sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ubatuba: em quem votar para prefeito?


É possível respirar com um certo alívio depois da publicação - através de uma reprodução aqui na revista eletrônica O Guaruçá - da primeira (e talvez única que teremos) pesquisa de intenção de voto, feita pelo jornal Imprensa Livre, em cujo portal se pode ver as manchetes, mas não as matérias, agora restritas apenas aos assinantes das edições em papel. Melhor, de qualquer forma, esse pouco do que todo o conjunto de jornalecos daqui. Alívio porque a política pequena, nanica, de Eduardo César não terá sucessor na Prefeitura, mas "certo alívio" porque o primeiro colocado nas intenções de voto é uma incógnita: político que se esqueceu de manifestar sua posição quanto a muitas das questões vividas por Ubatuba nos últimos anos e cuja campanha eleitoral, ao menos aqui no meu bairro, no pé do morro do Funhanhado, mal chegou. Que nem as perguntas simples e diretas do Julinho dignou-se a responder. E tem o que falar, tem propostas e ideias, algumas das quais ouvi no Encontro promovido por uma certa Comissão Municipal de Cultura, esta semana. Propostas sólidas, uma certeira confiança de que, se é para mudar, o critério não será o da experiência, mas o da capacidade, o da competência. Que tem um candidato a vice que também tem projetos, ao ponto de arrancar da Marlene, minha mulher, a expressão "gostei do que ouvi, um vice que não é espectro... Um vice com planos bem definidos e que compõe uma proposta de administração".

O primeiro candidato com quem tive contato aqui no pé do morro do Funhanhado veio até minha casa, trazido por um rapaz júnior, o Jair, que conheci aqui no bairro e em quem reconheço boas intenções, mas é ainda um tanto ingênuo, muito júnior em política. Esse candidato a prefeito, por lambanças e perda de prazo no processo de registro de candidatura, desistiu de concorrer. Na conversa que tivemos, mostrou-se despreparado quanto a propostas e ignorante quanto a política, a começar pelo programa de seu próprio partido, um poço de contradições conceituais e ideológicas.

O segundo foi o doutor, cuja foto de propaganda exibe um vistoso estetoscópio em volta do pescoço. Para auscultar o coração de algum defunto bem falecido no IML é que não será. Precisei dizer cara a cara - ele deu a cara a bater aqui no pé do Funhanhado - que não votaria nele, porque usou seu mandato para defender a política miúda de Eduardo César, exceto agora, muito no finalzinho, quando passou a ser mais conveniente virar o jaleco para a oposição. Mas, de qualquer forma, sempre manifestou-se por CPI quanto à Santa Casa e talvez tenha tentado, sem sucesso, quando presidente do legislativo municipal, fazer com que o funcionalismo de lá trabalhasse.

O terceiro foi um saco, da coligação "Ubatuba, infelizmente, merece", a quem tive o desprazer de dizer que não tinha prazer em conhecê-lo (nunca o tinha visto pessoalmente), no corpo-a-corpo que veio fazer aqui, acompanhado de um molequinho e de um outro pretendente a césar grandão. Uns minutos depois, procurei-o para ressalvar que não o conhecia, a ele, como político, mas que a rejeição à sua candidatura decorria do apoio que está recebendo de Eduardo César. Rejeição que é absoluta, em vista do risco de Ubatuba avançar ainda mais para a retaguarda dos CUIS do litoral norte (Caraguá, Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião).

Nunca tinha visto pessoalmente o candidato da grande estrela vermelha, mas uma de suas militantes passou por aqui. E precisou ouvir: um ausente, que não pisa o chão de terra batida dos bairros, não se manifesta, e só se move por espasmos quadrienais, é um candidato fraquinho. Mas não cheguei a mencionar minha posição quanto ao voto útil, porque a militante, talvez paga, não aparentava ter condições de entender muita coisa.

Do Alfredinho, cuja fala no Encontro da Comissão de Cultura perdi, li um panfleto de propaganda, no qual apresenta propostas, mas não indica os caminhos pelos quais implementá-las, exceto vagas menções a exigir mais dos governos federal e estadual.

