quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Câmara e OAB-Ubatuba: sessão de reconciliação

Site defasado da Câmara Municipal de Ubatuba. - Imagem: © Reprodução
(reprodução da tela)
Homenagens, homenagens e mais homenagens, geralmente pela via da moção de congratulações, esta é a especialidade da Câmara Municipal de Ubatuba. Abdicando reiteradamente de suas altas funções, relegando o funcionamento administrativo a plano inferior, às vezes aprovando projetos de vereadores por unanimidade mas também, pela (quase) mesma unanimidade aceitando o infalível veto a tais projetos do César municipal, o prefeito, a Câmara daqui, em sua última sessão, quase se superou. É que, tendo, como outros, dirigido duras palavras ao presidente da OAB de Ubatuba, Thiago Penha de Carvalho Ferreira, o vereador Rogério Frediani, que experimentou na pele do mandato para que serve um advogado, propôs uma moção de congratulações ao jovem causídico.

Contratar advogado tem custo financeiro, é para quem pode pagar. Citando o Rui Grilo, em sua matéria desta segunda-feira sobre "Parque Estadual da Serra do Mar - Herdeiros estão a ver navios", sobre reunião das comunidades tradicionais, herdeiros das terras desapropriadas para a constituição do Parque Estadual da Serra do Mar e do entorno e moradores das áreas congeladas e sem titulação, "só foram indenizados os grandes proprietários que puderam contar com grandes escritórios de advocacia." Pobre não tem com quem contar. Nem com Defensoria Pública, inexistente por aqui, exceto por convênio justamente com... justamente com a OAB: "A Defensoria Pública do Estado de São Paulo mantém um convênio com a Seccional São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP) para que nos locais onde não haja postos da Defensoria a população carente conte com assistência jurídica gratuita. Os advogados conveniados são previamente inscritos pela OAB/SP e remunerados pela Defensoria Pública por meio de certidões expedidas, conforme uma tabela de valores."

Como todo o jogo de cena, o circo, o dramalhão, que geralmente envolve tais moções, antes mesmo de sua aprovação providencia-se que sejam emolduradas, um belo quadro para ser entregue ao homenageado segundos depois da aprovação mais do que simbólica. Se algum dia uma moção de congratulações der de não ser aprovada, será como uma hecatombe, cataclismo, escatologia. Como essas coisas não acontecem, os homenageados são adredemente convidados e comparecem para presenciar a aprovação, "pela unanimidade dos senhores vereadores", de sua louvação. Alguns edis pedem a palavra para começar exatamente assim: "Está de parabéns o vereador tal, pela moção de congratulações". Antes mesmo de elogiar o congratulado, esses alguns, quase todos, começam elogiando o vereador proponente, porque fica feio escancaradamente pegar carona na homenagem para tirar uma casquinha de efeito eleitoreiro do evento.

Não foi diferente quanto à moção a "Thiago e equipe", que esteve presente acompanhado de membros de sua diretoria e funcionários da Subseção local que preside. O inexperiente político e jovem advogado, presidente da OAB local, foi achincalhado na sessão de 31/8/2010, por ter feito publicar, na mídia local, nota na qual defendia a necessidade de "realização de novas eleições da mesa diretora da Casa, para que não se coloque em risco o trabalho do Legislativo e, consequentemente, os interesses da sociedade.” Isso ocorreu ante o afastamento de diversos vereadores em decorrência de denúncia feita pelo Ministério Público sobre o processo eleitoral do Conselho de Defesa da Criança e do Adolescente, e recebida pelo Judiciário local. É que vários dos eleitos para a Mesa da Câmara tinham sido afastados, e um dos afastados era justamente o atual presidente da Mesa, o vereador Romerson, antigamente conhecido, e eleito com esse apelido, por Mico. Pá de lá, pá de cá, hoje afastado está membro do Ministério Público autor da denúncia, em procedimento de corregedoria de caráter sigiloso, escondido do olhar do público, da mesma forma como o processo em segredo de justiça contra os vereadores àquela época afastados.

