Cães são diferentes de gatos, e humanos são diferentes de ambos. Cães vivem com o focinho pregado no chão, o mundo em que vivem contém uma imensidão de odores, cheiros, traços que lhes ativam o aguçado olfato. Têm, dizem, nunca contei, 220 milhões de receptores olfativos, enquanto que nós, pobres mortais, temos apenas 5 milhões. Cães raramente olham para o alto, só mesmo quando algum ruído lhes chame a atenção. Gatos, nem imagino quantos receptores olfativos têm, mas são curiosos e têm o aguçado olhar de caçadores que são. Cães não escalam. Não mesmo? Gatos adoram subir em coisas, móveis, objetos, muros, telhados, árvores. Até mesmo para um aconchego. Frequentemente, do nada, começam a olhar para cima, para o alto, procurando uma oportunidade de escalada ou buscando algum pássaro, mariposa ou barata para predar. Dizem que gatos caçam camundongos. Por aqui não os há, nem ratos que aqui não é Prefeitura, e raramente há baratas, mas mesmo essas poucas não escapam das garras e do espírito brincalhão da Elis, nossa gatinha vira-lata.
Humanos, moderadamente, escalam, cheiram, olham para o alto. Os nomes das constelações estelares que conhecemos hoje foram dados séculos atrás, pelos curiosos que olhavam o céu noturno. A maioria das constelações e nomes de estrelas veio de um imbróglio de tradições gregas, romanas e árabes. Mas, bichos humanos urbanos que somos, raramente olhamos para o telhado, para o forro, para o alto, dentro de nossas casas.
Assim, não sei desde quando, pois foi somente hoje que olhei para o alto, para a face inferior do telhado da varanda, três filhotes de Nephilenbis cruentata estão a construir suas teias de caça e abrigos diurnos. Tem uma maiorzona, uma média e uma pequenina. Alimentam-se de pequenos insetos voadores, inclusos os pernilongos chatos Culex e os perigosos Aedes, estes últimos, felizmente, sumidos daqui.
Há uma outra habitante, da qual ainda não sei o nome. Instalou-se no forro da cozinha. Fez seu casulo diurno e sua teia de caça, mas não é uma Nephilengys. É menor, e muito bonitinha.
Humanos têm fobias. A Zélia, que cuida da limpeza pesada da casa, tem horror, pânico, a gatos, mesmo os mais inofensivos do mundo, como são a Elis Elis e o Goya. E não gosta, nem um pouco, de aranhas. Mas aprendeu a não bulir com elas, aqui em casa, no nosso Cantinho, no pé do morro do Funhanhado. Aqui, essas aracnídeas estão a salvo do predador humano. Seguirão seu curso normal de vida. Morrerão um dia, certamente, mas que a vida lhes seja longa e feliz.
Por final, de vez em quando beija-flores entram na cozinha e, como sempre tentam voar para cima, nem sempre percebem uma janela ou porta aberta. Tempos atrás, o "salvamento" de um deles foi feito com o auxílio de um rodinho, momento registrado pela Elka e publicado pela Marlene. Esta semana, o Sidney Borges fez registro de forte emoção, imperdível: um final feliz. Em comentário, o Carlos Rizzo até mencionou o nome do bichinho.
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