sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Água da Sabesp vai faltar em Ubatuba?

A Marlene, minha mulher, me questionou, e não soube responder. Resolvi perguntar à Sabesp. E continuo não sabendo. A estatal tergiversou na resposta a essa pergunta.

A Sabesp dos CUIS (Caraguá, Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião) do Litoral Norte é diferente da que atende a Grande São Paulo. A daqui parece ser administrada por amadores, que não sabem reconhecer, entender nem informar dados técnicos. A de São Paulo, além de outras informações diariamente fornecidas aos portais nacionais e jornalões, explicita a situação dos mananciais.

Ubatuba corre risco de desabastecimento de água? Em vista da atual crise hídrica em São Paulo, devido à pior seca em 84 anos (segundo diz o governo estadual), a pergunta é de interesse público aqui nos CUIS, tão maltratados pelos sucessivos governos dos últimos 20 anos. Fiz, por e-mail, essa pergunta à Sabesp daqui, no dia 31/7/2014, nestes termos:

1 – Quais são os sistemas que abastecem Ubatuba de água potável? Em (grandes) números, quais suas vazões (entrega da água depois de tratada) mínima e máxima? Quantos habitantes (ou unidades consumidoras residenciais) são atendidos em cada sistema?
Resposta (uma semana depois, em 7/8/2014): “A Sabesp informa que os sistemas que abastecem Ubatuba são Carolina, Maranduba/Lagoinha, Itamambuca e Praia Vermelha I e II. Com relação às vazões, é importante ressaltar que há uma variação em virtude da sazonalidade decorrente da alta temporada e isso ocorre também no que se refere ao número de pessoas atendidas com água tratada, cujo número triplica durante o Verão.”
Réplica: Números, litros, centenas de litros, milhões de litros, zilhões de litros em cada sistema? Números, ao menos de unidades consumidoras residenciais, que não se alteram na temporada, são atendidos em cada sistema? Vazão mínima, a capacidade de captação, e máxima, a capacidade de tratamento?

2 – Qual é a capacidade máxima de captação e (se houver) reservação em cada um deles, considerando o regime modal de chuvas e o regime excepcional na seca como a atualmente registrada em todo o Estado de São Paulo?
Resposta: “No que diz respeito à captação e reservação, o abastecimento no Litoral Norte, incluindo Ubatuba, encontra-se normal e a Sabesp realiza diariamente o acompanhamento dos níveis dos mananciais. É importante ressaltar que não existem reservatórios (represas) nesta região. Os pontos de captação estão na Serra do Mar, em cotas elevadas, com pequenas barragens.”
Réplica: A pergunta já dizia “Se houver reservação”. Parece que não há, são “pequenas barragens”. Mas, qual, em números, a capacidade de captação? Números, litros, centenas de litros, milhões de litros, zilhões de litros em cada sistema?

3 – Considerando especificamente o sistema Carolina, como a seca dos últimos meses tem afetado o sistema? Existe alguma operação de redução do volume ou pressão entregue aos consumidores? Informo, a respeito, que na manhã de hoje (31/07/2014) observei, por volta das 6h30, pressão inusualmente baixa aqui em casa, no Perequê-Mirim, presente a notícia de que, em São Paulo, capital, a empresa passou a usar sistema de redução de pressão no fornecimento noturno de água.
Resposta: “A disponibilidade hídrica superficial depende fundamentalmente da precipitação (chuva), da capacidade de armazenamento da bacia. O território do Litoral Norte é influenciado justamente pela presença da Serra do Mar e por registrar precipitações médias anuais de cerca de 1.500 mm/ano. A situação normalizada dos mananciais se justifica pelas chuvas que vem ocorrendo, principalmente na serra, de onde vem a água que abastece a região.”
Réplica: Especificamente sobre o sistema Carolina, nada. Mas, ah, muito bem, um número, enfim. Só que médias anuais não valem neste momento. Fosse pelas médias anuais, a hidrovia Tietê-Paraná estaria navegável e o sistema Cantareira estaria abastecendo a Grande São Paulo sem sustos. Conhecido radialista daqui sempre dizia “E que venha sol”. Nos últimos meses, o povo fala “E que venha chuva”. Onde situação “normalizada”, números, por favor?
Sobre a pressão inusualmente baixa, sobre redução de pressão no fornecimento noturno de água, nenhuma palavra. Um “diálogo” verbal com um surdo?

4 – Considerando a variável sazonal do aumento da população flutuante no verão, qual a capacidade prevista para o sistema Carolina para os meses a partir de outubro de 2014?
Resposta: “Concluindo, a capacidade prevista de atendimento do sistema Carolina para a próxima temporada mantém-se como a do último Verão, quando Ubatuba teve número recorde de turistas atingindo pico de 1 milhão de pessoas.”
Réplica: Qual a capacidade prevista? Qual foi o número de litros fornecido de água quando o número recorde de turistas atingiu o pico de um milhão de pessoas? Números, por favor.

5 – Por final, existe alguma orientação específica para Ubatuba – afora as genéricas de uso racional e consciente da água veiculado pela propaganda institucional da empresa – quanto ao uso da água fornecida pela Sabesp?
Resposta: “A Sabesp faz a divulgação de mensagens institucionais sobre o uso racional da água, durante a temporada de verão em função do grande número de pessoas que vão para todo o litoral do Estado de São Paulo. Além disso, a Sabesp do Litoral Norte realiza desde 2008 o programa de educação ambiental, denominado Projeto Futurágua, com alunos do ensino fundamental de escolas de toda a região. Até o final do ano, a Companhia terá formado mais 1,6 mil multiplicadores mirins de preservação ambiental.”
RéplicaOra, ora, ora. A pergunta foi clara. “Afora”, noves fora, excluindo as mensagens institucionais, pagas pelos consumidores a emissoras de televisão, jornais e revistas, afora as genéricas, alguma orientação específica para Ubatuba?
Tréplica
Este espaço, claro, está aberto às tréplicas da Sabesp dos CUIS, que, na verdade, poderão ser as verdadeiras respostas técnicas às perguntas feitas originalmente, que permitirão a cada leitor cidadão elaborar sua própria resposta à grande questão de interesse público colocada e não respondida: Ubatuba corre risco de desabastecimento de água?

Reconheço falha na pergunta. Faltou indagar qual o consumo modal de água em Ubatuba, fora da temporada e na temporada (será que os engenheiros sabem, da estatística, o que significa “modal”)?

Uma semana para responder com generalidades? Descaso, falta de profissionalismo, má vontade, pura incompetência, surdez?

Demorar uma semana para responder, afora os vários e-mails enviados, além de telefonemas (que pagarei, no futuro, porque a conta ainda não veio, todas as ligações, das quais jamais houve retorno), o gerente local ter como local de trabalho prédio no Itaguá, e sua anunciada secretária trabalhar no prédio do centro da cidade? A chefe do Polo de Comunicação – RN116 não ter a menor autonomia, depois de 22 anos de carreira, para coletar informações e comunicar o básico? Há seriedade nisso?

O espaço está aberto à tréplica, ao gerente local de Ubatuba, Iberê Kuncevicius, e ao engenheiro regional dos CUIS, superintendente da Sabesp, José Bosco de Castro.

No presente momento, na condição de cidadão e usuário do serviço (no singular, porque coleta e tratamento de esgoto não existe aqui, no Perequê-Mirim, a pior praia em balneabilidade de Ubatuba) com um sorriso amarelo, como que ostentando um nariz de palhaço.
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* texto publicado originalmente na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 08/08/2014.

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