Afastamento por afastamento, Rogério Frediani foi afastado duas vezes: junto com os demais denunciados, e depois, por palavras que proferiu da tribuna legislativa e que foram consideradas como ameaça ao curso do processo. Como é de praxe, é da regra do Judiciário, a manutenção de um afastamento decidido pelo juiz paroquial local pelo segundo grau de jurisdição, o Tribunal de Justiça, é a exceção. Detentores de mandatos populares só são afastados quando não tem mais jeito, quando o caso é por demais gritante, ou quando, depois de muito tempo, surge uma sentença condenatória definitiva, geralmente inócua para o fim de afastar o político de seu cargo. E assim, com o auxílio de advogados, esses operadores do Direito dos quais Thiago é representante em Ubatuba, que são mestres em apresentar recursos, recursos e recursivos recursos, Frediani obteve a cassação da medida liminar de afastamento. Por liminar entende-se aquilo que é anterior à decisão definitiva.

Desta vez Thiago ocupou a tribuna da Câmara, para agradecer. Mas não deixou de falar sobre sua mágoa, já pública devido a outra nota: a de não ter podido se comunicar, de expressar, sem se acovardar ou voltar atrás, de poder dar as explicações sobre o que o motivou a expressar-se publicamente sobre aquele específico momento político. Tem a ver, disse, com o que pretende para Ubatuba: a valorização do advogado como indispensável à administração da Justiça, nos termos da Constituição Federal. Aqui, revelou ascendem a mais de 240 os profissionais da Advocacia. Sem contar os que vêm de fora, causa maior, segundo Thiago, das inconsistências da profissão de vez em quando visíveis por aqui. A OAB local gostou da homenagem, tanto que publicou foto no seu facebook.

Não pôde se comunicar porque não lhe foi concedida regimental oportunidade: o então presidente, o geralmente gentil, bom moço, Ricardo Cortes, fez conveniente e literal interpretação do regimento interno da Câmara para dizer: "Em outra oportunidade". Na sessão de reconciliação, Cortes pediu desculpas, mas reconheceu que "não seria politicamente bom para nós" autorizar o pronunciamento do advogado naquele momento. Afinal, Cortes pediu desculpas ou não? Usou da matreirice política, para dizer mais ou menos isso: "Tá, peço desculpas, mas faria novamente." O que estava em jogo era pura política (politicagem), não o exercício de uma das funções parlamentares mais altas, a de parlamentar, conversar, ouvir a voz contrária.

Registro necessário: a ausência, na sessão de reconciliação, do vereador Mico - perdões, mil perdões, vereador Romerson -, o mais veemente na condenação a Thiago, na sessão de 31/8/2010. E o outro registro, muito necessário, é o de que, sai Mesa da Câmara, entra Mesa, a bagunça administrativa parece permanecer intacta. Basta ver o portal de internet, que custa dinheiro público a Ubatuba, a desorganização que está. Gostaria de ter comentado, na presente matéria, uma homenagem, sim, justa, a um nonagenário pescador aqui das antigas terras de Coaquira, mas ao consultar o registro de vídeos das sessões, descobri que o vídeo da sessão passada não foi publicado. Aguardei quase uma semana por isso. Desisti, e o texto sai sem o comentário quanto ao velho pescador. Em tempo: segundo o portal de internet da Câmara, consultado em 21/2/2011, o presidente da Mesa ainda é o vereador Cortes.

Há mais um registro necessário: o então presidente Ricardo Cortes conseguiu, de alguma forma, fazer o funcionalismo da Casa trabalhar, ao menos num particular caso: o do Regimento Interno, muito mais decente do que o "provisório" de 2007, até então disponível no portal de internet da Câmara.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 22/02/2011.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Excursionistas, Saulo Gil, não turistas


Elogiei Saulo Gil algumas vezes, e, como disse em agosto de 2010, "Mantenho minha opinião de que o Imprensa Livre é o único efetivo jornal que atende a cidade e que Saulo Gil é o único jornalista com a competência necessária para ouvir, com isenção, o outro lado, seja qual for". No entanto, creio que Saulo cometeu um escorregão, em sua matéria sobre o "astronômico" (palavra usada pelo secretário de Turismo do município) crescimento de escalas de navios de cruzeiro em Ubatuba, 611%, segundo dados da Abremar - Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos, que até o ano passado se chamava Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas. É que a matéria cita que "no período 2010/2011, Ubatuba recebeu 72.497 turistas vindos dos navios transatlânticos". Excursionistas, Saulo, não turistas.