Frediani tem uma forte e rica campanha aqui no pé do Funhanhado, está temporariamente revitalizando, com os cabos eleitorais que contratou, a economia miúda do bairro, que tem dono, o qual deve estar feliz com o incremento de receita. Mas tem um discurso vazio, tão vazio que nem candidato a prefeito é, vive dizendo que o prefeito de Ubatuba é o governador. Governador que é péssimo prefeito daqui, ao ponto do próprio Frediani ter dito da tribuna como era difícil ser do PSDB. De qualquer forma, o coordenador da campanha tucana ao governo do estado foi Eduardo César, não o vereador da oposição local. Opositor que escolheu para vice um dos aguerridos defensores de Eduardo César, especialmente quando se tratava de barrar qualquer CPI quanto ao lastimável estado da Santa Casa e da saúde em geral em Ubatuba.

Do candidato do mercado nada há a falar. Como candidatura, não existe, nem se ouve falar dele aqui no pé do Funhanhado. Da mesma forma o candidato do partido de Ivan, o Valente, deputado que num especial momento da vida política do PT peitou o arrogante Zé Dirceu.

Resta falar de Nuno, a quem ouvi no Encontro da Comissão de Cultura. Tem fala bem articulada, mostra um pragmatismo que pode ser útil numa administração municipal, mas talvez ainda lhe falte "sustância", algo que vem com o amadurecimento e com a experiência. Por ora, manifesta-se encantado com o manno candidato evangélico na capital, revela ter admiração pelo farol de Alexandria, indica não ter ainda um recorte ideológico bem definido. Mas é uma promessa, uma promissora pedra à espera de buril, buril que os próximos quatro anos de vida política podem prover. Será necessário ter persistência e abrir bem olhos, para enxergar bem e longe os horizontes, e ouvidos, para ouvir o que o povo tem a dizer.

Cultura de "cidadezinha"
Os manuais de administração ensinam que é na cultura organizacional (um verdadeiro iceberg, do qual só é visível o topo) que se encontra a chave para a manutenção dos valores desejáveis e da mudança para enfrentar novas realidades. Algo similar vale para uma cidade como Ubatuba, que sofre de pesada baixa estima pelos revezes que sofreu ao longo de seus séculos de existência, mas especialmente nos últimos anos, da fraquíssima administração e da política nanica, muito pequena, de Eduardo César. Não é incomum ouvir a depreciativa palavra "cidadezinha", vocábulo que resisto em usar, senão para registrar uma concepção. E alguns fatos mostram o complexo de cidadezinha, como o convite feito por uma certa Comissão Municipal de Cultura, que promoveu, na última terça-feira, um Encontro com os Candidatos a Prefeito. O convite dizia do encontro "no auditório da Unitau".

Fomos, eu e minha esposa, para o tal auditório, do qual nem tínhamos ideia onde ficava. Paramos na banca de jornais da avenida Yperoig e não souberam informar. Fui às seis portas de comércio ainda abertas naquela quadra, e ninguém soube informar (dois mencionaram a rua Guarani, em frente a um restaurante). Abordei, então, um cidadão que, numa mesa de boteco na esquina do prédio do Paço Nóbrega, professor que era, disse não saber de auditório, mas que a Unitau ficava numa rua atrás de um shopping da avenida Leovigildo Dias Vieira. Arriscamos, e depois de algumas peripécias, achamos o lugar. Mas já tarde para ouvir a fala do candidato Alfredinho. E saber que, na cultura das grandes (e pequenas também) cidades, costuma-se usar o critério "serviço": o que, quando, onde - e o "onde" com a comezinha informação rua tal, número tal, bairro tal, às vezes complementada com a informação "como chegar".

Enfim, essa é a Comissão Municipal de Cultura, cuja primeira providência, no encontro, foi arrancar dos candidatos o compromisso de mantê-la...

Onde votarão os eleitores
Teremos 60.967 eleitores para o pleito municipal de 2012.
Será interessante comparar, quando forem divulgados os resultados das urnas, como votaram nos bairros, aproximadamente representados pela distribuição dessas próprias urnas, conforme o quadro abaixo, que tem, em sua primeira coluna, o número de eleitores:
18.165 - Centro
 6.585 - Perequê-Açu
 4.856 - Itaguá
 4.685 - Sumaré
 4.177 - Estufa II
 3.686 - Ipiranguinha
 3.593 - Perequê-Mirim
 2.475 - Parque dos Ministérios
 2.469 - Sertão da Quina
 1.967 - Maranduba
 1.844 - Marafunda
 1.117 - Lagoinha
   868 - Rio Escuro
   863 - Itamambuca
   690 - Puruba
   679 - Saco da Ribeira
   598 - Taquaral
   537 - Itaguá II
   531 - Picinguaba
   339 - Sesmaria
   243 - Figueira
Presto especial atenção ao Perequê-Mirim, onde moro, e que, na última eleição municipal, elegeu o candidato a vereador com o maior número de votos, um mico que pagamos até hoje.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 28/09/2012
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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Eleições e 'mídia' em Ubatuba



