quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Turismo em Ribeirão Preto, quem diria


Esta revista eletrônica, O Guaruçá, de vez em quando publica o lixo que a direita assumida produz, como foi o caso, nesta segunda-feira, da verberação chula contra os professores, chamando-os os idiotas. O autor, Conde Loppeux de la Villanueva, é um reacionário hidrófobo, blogueiro da mídia golpista, como ele mesmo se reconhece. O editor da revista publica esses textos sempre na seção Opinião, que é o lugar adequado. Afinal, opinião é opinião, todos têm o direito de ter a sua. O problema é que, quando, de direita ou de esquerda, a opinião se fossiliza, nada há a fazer senão colocar no arquivo morto.

O editor da revista gosta de provocar, é certo. E publicou, na seção Arte e Cultura, sobre o lançamento do livro “Companhia de Reis de Ribeirão Preto: relatos de devoção e fé”.
Cada um se vira como pode: Ribeirão Preto, quem diria, é cidade turística, e importante. No centro do Estado de São Paulo, Ribeirão Preto, uma espécie de capital do que se convencionou chamar de Califórnia brasileira, é uma cidade de contrastes. Dona de um PIB per-capita ao redor de R$ 25 mil (2008) e IDH 0,855 (média Brasil 0,699), é uma cidade fortemente industrializada e com grande expressão de todo o ciclo da cana-de-açúcar. É também uma cidade muito violenta onde a pobreza e a miséria estão nos arredores da cidade. Tem um equipamento indispensável: um aeroporto estadual razoavelmente bom, que dá conta do tráfego aéreo. O tucanato andou investindo por lá.

Tem até uma Secretaria de Turismo, que se apresenta assim, na página oficial da Prefeitura: "A iniciativa de criar a Secretaria Municipal de Turismo, conforme Lei Complementar Nº 2.338/09, leva em conta a vocação do município, sobretudo para o Turismo de Negócios. Com a Secretaria do Turismo, Ribeirão Preto cria uma política pública voltada para esse segmento, que movimenta trilhões de dólares em todo o mundo e, no Brasil, não é diferente. É um setor que gera emprego, renda, capacitação e, mais que tudo isso, qualidade de vida.

Ribeirão Preto é considerada um dos principais pólos de turismo de negócios do país, tanto que foi escolhida pelo Ministério do Turismo, entre quatro cidades do Estado de São Paulo e outras 64 localidades de todo o Brasil, como indutora do desenvolvimento turístico regional. Ribeirão Preto tem, certamente, a sua joia da coroa do turismo. Não é em Ribeirão, é em Brodosqui, pertinho de lá, a Casa-Museu de Cândido Portinari. E, praticamente, só isso.

Você já foi a Ribeirão Preto fazer turismo? Conhece alguém que foi? Poizé. Nem eu. No entanto, é bem verdade que existe esse segmento, o "turismo" de negócios, aquela coisa de juntar o angu com o pirão e falar em "turismo". Veja-se o caso de Ubatuba, onde existe o verdadeiro turismo de negócios, que funciona mais ou menos assim: o cidadão vem para negócios, mas aproveita e curte, arranja tempo para lazer. Em 2004, um bando de nerds ligados em tecnologia aeroespacial despencou num hotel da praia das Toninhas, em Ubatuba, para um Colóquio de Dinâmica Orbital, onde foram apresentados 119 trabalhos científicos, alguns bem interessantes, segundo os que entendem do riscado. Dei uma lida em alguns resumos e confesso que entendi necas de pitibiribas, ainda que tenha entendido muito bem um certo trabalho que pregava o uso de motor de passo como freio. Isso mesmo: para abrir os painéis captadores da energia solar e sua conversão em eletricidade (os tais painéis solares), o método proposto foi um freio a motor de passo para evitar perturbações no posicionamento do satélite, reduzindo assim peso de combustível e, consequentemente, custo de lançamento. E mais alguém deve também ter se interessado, porque hoje em Ubatuba, na escola Tancredo Neves, prepara-se o lançamento de um satélite.

Nesse sentido, é bom, muito bom, que Ubatuba tenha um grande centro de convenções, e muitos outros menores. O que não é bom, nada bom, é que esse tipo de equipamento urbano seja custeado com o dinheiro público, com o seu, o meu, o nosso dinheiro entregue compulsoriamente à gestão pública. É coisa para empreendimentos particulares, que avaliem corretamente oportunidades, custos e perspectiva de retorno, de lucro, de grana a ser distribuída aos investidores. Se é útil, necessário, e há (ou pode ser provocada) demanda, o dinheiro público não precisa se apresentar para isso. Além do mais, os eventos realizados lá em Ribeirão Preto e aqui, em Ubatuba, aproveitam-se da infra-estrutura hoteleira particular, que oferece o salão de convenções, o sistema de alimentação, o sistema de hospedagem, as vagas de estacionamento, e tudo o mais que os turistas de negócios precisam. Entre centros de convenções, de eventos e parques de exposições, Ribeirão Preto tem 12 desses equipamentos, com capacidades que variam entre 380 e 5.000 pessoas. O Centro Taiwan, em seus quatro auditórios, comporta um total de 9.400 pessoas.

Há um pormenor do turismo de negócios de Ribeirão Preto que não precisamos ter aqui: a oferta, abundante, de "acompanhantes", "escort", "garotas de programa" requintadas: numa palavra, prostitutas. Na verdade, aqui há espaço para o turista de negócios e para toda a sua família, incluindo cônjuge, filhos, sogros, cunhados, cachorro, gato e papagaio.
Há outro pormenor: espaço urbano por excelência, Ribeirão Preto tem vários grandes shoppings, onde o turista urbano sente-se à vontade, em casa. Ubatuba não tem isso. Mas é bom falar baixinho, porque corre-se o risco de o prefeito super-hiper arrogante resolver que Ubatuba precisa de um bom shopping, e começar a pensar em torrar dinheiro público nisso. 

O presente comentário é a propósito da publicação, em O Guaruçá, da matéria "Folia de Reis é tema de livro", que, num dos parágrafos, diz que uma das autoras do livro pede à prefeita da cidade que crie um centro de cultura popular, justificando: “Além de ser uma iniciativa importante e uma antiga reivindicação de integrantes do setor das artes e manifestações culturais, enquanto política pública de cultura, voltada, sobretudo, à população mais humilde, o Centro de Cultura Popular ainda agregaria, e muito, ao turismo de Ribeirão”.

Tenho quase como certeza de que essa publicação sobre Ribeirão Preto, Folia de Reis e Turismo, foi uma provocação, no que ele é muito bom, do editor de O Guaruçá. E está muito certo.

- texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 09/02/2011. 

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