Desde 1963, quando a ONU realizou uma conferência sobre turismo e viagens internacionais, há uma pacificação entre os operadores profissionais do ramo sobre terminologias: de que visitante (quem se desloca a um país ou cidade diferente daquele onde tem sua residência habitual, desde que não seja para exercer profissão remunerada) é um gênero do qual são espécies o turista e o excursionista. O turista é o visitante que permanece pelo menos 24 horas no local visitado, ou seja, pernoita, e cujo motivo da viagem seja lazer, negócios, congressos, seminários, visita a familiares. Ainda que admitida a genérica classificação "negócios", não se enquadra nessa classificação quem vai ao local para exercer diretamente profissão remunerada: o vendedor de varejo, o vendedor de temporada (acarajé, prato feito, "artesanato"-padrão, tatuagem de hena, canga e chapéu de praia, e etc. e etc.). E excursionista, o visitante temporário que permanece menos de 24 horas no local visitado, ou seja, não pernoita. Entre estes incluem-se os excursionistas dos ônibus de excursão, aqueles que "aportam" no terminal do Perequê-Açu, e os navios de cruzeiro, que "aportam" no inexistente porto transatlântico do Itaguá. Há quem, maldosamente, chame ambos de "pau-de-arara", reservando a explicação "flutuante" para os transatlânticos de cruzeiro de cabotagem.

Que o secretário de Turismo, que aparenta entender pouco do ramo, e que o prefeito Eduardo César, que gosta de praticar o marketing ufanista, falem em "turista" quando se trata de excursionista, ainda que não justificável, é compreensível. Mas o jornalista empregar o vocábulo técnico inadequado não é justificável, e só seria compreensível num contexto de cooptação, que não parece ser o caso.

"Se em Ubatuba, o mercado cresceu 611% na última temporada, em Ilhabela, o movimento de navios transatlânticos caiu 8,92%. Apesar de a diferença parecer significativa, o arquipélago ainda recebe quase o quádruplo de passageiros a mais do que Ubatuba.", diz a matéria de Saulo Gil. Vítima de sua própria análise da estatística considerada, foi obrigado a explicar que 600 e tanto por cento de pouco é pouca coisa. Mutatis mutandis, para usar o latinório encontradiço na seara da Segurança Pública, é o que diz o próprio manual de interpretação de dados estatísticos criminais da Secretaria dessa tal Segurança Pública, à época em que seu titular era nada menos que o atual e recente vítima de assalto secretário dos Transportes, outro Saulo, o Saulo de Castro Abreu Filho.

Diz o manual: "4) Cálculos de porcentagens e taxas com bases muito pequenas: uma porcentagem é uma relação que se estabelece entre uma das partes com relação ao todo, multiplicado por cem, e sua principal função é obter comparabilidade. É frequente encontrarmos manchetes alardeando aumentos elevados no percentual de crimes, que foram baseadas em números absolutos pequenos, transmitindo uma sensação de insegurança que nem sempre condiz com a realidade. Embora não seja obrigatória, uma regra de etiqueta estatística recomenda cautela no calculo percentual (literalmente, por cento) se a base for inferior a 100 casos e precaução redobrada com números absolutos inferiores a 30. Quanto maior a base, menores as oscilações percentuais. Também é errado manusear porcentagens como se fossem números absolutos e quando elas provêem de bases diferentes, não podem ser somadas ou promediadas."

Há a questão do custo para as embarcações: diz a matéria de Saulo que, "Segundo Colucci, em Ubatuba são cobrados R$ 2 mil enquanto na Ilha, por estar em um Porto Organizado, o valor é US$ 30 mil, sendo a maior parte em função da Praticagem". O que é Praticagem o Sidney Borges já explicou, ao responder a uma pergunta feita pelo Fernando Pedreira. E, nos comentários à postagem do Sidney, o leitor "Carlos. A.M." cita link para estudo da Abremar sobre os portos, mostrando pontos positivos e melhorias a realizar e mazelas a corrigir, nos piers de Ubatuba e Ilhabela, aquilo que ele cita como "A propaganda oficial, normalmente, "divulga o que é bom e esconde o que é ruim" ("ricuperando" uma frase antiga)."