A vizinhança das eleições tem um efeito estranho sobre a "mídia impressa", entre aspas quando se trata de Ubatuba. É que, aqui, há uma profusão de jornalecos de ocasião e jornalecos um pouco mais longevos, tais como os cursos d’água do agreste, alguns temporários, outros sazonais, alguns perenes ou quase. No ano das eleições, aparecem os que têm "novo conceito", apresentam-se como "um jornal diferente", defendem até a liberdade de imprensa. No fundo, todos são baba-ovos do prefeito de plantão, especialmente o plantonista que, de tão generoso, ganhou o apelido de "Super". Reproduziram, com fidelidade canina e grande destaque, os releases da Prefeitura, incluindo a safra que se dedicou a tentar alçar em vôo um saco de papel vazio. Neste período de campanha eleitoral, pululam, gratuitos, nos balcões de comércio e até em pontos de ônibus. E, no entanto, é sempre bom lembrar Millôr Fernandes: "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." Só temos o resto.

"Propria laus sordet", pomposo aforismo da época do império romano para dizer que "O louvor de si mesmo fede", resultou, na última flor do Lácio, no dito popular "Elogio em boca própria é vitupério". É o caso de um desses órgãos da "mídia impressa" daqui, ao dizer, em editorial, de seu "Trabalho, seriedade, muita dedicação e imparcialidade". E continua: "É com orgulho que redigimos este editorial, pois, é neste espaço que deixamos a opinião do nosso veículo e nossa visão sobre determinados assuntos."

Pois é. Quem afirma que "esta liberdade (de imprensa) demanda um posicionamento mais crítico e atento da população quanto aos seus direitos por uma informação de qualidade e isenta" não publica comentários críticos. Não publicou comentário meu quando, no espaço do Editorial, reproduziu um artigo de um jornalista de Mato Grosso, sem citar o autor nem, menos ainda, dar-lhe o crédito pela matéria.

"Plagiou e assinou trabalho que não fez?" Essa frase, como de resto todo o "editorial" publicado pelo Agito em 27/01/2012, foi escrita por Alecy Alves, da Reportagem do jornal Diário de Cuiabá, em sua edição nº 13.211, de 15/1/2012, e reproduzida, com citação da fonte e título correto, pelo site da Amarribo Brasil.

Editoriais em geral não trazem a assinatura do editorialista, pois representam a opinião oficial do órgão da imprensa, o que equivale a dizer a opinião oficial de seus proprietários. Plagiar e assinar institucionalmente como seu editorial o artigo de um repórter de um jornal de Cuiabá, e usando como título o olho da matéria original, é a exata configuração do convite feito pelo autor, Alecy Alves:

"Que tal, se ainda não o fez, refletir sobre seu próprio comportamento e atitudes diante de acontecimentos cotidianos? (...) Plagiou e assinou trabalho que não fez? Acha que esses atos são irrelevantes diante gravidade daqueles que roubam o dinheiro público, desviam verbas da saúde, por exemplo?"

É por fatos como esse que a credibilidade da "mídia impressa" é bem pequena, em Ubatuba.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 24/09/2012.
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ubatuba, Teló e Chauí - é útil?



Impossível não ter contato com a "música" de Teló. Um non sense que caiu no gosto medíocre mundial, tema até de "ring tone" de celulares que ouvimos por aí. Não quero, na eleição municipal deste ano, nem o "Ai, se eu te pego", nem quero o "tchá", nem "tchu". Se não for possível ter um bom prefeito, que tenhamos, ao menos, um razoável zelador, o que Eduardo César nem isso conseguiu ser para Ubatuba.

Essas tais "músicas", crimes eleitorais, crimes contra o bom gosto, são nacionalmente criminosas. Seja nas propagandas dos candidatos a vereador, seja nas dos candidatos a prefeito, está presente nos alto-falantes do país inteiro, muitos dos quais de um som estridente e irritante - especialmente aqui, no pé do morro do Funhanhado. Na capital de São Paulo, o PSDB do eugenista e elitista Serra, paradoxalmente, rendeu-se à música popularesca. De qualquer forma, menos, menos: "música" ruim não é uma figura penal típica, não há crime em sentido estrito, mas apenas como figura de linguagem.

