quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Corredor Remendão Raposo Tavares - CRRT


Espertamente, a cobrança dos novos pedágios do Corredor Raposo Tavares -- que, aqui, chamarei de Corredor Remendão Raposo Tavares - CRRT -- começou quando do aumento de tráfego por conta das festividades de Natal-Ano Novo e das férias escolares. A cobrança foi precedida de um remendão geral nas rodovias integrantes do CRRT, feito pela concessionária CART (Concessionária Auto Raposo Tavares). De uma maneira geral, CRRT aproximadamente igual a CART.

No que consiste o remendão? As vias que compõem o sistema há muito estão com a base do piso das faixas de rolamento bastante degradadas. Afundamentos causados por veículos de carga mostram que a estabilização da base não foi bem feita, quando da construção das rodovias. "Panelas", como são chamados os buracos causados por vários fatores, mas principalmente por falhas da base e ação erosiva de águas pluviais, são frequentes em todo o sistema. Pouco adianta consertar o piso flexível das pistas, coisas do tipo "recapeamento pontual", se a base não for estabilizada. As operações tapa-buracos do DER, antes da concessão do sistema a uma empresa particular, sempre foram realizadas com periodicidade irregular, mirando os efeitos e, jamais, as causas. Efetuada a concessão, o que mudou? Nesse sentido, nada. A CART remendou o CRRT, maquiou os defeitos da pista, correu contra o tempo para colocar em operação os caça-níqueis das praças.

Nem são tão níqueis assim. Em valores da data-base de julho de 2008, valores máximos (tetos) de R$ 0,077078
(setenta e sete mil e setenta e oito milionésimos de Real) para rodovia de pista simples e de R$ 0,107910 (cento e sete mil, novecentos e dez milionésimos de Real), para rodovia de pista dupla, segundo o edital de licitação da concessão (http://www.artesp.sp.gov.br/audienciasPublicas_Raposo/arquivos/Anexo%2004_CORREDOR%20RAPOSO%20TAVARES.pdf).

Nunca trafeguei pela Turnpike, auto-estrada da Flórida, EUA, famosa por sua qualidade. Mas internet tem dessas coisas: alguém trafegou, conhece, relata. Tem no site do Azenha, http://www.viomundo.com.br/opiniao/os-pedagios/
e transcrevo um trechinho: "Fazendo a conversão, na New York Thruway, grosseiramente, o motorista paga 3,5 centavos de real por quilômetro rodado. Na Flórida Turnpike, 8,5 centavos de real por quilômetro rodado."

De qualquer forma, basta simples consulta ao Toll Calculator da concessionária da Turnpike (será que a CART tem algo semelhante, tem ao menos um site que seja mais informação e menos propaganda?), em http://www.floridasturnpike.com/TRI/index.htm

Escolhi o percurso abaixo, de aproximadamente 100 milhas, ou seja, 161,26 km:
From: M193 - Yeehaw Junction (SR 60)
To: M93 - Lake Worth (Lake Worth Rd.)
For a 2 axle vehicle to travel 100.20 miles
Toll with SunPass is $5.90
Toll with Cash is $7.50

Só fazer as contas, pelo dólar de hoje, 21/1/2010:
1,78700 * 7,50 = 13,4025
13,4025 / 161,256 = 0,0831131865

Portanto, pouco mais de 8 centavos de real por quilômetro rodado, de carro, se pagamento em dinheiro.

Aqui, no CRRT da CART, quase 11 centavos de real por quilômetro rodado, nove pedágios a cada entre 43 e 63 (média 49,3) km. Essa quilometragem inclui os acessos a cada uma das cidades (algo como "quilometragem bruta", mas você só percorrerá a "quilometragem líquida"). Você observou qualquer redução no custo do IPVA desde que começaram os pedágios concedidos? Falacioso, portanto, o argumento que diz "quem usa, paga". Você paga, usando ou não. E depois, se usar, paga novamente, e paga caro, muito caro. Então, você diria: ah, mas a rodovia agora é segura, está muito melhor. Está mesmo muito melhor? Melhorou algo na segurança, há catadióptricos de sinalização, guard-rails e sistemas anti-ofuscamento? Tem lá no edital de concessão mas, na prática, isso existe? Os SAU (Serviço de Atendimento ao Usuário) são feitos de containers pintados de branco, longe das pistas de rolamento. Compare com a Rodovia do Oeste (Castello Branco), onde os SAUs são à beira da rodovia. Mas poderiam ser a centenas de metros da pista, porque o edital só fala em distância mínima, e não máxima.

Regular, exercer a função de regulação, custa caro. Custa caro ao Estado manter uma agência reguladora, que regula distância mínima mas não máxima, que diz uma porção de coisas que devem ser feitas mas depois não fiscaliza. Claro, nós, usuários, podemos reclamar. Ao bispo. Ao bispo de Assis, coitado. Porque, se você quiser exercer cidadania, prepare-se para uma grande perda de tempo, já que a agência reguladora, a que custa caro, será pouco mais do que uma garota de recados das concessionárias, como, de resto, são todas as agências reguladoras formadas desde o grande marco da principal reguladora que só regula o que é de interesse das concessionárias, a ANATEL do Serjão, modelo de privatização de todo um mundo sob a visão FHC.


É bom mencionar que a CART é da Invepar, estrutura societária e de negócios formada pela construtora OAS, pela PREVI, e, mais recentemente, FUNCEF e PETROS. Uma grande construtora, três grandes fundos de pensão.

Há uma pergunta final. Todos sabem que é profundamente impopular a instituição de pedágios. Por que fazer isso às vésperas de importante eleição nacional? É só uma pergunta, claro. Mas há outra. De onde sairão os recursos financeiros das custosas eleições presidenciais que se aproximam? Ganha picolé (de Sechium edule, uma cucurbitácea conhecida por chuchu) quem conseguir responder.

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