Ainda sobre custos, Fernando Pedreira fala sobre as respostas que recebeu à sua pergunta, e que incluem interessantes observações sobre quantidade e qualidade.

Há mais a falar sobre navios. É bom lembrar que o "boom" de paradas de navios em Ubatuba começou por causa de problemas no interditado pier da Ilha Grande, no final de 2009. Mas, mesmo antes disso, Ilhabela, que tem capacidade para três navios simultaneamente em sua área de fundeio, discretamente apoiava o desvio de uma parte de sua cota de escalas para Ubatuba. É que, para Ilhabela, interessam os cruzeiros transatlânticos, navios que ficam dias fundeados, movimentando, em dólares e euros, a economia local, e não os mini-cruzeiros de cabotagem, que congestionam o pequeno espaço de circulação e fundeio da ilha sem retorno significativo em reais para a economia local.

Mas não foram só os navios que Ubatuba herdou devido ao desastre ocorrido em Angra entre os dias 30 de dezembro de 2009 e 1 de janeiro de 2010. Herdou também um evento chamado de "Super Verão", que, naquele fatídico verão de Angra, foi cancelado. Angra dos Reis tem uma Tribuna Livre, assim como a região tem o seu periódico em papel e virtual Imprensa Livre. E a Tribuna Livre de lá informou sobre o cancelamento. Para me repetir, "o super-hiper arrogante prefeito embarcou num empreendimento comercial de origem alienígena (isso não é crime), talvez encantado com o nome dado a ele: `Super Verão`".

Agora, na matéria do Saulo daqui, o prefeito de Ubatuba diz: "Quando iniciamos os trabalhos relativos aos navios, fomos vistos como sonhadores."

Continue sonhando, prefeito super-hiper arrogante, continue sonhando. E nós, ubatubenses, ficaremos a ver navios de cabotagem.

Por final, mencionei o outro Saulo, que é o ex-secretário da Segurança Pública, atual secretário de Transportes e Logística do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho. Sobre ele e as lambanças do tucanato na Segurança Pública, falarei oportunamente, em texto do qual já tenho, ao menos, o título: "Policiais, Saulo, não vigias".

- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 17/02/2011.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Em Ubatuba, pare de sofrer, faça jejum


Não se respeita mais nem igreja. Recentemente, foram furtados sinos de diversas igrejas da região de Taubaté (Taubaté, São Luiz do Paraitinga e Natividade da Serra, além de Santo Antônio do Pinhal). Alguns foram recuperados pela polícia e um deles, não muito grande mas importante para a comunidade da igreja de Santo Antônio do Pinhal, foi devolvido pelo próprio arrependido e penitente ladrão.

Agora, mostra o Luiz Moura, até cavaletes de propaganda irregulares precisam ser "ancorados", protegidos por cabos de aço fixados solidamente ao passeio público - público, público, público -, conhecido também como calçada para pedestres.

Bem, caro editor, pare de sofrer. Faça jejum, de valor nutricional zero. É o do sábado, dia zero de calorias, carboidratos, colesteróis, lipídios e glicídeos. O jejum do sábado é o das Causas Impossíveis. Quer causa mais impossível do que, em Ubatuba, fiscal cego livrar-se de cegueira e fiscalizar, e mais, fiscalizar igrejas? Afinal, aqui é a terra por excelência do slogan "Se Deus é por nós, quem será contra nós?". Talvez pudesse, no caso, ser outro o slogan, mais do estilo do marqueteiro Duda Kaiser, prefeito e kaiser de Bruzuntuba: "Se o super-hiper é por nós, quem será contra nós? Essa meia-dúzia?"

Quanto aos preços, meu caro, você acertou. Para entrar não custa nada. Mas para sair... Parece aquela piadinha de banco: para sentar na cadeira do atendimento, não custa nada, é "de grátis". Mas para levantar... Ou a piadinha do advogado, daquelas que o caro editor tanto gosta na seção Humor, "Consulta grátis". Consultar é grátis. Mas a resposta para a consulta... De qualquer forma, tratando-se de igrejas, tenha certeza de que por menos de 10% de seus rendimentos brutos mensais não sairá. Quanto a quem recebe, o templo de qualquer culto, está coberto por antiga legislação, com origens lá atrás, nas Ordenações Filipinas (ainda que mais restritivas), não precisa pagar imposto. Hoje não é apenas isento, é imune a impostos - ainda que não imune a taxas e contribuições, das quais, eventualmente, pode ser isentado. É que a Constituição assegura que é vedado ao Estado (União, Estados e municípios) instituir impostos sobre "templos de qualquer culto". Bem, isto é o que diz a Constituição. Os intérpretes, claro, vão além: "Ah, "templo" não é apenas o prédio, é a própria entidade religiosa que realiza o culto". Portanto, as igrejas são imunes a impostos.