Consultei meu guru em política local aqui de Ubatuba, o editor da revista O Guaruçá, em cujo tirocínio aprendi a confiar ao longo dos últimos três ou quatro anos. Do que é velho, conhecido, rançoso até, ele descarta tudo (incluindo, é claro, os sucessores diretos da meleca geral). Dos poucos dois viáveis e jovens novos nomes, considerando inclusive seus patrocinadores, inclina-se por um deles, cujas mensagens também me agradam. Mas nem é esse o ponto. A questão é: quem é eleitoralmente viável para se contrapor ao candidato da coligação situacionista "Ubatuba, infelizmente, merece"? São oito candidatos, uma pulverização de votos numa cidade que não terá segundo turno. O tiro precisa ser certeiro, útil, sob pena de Eduardo César eleger seu poste, um saco de papel subalterno tão bem descrito pelo Loiro.

Entre o que é velho está o candidato (com o maior orçamento registrado na Justiça Eleitoral) do partido da grande estrela vermelha, partido que, em Ubatuba, não soube nem, acho, está sabendo capitalizar o sucesso eleitoral decorrente dos mandatos de Lula e Dilma. Enquanto o PT fez história em cidades conservadoras, onde sofria forte rejeição, ao deixar a política de boteco, dos conchavos bacamartianos e dos "senadinhos" para pisar por quatro anos, ininterruptamente, a rua de terra batida das comunidades periféricas, em Ubatuba sua militância (se é que há alguma) limitou-se a uma parte do aglomerado central do município, em conhecidos espasmos pré-eleitorais. Em seu site, nem a relação de candidatos a vereador tem. Entre essas cidades conservadoras inclui-se Araraquara, onde o PT soube, sem abdicar de seus fortes laços com a academia e com os intelectuais, deixar "a pedra" (como alguns conservadores nominavam o grande quadrilátero central da cidade, com suas ruas de paralelepípedos) e trilhar os caminhos difíceis das periferias. Acabou elegendo e reelegendo, além de sólida bancada na Câmara Municipal, o então prefeito que hoje é o deputado e presidente estadual do PT.

Abre-se, então, velhíssima discussão sobre voto útil, que defendo, mas contra o qual, por princípios solidamente defendidos, opunha-se a filósofa Marilena Chauí, antes de desencantar-se com a grande mídia e, suspeito, com o grande partido da estrela vermelha. Lembro-me de evento de uns 16 ou 20 anos atrás, no auditório do campus da Unesp em Araraquara, onde a Chauí, bonita e inteligente, verberou contra o voto útil, dizendo, em minha síntese certamente capenga, que entre o péssimo e o pior, seria melhor optar pelo aparentemente inviável, mas digno da expressão máxima da cidadania, o voto.

No entanto, como saber qual voto (ainda que menos digno) poderá ser útil, à míngua de pesquisas eleitorais? Consultando blogs ou as redes sociais? Consultando os jornalecos costumeiros e os de ocasião de Ubatuba? O único jornal que talvez pudesse fazê-las seria o Imprensa Livre, mas já disse que não fez e não fará, ao denunciar pesquisa apócrifa que circula pelas tais redes sociais mencionando o nome do jornal. Uma pena, especialmente agora que, para mim, o Imprensa Livre, com seus bons repórteres, acabou: é que resolveu tornar acessível seu conteúdo on-line apenas para os assinantes, coisa para custar mais de 300 reais ao ano - dinheiro que não tenho para gastar com isso. O IL foi o jornal que denunciou a grossa falcatrua que ocorre na SA Comtur, matéria de um novel jornalista, que está a substituir o experiente repórter daqui que hoje se dedica - que ninguém é de ferro... - a descolar alguns trocados no mercado da assessoria a políticos. Talvez tenha sido da lavra dele, o que não é de ferro, alguma matéria simpática a alguém que oscila, dizem, entre os hipotéticos primeiro e segundo lugares - o segundo será o perdedor aqui, onde só haverá um turno. E há as matérias, ao menos duas, que o IL publicou sem menção de autor ou origem (assumindo, portanto, a editoria), garantindo que o candidato oficial da coligação "Ubatuba, infelizmente, merece" teve séquito de "milhares de pessoas" em suas andanças pelo município. Ocorre que milhares é plural, no mínimo duas mil pessoas. O que vi, aqui, no pé do Funhanhado, foram, talvez, pouco mais de uma única centena de militantes seguindo um saco, muitos dos quais certamente pagos. As fotos publicadas não chegam a provar, sequer, as centenas.

