quinta-feira, 3 de maio de 2007

Estacionamento para deficiente físico

É monumental a falta de educação do assisense médio com os deficientes físicos, no que diz respeito às vagas de estacionamento exclusivas destinadas a esses. As vagas de estacionamento para deficientes não podem ser ocupadas por não-deficientes. É diferente do que acontece nos ônibus e metrôs, onde os assentos destinados a deficientes físicos, idosos, gestantes e lactantes podem ser ocupados por qualquer pessoa, quando não há no veículo os ocupantes preferenciais desses lugares. É que o veículo é um espaço fechado, onde há ou não há pessoas nas condições de ocupar preferencialmente aqueles assentos. Nas áreas de estacionamento, sejam públicas ou privadas, mesmo que todo o entorno esteja lotado de veículos estacionados, a vaga para deficientes precisa estar livre, para ser eventualmente ocupada exclusivamente por portadores de deficiência física. É falta de educação ocupá-la, fora das condições para a qual foi definida. Se isso acontece na via pública, além de falta de educação é também infração de trânsito, punível com multa e sujeita a medida administrativa de remoção do veículo. Se for em espaço privado, como é o caso, por exemplo, dos supermercados, não cabe multa, mas cabe determinar que o condutor remova o veículo do local.

Convenhamos que nada disso precisa ser a ferro e a fogo. Trata-se de um problema cultural, que precisa ser abordado pelo viés cultural e não, exceto em casos extremos, pelo viés da repressão. É preciso começar pela informação, incluir esse ítem nas campanhas de educação para o trânsito, orientar os motoristas inadvertidos, abrir um sorriso ao convidá-los a uma reflexão. Afinal, não se trata de adversários, mas de vizinhos, amigos, membros da comunidade.

De outra parte, cabe aos próprios deficientes físicos, seja através de ações pessoais, seja através das entidades nas quais se agregam, defender o direito à vaga de estacionamento exclusiva. Um bom começo é identificar claramente seu veículo como próprio para condução de deficientes físicos, com a exibição do símbolo universalizado. Isso elimina possíveis ambigüidades. O condutor não é, necessariamente, o próprio deficiente físico. Mas pode ser.

Outro ponto a considerar é que se trata de vagas designadas como sendo para deficientes físicos, mas, na verdade, o conceito pode ser ampliado, para conter as pessoas com mobilidade reduzida, em caráter permanente ou temporário. Em qualquer caso, é conveniente identificar apropriadamente o veículo, com o símbolo universalizado.

Há dois comportamentos que precisam ser evitados: o primeiro deles é fingir que o problema não existe. É dizer "Ah, não vi a placa, não vi a sinalização". É ser condescentente: "Ah, o estacionamento está lotado, aquela vaga fica sempre ociosa e o motorista estacionou ali para fazer uma coisa rapidinha". O outro, esse sim muito nocivo, é sinalizar uma vaga para deficientes físicos apenas para inglês ver. É achar que simplesmente colocar uma placa resolve o problema.
Estacionamento reservado para deficientes físicos invadido por motos
Vivemos um momento apropriado para chamar a atenção da comunidade para essa questão. É que acaba de ser inaugurado o supermecado Amigão, cujo projeto arquitetônico incluiu facilidades para os deficientes físicos, como vagas de estacionamento e rampas de acesso. Mas esse esforço poderá se perder, caso não o acompanhe uma ativa postura de orientação dos motoristas recalcitrantes. Não pode ser apenas mais uma atitude para inglês ver. É uma boa oportunidade para que o novo supermercado se integre à comunidade, não replicando seus equívocos e vícios, mas sim estimulando comportamentos desejáveis e arejando a visão provinciana que muitos de nós temos de nossa cidade. Uma empresa que pretende atender democraticamente a comunidade deve ter com esta uma relação que transcenda ao interesse puramente econômico, representado pelo lucro e pela geração de empregos. A relação deve ser de natureza ética, e com responsabilidade social. Tudo isso, é claro, com um sorriso igual ao do bigodudo simpático que encima o prédio.

Texto publicado no Diário de Assis nº 1.527, página 2 (05/05/2007)


9 comentários:

Elka Waideman disse...

Elcio, gostei do texto mas quero que você me explique uma coisa: não entendi o termo "assisence médio" que você usa. É referente a quem?
beijo beijo

Elcio Machado disse...

Elka, é uma correlação da aplicação, ao morador de Assis, do conceito jurídico de homo medius, o homem médio, que representa o comum das pessoas civilizadas, dotadas do tipo comum de sensibilidade ético-social, como dizia mestre Nelson Hungria: é aquele de quem se exige conduta de não-omissão do "dever de precaução ou diligência, a que se está adstrito, na medida ordinária, para não ocasionar a lesão de bens ou interesses alheios".
No caso, ao falar em "assisense médio" refiro-me ao comum das pessoas de Assis, nas quais ainda não se desenvolveu plenamente a necessária sensibilidade ético-social referente a alguns eventos da vida cotidiana.
É um exagero, claro. A maioria da população de Assis, avalio, respeita vagas de estacionamento para deficientes físicos e faixas de pedestre. Mas o punhado dos que não o fazem mancha o conceito da cidade. Por ser morador de Assis, posso falar isso de Assis. Mas não poderia fazê-lo quanto a Palmital ou Ribeirão Preto, por exemplo. Da mesma forma como Rita Lee fez gozações com São Paulo. Só pôde fazê-las por ser paulistana.
Será que consegui ser claro? Você sabe que tenho dificuldades com isso. :o)

Beijos

Anônimo disse...