Mas não a taxas. Se fazem algo (como, por exemplo, publicidade) que é taxado pelo ente público, precisará pagar a taxa. Nem tampouco a multas. Se faz o que não deveria fazer, sujeitando-se a multa, não é isento (e muito menos imune) a multas.

Enfim, caro Luiz Moura, melhor fazer o Jejum das Causas Impossíveis: fiscal cego livrar-se da cegueira e fiscalizar, quando se trata do ponto final do reto, reto alinhamento do Litoral Norte em direção ao Norte, os CUIS, Ubatuba. O bilhete do arrependido ladrão dizia: "Estou devolvendo o sino de Santo Antônio do Pinhal pois sou devoto. A fé faz as coisas impossíveis se tornarem possíveis."

Tenha fé.
E haja fé...

- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 15/02/2011
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Metendo a colher de pau na ACIU


Cheguei há pouco de fora, não sou comerciante nem industrial, mas moro em Ubatuba e tenho, acho, o direito de opinar e reclamar, que isto (reclamar) também é forma de participação, a despeito da autoritária afirmação do presidente da Associação Comercial e Industrial de Ubatuba - ACIU, Alfredo Corrêa Filho, aqui, em O Guaruçá: "[...] pois sem participação não cabe reclamação!!!". Vou meter a colher de pau no que está posto ao público, nas páginas da nossa oca eletrônica, este sirizinho que cumpre uma função ainda ausente nas demais mídias locais: o livre tráfego de ideias e opiniões, inclusive as contraditórias, o "sou a favor; sou contra; muito pelo contrário; não tenho opinião formada".

O foco, o cerne, a cena, o "Scene" da questão, é o hiper-"Super Verão" do super-hiper arrogante prefeito César de Ubatuba, Eduardo de Souza César, o "Dudu", que anda aprendendo rápido com o marketeiro Duda Kaizer, prefeito e Kaizer da cidade-irmã de Bruzuntuba. Inicialmente sem consultar ninguém, mas depois abrindo algum espaço para os artistas locais, o super-hiper arrogante prefeito embarcou num empreendimento comercial de origem alienígena (isso não é crime), talvez encantado com o nome dado a ele: "Super Verão". Algo próximo da Petrobras da época do ex-presidente Lula dando o nome de "Lula" ao campo petrolífero aqui pertinho da nossa orla, que muito nos interessa, especialmente se tivermos alguém disposto (e competente) para incluir Ubatuba no circuito dos CUIS com direito a benefícios (royalties ou compensações ambientais, ou o que seja) da exploração do pré-sal.

Creio que Ubatuba comporta quase tudo, desde que organizadamente. Comporta "Verão" no verão, shows bem direcionados na baixa temporada, "Inverno" no inverno, mais shows bem direcionados na outra baixa temporada, tradições culturais locais seculares, laicas e religiosas as mais diversas, incluindo a procissão que não houve por naniquice política, Folia de Reis, o ratambufe no Carnaval, uma pá de coisas. Desde que organizadamente, sem a cara de casa-de-mãe-joana que é hoje. Desde que organizadamente, ouvidos os interessados, o povo, a sociedade organizada, as associações de classe, sem kaiserianos rasgos autoritários. Respeitados também os direitos, especialmente os trabalhistas, que a esses são obrigados o ano todo, com temporada ou sem temporada, os empresários estabelecidos em Ubatuba, que geram emprego (e cumprem seus deveres, pagam impostos) o ano todo.