Instalado, então, o dilema: qual voto será útil? É nesse dilema que vejo Ubatuba, a quem resisto chamar de "cidadezinha". Para mim, é um paraíso, um paraíso a construir, construção cada vez mais difícil. Vejo problemas com coisas básicas, mostradas quase diariamente pelo celular indiscreto do Ching Ling Uw, por perguntas feitas pelo Julinho Mendes (e que endosso, eu as faria) e não respondidas, feitas pelo José Ronaldo, pelo Sidney Borges: cadê nosso estadista? Cadê nosso prefeito? Cadê nosso zelador? Cadê, ah, vá lá, nosso caseiro minimamente diligente?

Acompanho meu guru. Nada de velharias políticas, exceto se, ainda que menos digno, seja voto útil. Acrescento: alguém novo, que, ao menos, possa ser competente caseiro, quiçá bom zelador. Declarando-me quase ingênuo, que possa ser razoável prefeito. E, como acredito em (porque já vi um) Saci-Saperê, que talvez seja um competente estadista.


- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 20/09/2012
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Ubatuba, eleições: batalha do UOL



A naniquice política de Dudu (“e sua enorme turma”, conforme o Ching Ling Uw de O Guaruçá) inspira seus apoiadores e até seus adversários, ao ponto de uma enquete do UOL ser alvo de uma manipulação. A página do UOL adverte que “Os resultados das enquetes não têm valor de amostragem científica”. Certamente que não, mas o formato da enquete é tão ruim que se presta a grosseiras manipulações. É que o UOL não tomou um cuidado elementar em enquetes desse tipo, que é o de registrar o IP de origem do votante, de forma a permitir apenas um voto por dia. Essa medida simples não impede fraudes, que podem ser perpetradas por outras formas, mas ao menos barra a fraude grotesca de um único IP poder votar sucessivamente 100, 200, 400 vezes.

Cada voto leva alguns segundos e exige 5 cliques e digitação de quatro caracteres, algo nada excepcional para algum verdadeiro maníaco dos teclados que disponha de um computador conectado à internet e de tempo - mesmo em horário de trabalho - para realizar a tarefa. Um funcionário público municipal, por exemplo, poderia ter esses dois pré-requisitos e produzir centenas de votos na enquete, por batelada. Da mesma forma, algum funcionário de comitê eleitoral.
No dia 5 de setembro, uma quarta-feira, o UOL fez uma chamada de primeira página para sua enquete. A curiosidade me levou, logo de manhã, a consultar a posição de Ubatuba, que estava surpreendente: bem poucos votos (menos de 30), média 7, enquanto que a média estadual era de 4,3. Anotei a ordem em que os votos apontavam os principais problemas do município: Saneamento, Moradores de rua, Áreas verdes, Favelas, Saúde.

Chamou-me a atenção: Saúde atrás de Moradores de rua, Áreas verdes e Favelas? Muito estranho. Quanto a Saneamento, sim, há graves deficiências em Ubatuba, mas este é um problema pouco afeto ao prefeito, é problema da Sabesp e do governo do estado. O que dizer de Áreas verdes como problema? Foi então que surgiu a compreensão do projeto: encampar a desculpa frequentemente usada pela enorme turma para a inércia da administração municipal, as áreas verdes das APPs e APAs, como bem destacou a moradora da Maranduba Maria Cruz, ao falar sobre “Ubatuba na rabeira”. Quanto a Moradores de rua e Favelas, problemas reais e antigos, também não podem ser diretamente atribuíveis ao prefeito de plantão. Em resumo, livrar a cara do prefeito e dar-lhe uma nota altíssima (dez, em cada voto, suspeito).

Ocorre que é impossível impedir o voto, na enquete, do cidadão comum bem intencionado, e da turma adversária, disposta a desmontar na marra a fraude, usando provavelmente o método de neutralização, nota baixíssima, zero. Assim, depois de várias oscilações, ainda no dia 5 o quadro era este, às 22h58, após 222 votos: média Ubatuba 4,8, média estadual 4,3, seguindo a ordem Saúde, Corrupção, Saneamento, Buracos nas ruas, Moradores de rua, Coleta de lixo e Favelas.

