domingo, 8 de agosto de 2010

Promessa de Serra, Ministério dos Deficientes


Serra, creio, teve um surto de paroxismo demagógico.
Quando prefeito de São Paulo - lembram-se? - mandou colocar uns pontiagudos obstáculos para que moradores de rua deixassem de enfeiar vias que tinham viadutos, sob os quais se abrigavam aquelas pessoas. Agora, plena campanha eleitoral presidencial, quer criar novo ministério. Falou o eugenista, com muita propriedade, numa APAE. Passou a mensagem: aberração deve ser tratada como aberração, segregada, cuidada à parte. Uma não-cidadania, um cuidado a ser tido como especial, que permita diferenciar os normais dos anormais. Um Ministério próprio, para discriminar ainda mais. Integrar? Ver como igual, como humano, aquele que tem presente em si a humanidade, mas que ostenta diferenças visíveis ou não? Nem pensar. Vamos criar um mundo à parte para os deficientes, mantendo-os segregados, à guisa de protegidos.
Não, e não. O Ministério dos deficientes, negros, índios, homens e mulheres, homossexuais, transexuais, pardos, travestis, é o Ministério da Educação, e esse já existe. Suas ramificações estaduais, as Secretarias da Educação, estão de dar dó, mas é nelas, no ensino fundamental, que começa a construção da cidadania. Duas décadas do partido de Serra no Estado de São Paulo foram pífios, quando se trata de educação. E agora, quer fazer ministério novo, para ensinar cidadania! É muita cara de pau, demagogia em excesso.
Lugar de criança é na escola, escola pública, com os ajustes e cuidados que forem necessários. Lugar de qualquer criança, deficiente ou não, que será depois adulta, deficiente ou não. Não há que esconder a deficiência, ou a diferença. Há que respeitá-las, há que aprender, no convívio, que pessoas humanas são humanas, acima de qualquer outra caracterização, e como tais, devem ser respeitadas, cuidadas, integradas à sociedade, e não, não e não, discriminadas e segregadas.
Bem, foi um desabafo, com a colaboração da Marlene.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá
em 1/8/2010

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