A César o que é de César, a Kaiser o que é do Kaiser, à ACIU o que é da ACIU, como o belo exemplo que pode ser visto aqui mesmo, na nossa revista eletrônica. A mídia cooptada faz muito bem o papel de amplificadora dos releases da Assessoria de Comunicação da Prefeitura, sempre enaltecendo o super-hiper arrogante prefeito. Não me parece necessário que a ACIU seja outro amplificador, especialmente quando o release incorpora juízo de valor, elogio rasgado, do tipo "Ressalte-se que a ACIU não se limitou a apenas informar, ela foi mais longe e emitiu sua opinião, por sinal elogiosa, sobre a situação!", conforme afirma Carlos (Scene).

O saudável disso tudo é o debate, a possibilidade de que opiniões contraditórias entre si encontrem um canal de veiculação, que Ubatuba se discuta, aprenda a se discutir, que pare com a postura de baba-ovo do César de plantão, postura que caracteriza a quase totalidade da mídia local e também a instituição legislativa do Município.
Cabe reclamação sim. O próprio ato de reclamar é participação.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 10/02/2011.

Turismo em Ribeirão Preto, quem diria


Esta revista eletrônica, O Guaruçá, de vez em quando publica o lixo que a direita assumida produz, como foi o caso, nesta segunda-feira, da verberação chula contra os professores, chamando-os os idiotas. O autor, Conde Loppeux de la Villanueva, é um reacionário hidrófobo, blogueiro da mídia golpista, como ele mesmo se reconhece. O editor da revista publica esses textos sempre na seção Opinião, que é o lugar adequado. Afinal, opinião é opinião, todos têm o direito de ter a sua. O problema é que, quando, de direita ou de esquerda, a opinião se fossiliza, nada há a fazer senão colocar no arquivo morto.

O editor da revista gosta de provocar, é certo. E publicou, na seção Arte e Cultura, sobre o lançamento do livro “Companhia de Reis de Ribeirão Preto: relatos de devoção e fé”.
Cada um se vira como pode: Ribeirão Preto, quem diria, é cidade turística, e importante. No centro do Estado de São Paulo, Ribeirão Preto, uma espécie de capital do que se convencionou chamar de Califórnia brasileira, é uma cidade de contrastes. Dona de um PIB per-capita ao redor de R$ 25 mil (2008) e IDH 0,855 (média Brasil 0,699), é uma cidade fortemente industrializada e com grande expressão de todo o ciclo da cana-de-açúcar. É também uma cidade muito violenta onde a pobreza e a miséria estão nos arredores da cidade. Tem um equipamento indispensável: um aeroporto estadual razoavelmente bom, que dá conta do tráfego aéreo. O tucanato andou investindo por lá.

Tem até uma Secretaria de Turismo, que se apresenta assim, na página oficial da Prefeitura: "A iniciativa de criar a Secretaria Municipal de Turismo, conforme Lei Complementar Nº 2.338/09, leva em conta a vocação do município, sobretudo para o Turismo de Negócios. Com a Secretaria do Turismo, Ribeirão Preto cria uma política pública voltada para esse segmento, que movimenta trilhões de dólares em todo o mundo e, no Brasil, não é diferente. É um setor que gera emprego, renda, capacitação e, mais que tudo isso, qualidade de vida.

Ribeirão Preto é considerada um dos principais pólos de turismo de negócios do país, tanto que foi escolhida pelo Ministério do Turismo, entre quatro cidades do Estado de São Paulo e outras 64 localidades de todo o Brasil, como indutora do desenvolvimento turístico regional. Ribeirão Preto tem, certamente, a sua joia da coroa do turismo. Não é em Ribeirão, é em Brodosqui, pertinho de lá, a Casa-Museu de Cândido Portinari. E, praticamente, só isso.

Você já foi a Ribeirão Preto fazer turismo? Conhece alguém que foi? Poizé. Nem eu. No entanto, é bem verdade que existe esse segmento, o "turismo" de negócios, aquela coisa de juntar o angu com o pirão e falar em "turismo". Veja-se o caso de Ubatuba, onde existe o verdadeiro turismo de negócios, que funciona mais ou menos assim: o cidadão vem para negócios, mas aproveita e curte, arranja tempo para lazer. Em 2004, um bando de nerds ligados em tecnologia aeroespacial despencou num hotel da praia das Toninhas, em Ubatuba, para um Colóquio de Dinâmica Orbital, onde foram apresentados 119 trabalhos científicos, alguns bem interessantes, segundo os que entendem do riscado. Dei uma lida em alguns resumos e confesso que entendi necas de pitibiribas, ainda que tenha entendido muito bem um certo trabalho que pregava o uso de motor de passo como freio. Isso mesmo: para abrir os painéis captadores da energia solar e sua conversão em eletricidade (os tais painéis solares), o método proposto foi um freio a motor de passo para evitar perturbações no posicionamento do satélite, reduzindo assim peso de combustível e, consequentemente, custo de lançamento. E mais alguém deve também ter se interessado, porque hoje em Ubatuba, na escola Tancredo Neves, prepara-se o lançamento de um satélite.

