aranhas. Mas aprendeu a não bulir com elas, aqui em casa, no nosso Cantinho, no pé do morro do Funhanhado. Aqui, essas aracnídeas estão a salvo do predador humano. Seguirão seu curso normal de vida. Morrerão um dia, certamente, mas que a vida lhes seja longa e feliz.
Por final, de vez em quando beija-flores entram na cozinha e, como sempre tentam voar para cima, nem sempre percebem uma janela ou porta aberta. Tempos atrás, o "salvamento" de um deles foi feito com o auxílio de um rodinho, momento registrado pela Elka e publicado pela Marlene. Esta semana, o Sidney Borges fez registro de forte emoção, imperdível: um final feliz. Em comentário, o Carlos Rizzo até mencionou o nome do bichinho.

- Texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá , em 28/10/2010.