Elcio, observando que você adota marcadores nas suas postagens, não faltam alguns deles em "Vaga para deficiente físico"?: cidadania, inclusão, autonomia. :o) Digo isso pensando no propósito da vaga 'demarcada' para deficientes físicos em estacionamentos, sejam públicos ou particulares, ou será implicância minha?
beijo

Elcio Machado disse...

Marlene,
Não é implicância. Marcadores, tags, palavras-chave, keywords, é tudo a mesma coisa. :o)
A questão é a que servem. Servem para refinar buscas. Para encontrar, mediante associação de duas ou mais palavras, alguma informação útil.
Já conversamos, um tanto, sobre a entropia na informação. Quanto mais informação, mais entropia, mais desorganização, até um ponto a partir do qual a informação, ainda que relevante, torna-se inútil, porque indiferenciável do "ruído de fundo", como se falava nas minhas áureas épocas de radioamador.
Então, não é implicância, é um cuidado válido, que procurarei adotar, lembrado-me sempre de que você é muito mais eficaz do que eu quando se trata de localizar informação, inclusive via São Google. Portanto, observando que faltou um tal ou qual marcador, avise-me. :o)
Beijo. Apaixonado.

Elka Waideman disse...

sim sim Elcio. foi muito claro, obrigada!
e continue postando!!
beijossssss

Tatiana Machado disse...

Muito bem, Elcio! Parabéns pelas publicações, aqui e nos jornais, mas sobretudo pelos exercícios de cidadania que você vem fazendo e que nos convidam ao exercício também.
Infelizmente esses problemas que você tem levantado não são apenas de Assis. O araraquarense médio também é assim. E posso me referir a ele porque sou de Araraquara. :-)
Não respeita vagas reservadas, nem as regras mais básicas de trânsito, como a ultrapassagem pela esquerda. O que fazer? Acho que você aponta muito bem em seu texto os caminhos possíveis, todos eles fundados na idéia do exercício da cidadania. Sejamos cidadãos! Ou cidadões, como disse certa vez um coordenador pedagógico de uma escola pública do município.

Bacio.

Anônimo disse...

rs... estou começando a achar que Assis e Araraquara tem mais em comum do que se desejaria, viu?... rs
E pensar que acompanhei esses texto e um dos disparadores deles, além das motivações que Tatiana menciona - o exercício da cidadania em si-, foi exatamente por não se verificar alguns desses mesmos desrespeitos em outras cidades (Marilia, Londrina, Santos, Curitiba....) de médio/grande porte por onde temos andado. Estarão as comunidades dessas outras cidades um passo a frente nesse exercício?
E o passo atrás, terá como um dos grandes corroboradores essa tal mentalidade provinciana?
beijo

Elcio Machado disse...

Pois é. Acho que me repito muito, sem efetivamente desenvolver a idéia. O penúltimo parágrafo do post "Assis está no Mapa da Violência" fala também sobre essa mentalidade provinciana: "Deixar para trás alguns confortáveis mitos provincianos, de cidade pequena, e assumir um lugar na História como cidade grande." Talvez valha a pena, dia destes, gastar algum tempo explicando esse ponto de vista.

Bem, alguma coisa aconteceu. A vaga de estacionamento invadida por motos, da foto que ilustra o post, estava ontem com sinalização de solo novinha em folha (o símbolo universal, fundo azul e o desenho da cadeira de rodas em branco) e, principalmente, livre de motos, inteiramente disponível para os deficientes físicos. Está de parabéns o supermercado, o mais tradicional da cidade.

Tatiana, dificilmente mudanças acontecem do dia para a noite, mas de vez em quando algum disparador acelera o processo. O caminho pela via cultural é sempre mais longo, mas os resultados são correspondentemente mais sólidos. Um começo interessante, todo mundo diz isso, é dar mais atenção à formação dos professores do ensino público -- e remunerá-los melhor.

Bacio

Marlene, é bom lembrar que nessas cidades mencionadas houve governantes com projetos modernizadores e de enfrentamento real dos problemas, bem como uma mídia de postura mais crítica. E, é inegável, o peso dos barões rurais é menor, pois o processo de industrialização diversificou o poder econômico, com reflexos no poder político. Não sei se é explicação suficiente. Mas é um esboço.

Beijo, beijo.

Anônimo disse...

Alguma coisa aconteceu sim... rápido e efetivamente. Melhor, alguma e mais uma. Vimos que agora, ao invés de uma, existem 2 vagas no lugar mencionado. Resta saber, como mencionou no seu texto, se além de demarcá-las com clareza, serão cuidadas, portando ultrapassar a barreira do ´para inglês ver´. Parabéns, Elcio!