Nesse sentido, é bom, muito bom, que Ubatuba tenha um grande centro de convenções, e muitos outros menores. O que não é bom, nada bom, é que esse tipo de equipamento urbano seja custeado com o dinheiro público, com o seu, o meu, o nosso dinheiro entregue compulsoriamente à gestão pública. É coisa para empreendimentos particulares, que avaliem corretamente oportunidades, custos e perspectiva de retorno, de lucro, de grana a ser distribuída aos investidores. Se é útil, necessário, e há (ou pode ser provocada) demanda, o dinheiro público não precisa se apresentar para isso. Além do mais, os eventos realizados lá em Ribeirão Preto e aqui, em Ubatuba, aproveitam-se da infra-estrutura hoteleira particular, que oferece o salão de convenções, o sistema de alimentação, o sistema de hospedagem, as vagas de estacionamento, e tudo o mais que os turistas de negócios precisam. Entre centros de convenções, de eventos e parques de exposições, Ribeirão Preto tem 12 desses equipamentos, com capacidades que variam entre 380 e 5.000 pessoas. O Centro Taiwan, em seus quatro auditórios, comporta um total de 9.400 pessoas.

Há um pormenor do turismo de negócios de Ribeirão Preto que não precisamos ter aqui: a oferta, abundante, de "acompanhantes", "escort", "garotas de programa" requintadas: numa palavra, prostitutas. Na verdade, aqui há espaço para o turista de negócios e para toda a sua família, incluindo cônjuge, filhos, sogros, cunhados, cachorro, gato e papagaio.
Há outro pormenor: espaço urbano por excelência, Ribeirão Preto tem vários grandes shoppings, onde o turista urbano sente-se à vontade, em casa. Ubatuba não tem isso. Mas é bom falar baixinho, porque corre-se o risco de o prefeito super-hiper arrogante resolver que Ubatuba precisa de um bom shopping, e começar a pensar em torrar dinheiro público nisso. 

O presente comentário é a propósito da publicação, em O Guaruçá, da matéria "Folia de Reis é tema de livro", que, num dos parágrafos, diz que uma das autoras do livro pede à prefeita da cidade que crie um centro de cultura popular, justificando: “Além de ser uma iniciativa importante e uma antiga reivindicação de integrantes do setor das artes e manifestações culturais, enquanto política pública de cultura, voltada, sobretudo, à população mais humilde, o Centro de Cultura Popular ainda agregaria, e muito, ao turismo de Ribeirão”.

Tenho quase como certeza de que essa publicação sobre Ribeirão Preto, Folia de Reis e Turismo, foi uma provocação, no que ele é muito bom, do editor de O Guaruçá. E está muito certo.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 09/02/2011. 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Pois é, Ubatuba


Conheço pessoalmente o Julinho, não conheço nem remotamente o Ávila, nunca tinha ouvido falar do engenheiro Ortiz de Taubaté, e conheço, só pelos textos, o caiçara, 58, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, mas não pessoalmente, o Eduardo Souza, autor do desabafo desta sexta-feira, a propósito do não citado link da crítica-desabafo anterior do Julinho.

Caiçara apenas em construção, estrangeiro em uma cidade de meu próprio país que chegou há pouco de fora, ubatubense por morar e ter aqui meu título de eleitor, mas ubatubano jamais, porque jamais conhecerei o Bananinha nem conheço o Tião Banana, devo concordar e discordar do Eduardo Souza, que não é César. Concordar com tudo o que disse, com as bases de seus argumentos.