O dia 6 amanheceu esplendoroso: média Ubatuba 7,4, média estadual 4,3, 454 votos, nesta ordem: Saneamento, Saúde, Moradores de rua, Buracos nas ruas, Favelas, Corrupção, Coleta de lixo. Mas a oposição, usando, creio, o mesmo método de manipulação, marcou presença. Às 8h57 a situação estava assim: média Ubatuba 3,7, média estadual 4,3, 898 votos, na ordem Saúde, Corrupção, Buracos nas ruas, Saneamento, Coleta de lixo, Moradores de rua e Favelas.

O fim do dia 6 foi assim: às 20h51, empate nas médias local e estadual em 4,3, e espantosos 2.132 votos, na ordem Saúde, Saneamento, Corrupção, Buracos nas ruas, Coleta de lixo, Moradores de rua, Favelas. O dia começou com situação à frente, mas terminou com a liderança da oposição.

No dia 7, feriado, às 12h28, os 2.342 votos (média Ubatuba 4,4, no estado de SP 4,2) estavam nesta ordem: Saúde, Saneamento, Corrupção, Buracos nas ruas, Coleta de lixo, Moradores de rua, Favelas.
Às 17h47, o manipulador-mór tinha conseguido dois tentos: inverteu para Saneamento, Saúde, e para Moradores de rua, Coleta de Lixo, mediante o incremento de 73 votos, e melhorando a média de Ubatuba em 0,1 (para 4,5), enquanto que a média para o estado de SP manteve-se em 4,2.
Às 7h30 do dia 8, com incremento de 136 votos, passou Favelas à frente de Coleta de lixo e elevou a média Ubatuba para 4,6.

Apenas para comparação, no final da tarde do dia 8 as médias, número de votos e principal problema apontado para:
São Paulo - 2,5 - 16.891 - Transporte público (19,8%),
São José dos Campos - 8 - 577 - Transporte público (39,8%),
Taubaté - 1,2 - 386 - Corrupção (46,6%),
Caraguatatuba - 4,3 - 99 - Corrupção (29,6%),
São Sebastião - 7,1- 338 - Corrupção (15,4%),
e Ilhabela - 7,5 - 27 - Acessibilidade (23%).

Excluindo São Paulo, a soma dos votos desses municípios era 577+386+99+338+27 = 1.427, pouco mais da metade dos votos de Ubatuba.
No fechamento deste texto, 8/9/2012, 17h27, a situação era esta: média estadual 4,3, votos 84.032.
Ubatuba - média 4,7 - votos 2.602.
Saneamento 31,7%
Saúde 28,69%
Corrupção 21,67%
Buracos nas ruas 5,48%
Moradores de rua 3,78%
Favelas 3,2%
Coleta de lixo 2,7%
Saneamento, Saúde e Corrupção somam 82% dos votos.

Comparando a posição inicial, do dia 5 (Saneamento, Moradores de rua, Áreas verdes, Favelas, Saúde), com a atual, fica claro que o manipulador desistiu das Áreas verdes, para se concentrar em manter Saneamento em primeiro lugar, e na derrubada de Coleta de Lixo. Está difícil, mas talvez tente derrubar Buracos de rua e o detestável item Corrupção. Desbancar Saúde, entretanto, será quase impossível, porque, mesmo para um maníaco verdadeiro dos teclados, o número de votos é tão alto que seria uma tarefa muito fatigante. Só o tempo dirá.

Seja o seu dizer sim, sim, não, não. Para tentar impor uma imagem pública favorável, basta ter “por nós” algum moleque (porque esse tipo de manipulação é molecagem). Nem terá sido necessária qualquer ordem direta. É que a naniquice política é fonte de inspiração para a enorme turma e, infelizmente, para a turma adversária.

Já passou, há muito, o tempo de Ubatuba abandonar essas naniquices e trazer o embate político para um patamar civilizado, evitando os extremos. Molecagens, clima de guerra entre Executivo arrogante e Legislativo inútil, destemperos bacamartianos, obras irregulares ou desnecessárias, superficialidades, descaso com a situação fiscal do município: o rol de coisas a evitar é imenso.

O que Ubatuba precisa mesmo é de um político que seja fonte de inspiração criativa e produtiva, que proponha - e execute - políticas sérias e factíveis, que seja um orgulho para o município. Será que temos um candidato assim?

[texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 10/09/2012]
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