segunda-feira, 28 de julho de 2014

Yasmin, criança, morreu em Gaza, não em Ubatuba

Não foi só Yasmin, de quatro anos, não foram só as Yasmins, crianças, que morreram em Gaza. Sarah, Miriam e Elyas também morreram. De nome Muhammad, com idades entre dois e 15 anos, morreram 16, na contagem até o dia 21 de julho de 2014. Crianças com nome, sobrenome, com pais, irmãos, primos, tios e avós, alguns dos quais também mortos. Todos palestinos, da faixa de Gaza.

Seus nomes, contudo, não podem ser pronunciados publicamente em Israel, Estado Judeu “democrático” que não tem carta constitucional (apesar de ter 11 “Leis Básicas”) e que adota a censura, conforme descrito pelo OI - Observatório da Imprensa na sua edição 808. A Autoridade de Radiodifusão de Israel (IBA) baniu de sua programação um anúncio da ONG de direitos humanos B’Tselem por ser, segundo a rede estatal de rádio e TV, “politicamente controverso”. “O anúncio listava os nomes de algumas das crianças mortas em Gaza no mais recente conflito entre palestinos e israelenses, que teve início há pouco mais de duas semanas”, diz o OI.

Se uma bomba, ou uma banana de dinamite dessas que criminosos usam para explodir caixas eletrônicos, se uma dessas tivesse matado Yasmin, de quatro anos, aqui em Ubatuba, ficaríamos horrorizados, e, com justa indignação, clamaríamos por justiça, pela condenação dos terroristas responsáveis por tal ato. Mas e quando quem pratica o terrorismo é um Estado nacional, não laico mas sim religioso? Que tem alta tecnologia e artefatos bélicos de alta precisão mas que, como faz qualquer terrorista, não distingue alvos militares legítimos da população civil sob seu fogo?

O que dizer do fundamentalista radical religioso Hamas, uma organização que emprega métodos terroristas tais como lançar a esmo foguetes ruins de pontaria sobre áreas povoadas por civis israelenses? Seus integrantes são flor que se cheire? Ah, não, claramente não. Fazem uma aposta política que expõe à morte seus concidadãos, ao expor à morte civis dos cidadãos de Israel. Mas é sempre bom lembrar que quem mata é o assassino, quem puxa o gatilho, quem atira a bomba. Sem ele, o assassino, o crime não acontece.

Alvos militares legítimos
Israel tem o direito de se defender. Os palestinos têm o direito de se defender. Direito inquestionável, de qualquer indivíduo, nação, Estado nacional. Mas há limites e um deles é a proporcionalidade. Ao se defender, não pode pretender a asfixia, a extinção, o massacre, do povo agressor. Não pode atingir nada que não seja alvo militar legítimo. Direcionar mísseis para o complexo nuclear de Dimona, que produz material passível de se transformar em armas termonucleares, é uma coisa. Atingir, ou meramente se arriscar a atingir a esmo populações civis ao redor é outra coisa.

Faz muito bem Israel ao operar o Domo de Ferro, sistema antimísseis caro e só empregado quando algum foguete do Hamas se dirige para áreas povoadas. Mas na maioria dos casos, como a munição custa caro, simplesmente deixa passar os foguetes porque atingirão áreas desérticas ou despovoadas. Mas faz muito mal ao atingir a população civil de Gaza, com fogo aéreo, terrestre e naval (quando nave de guerra mata crianças numa praia – sim, Gaza tem praias, como aqui, em Ubatuba).

Quando a maioria das vítimas, mortos e feridos, é civil, há alguma coisa muito errada, algo moralmente indefensável. Quem atira contra escudos humanos é tão assassino e criminoso quanto quem usa esses escudos. Já teve brasileiro usado como escudo humano na Bósnia, em 1995, e deu certo, porque o alvo que ele protegia não foi atacado pela Otan. Trata-se do coronel, então capitão, Harley Alves, que atuava como observador militar da ONU. Melhor assim. Mas cabe lembrar outra grande vítima de qualquer guerra, a verdade. Não restou provado até agora que o Hamas usa escudos humanos nem que os palestinos tenham predileção por expor seus filhos à morte.

República Pentecostal do Brasil
Nosso nível brasileiro de civilização, no quesito Estado-Igreja, penso (e tenho o direito natural de pensar, e o direito constitucional de expressar meu pensamento sem censura), é um tanto melhor do que o dos Estados religiosos, porque somos um Estado laico, não religioso nem ateu. Ainda assim, sobre o mármore nobre do plenário do Supremo Tribunal Federal, há um crucifixo. Ainda assim, admitimos a existência de partidos religiosos (cristãos), o que abre portas para hipotéticos partidos cristãos radicais, muçulmanos radicais, ateus radicais. Partidos fundamentalistas já existem por aqui, repletos de pastores. Alguns sonham com uma república pentecostal do Brasil.
Yasmin

Alguns links (e uma dica)
Não sabe ler textos em hebraico? Nem eu. Uso o Google Translate, um quebra-galho que permite compreender o essencial. 
 Uma dica: é possível salvar na barra dos favoritos de seu navegador (uso o Firefox) um "Português" cujo script, que segue abaixo.
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Os nomes das criançaswww.youtube.com/watch?v=qcTbMOabFhg.

- texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 28/07/2014

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