Concordar com os tempos bicudos de hoje no feudo do super-hiper e seus pasquineses vassalos, que "lembra os tempos da ditadura: Ubatuba ame-a ou deixe-a. Nunca antes na história deste município se viu tanta gente dizer que ama esta cidade, Julinho. Deve ser amor sexual. Você já viu alguma vez tanta gente assim fodendo Ubatuba como agora? Pobrezinha. Uma zona...".
Concordar que, "Na temporada de verão, os turistas vão aos shows porque já estão por aqui mesmo, porque vieram, não pelo evento, mas por causa das nossas ’famosas praias’. Choveu, fodeu, Julinho."

Mas também, e só parcialmente, devo discordar. "Ah, e esse “Show de Verão”? – Você poderia me perguntar – Não é atrativo turístico? Vamos admitir que seja. Mas queria ver esses shows no período da entressafra, quando a cidade não tem uma viva alma para sustentar o nosso comércio." Porque admito, sim, que o tal show de verão super-hiper seja atrativo turístico, para um importante segmento que gosta de "bate-estaca", como diz o Sidney Borges (que conheci pessoalmente), e que é o segmento de turistas do nível cultural do tipo "concurso de carros sonorizados com direito a um kit de pão com Marba, uma garrafa de 51 (ou Simba para os abstêmios) e tá tudo belê."

Explico. É que acho, sem fazer profunda reflexão, que Ubatuba comporta de tudo, desde o excursionista (como é o caso dos que desabam aqui vindos de ônibus ou dos transatlânticos que nos fazem ficar a ver navios) até o turista refinado, cheio da grana, que quer ver Mata Atlântica preservada e roteiros ecologicamente corretíssimos (desconfio que nem peidam nas trilhas). No meio-termo, há espaço para o pão-com-marba, para o turista infiel (que vem uma vez só e depois vai procurar outras novidades), para o turista fiel (que volta, a despeito de tudo), para o dono da casa de praia que mora em Sampa ou em Taubaté (lembrando sempre que somos o quintal atlântico de Taubaté e São José dos Campos) e que acha que sua praia (Santa Rita, Lázaro, Domingas Dias, várias outras repletas de constrangedoras cancelas) é sua, particular, onde turista não tem que meter o bedelho, nem pôr os pés.

Ubatuba comporta de tudo, desde que organizadamente. Ônibus de excursão (sem privilégios monopolistas a entidade municipal de classe), transatlânticos de excursão (sem supervalorização de seus excursionistas), marinas (sem a poluição e tráfego impróprio de tratores no meio das praias), hotéis e condomínios (especialmente os que não despejam esgoto na praia, como é o caso do Perequê-Mirim-Enseada). Mas não o que é hoje, a zona ("Você já viu alguma vez tanta gente assim fodendo Ubatuba como agora? Pobrezinha. Uma zona..."), a casa-de-mãe-joana, a que, "antes de ser turística, tem de ser uma ou a cidade". A que precisa de uma Câmara Municipal que exerça não a baixaria nem só as moções de congratulações, mas suas altas funções: de disciplinar com leis a atual casa-de-mãe-joana; de fiscalizar o Executivo, o prefeito, especialmente agora que se comprovam fraudes (IPTU e outras) e contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas. A cidade turística que precisa não de um tri-ex-vereador e bi-prefeito (porque reeleito) super-hiper arrogante, de uma política nanica que abortou ano passado a tradição de mais de 70 anos, a procissão que não houve, de São Pedro Pescador, mas sim de alguém que tenha "planejamento estratégico" que não seja piada, e de um projeto consistente para suportar alta e baixa temporada, sem perder de vista nossa vocação turística.

Precisa de uma porção de gente, a maioria de seus habitantes, que reconheça "e trate com importância a cultura de nossa terra caiçara".

É, pois é, Ubatuba.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 04/02/2011.

Ubatuba: é mesmo questão de educação


A concordar com José Ronaldo. Tudo é questão de educação. A falta dela resulta no lixo espalhado pelo canteiro central da rua. E, como tudo é questão de educação, é conveniente observar no cantinho esquerdo superior da foto publicada por ele um outro flagrante: obstáculo ao livre trânsito de pedestres. Um veículo pequeno estacionado sobre o passeio público (repetindo, público), entre o poste e o muro. 

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 31/01/2011.