sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Eduardo Souza, amigo que não consegui conquistar


Sou ubatubense, por morar aqui e ter adotado de coração esta cidade. Sou caiçara em construção, mas jamais serei ubatubano nem, jamais, caiçara pleno. Carrego outra história de vida, caipira, construída no interior de São Paulo. Mas fiz gosto em conhecer e me integrar a um minúsculo e seleto grupo de amigos daqui, dos quais posso citar dois: o Luiz Roberto de Moura e o Julinho Mendes. Mas cultivava a veleidade de ter ao menos mais um, e ainda espero conhecer melhor (e pessoalmente) mais uns três ou quatro.

No entanto, a vida segue inexorável rumo à morte, e esta roubou-me a possibilidade de conquistar e conhecer pessoalmente um amigo - que já assim o considerava - a quem já enderecei palavras, aqui pela nossa revista O Guaruçá: Eduardo Souza, que não era César. Há uns certos mistérios insondáveis quando se trata de empatia, especialmente com aqueles com quem concordamos muito e, ao mesmo tempo, discordamos muito. Ele, religioso, eu, ateu, discordaríamos de muitas coisas, posições políticas inclusive. Creio, sem ter certeza, de que já terçamos palavras aqui, em brincadeiras com a língua portuguesa em formato lusitano, ele usando malicioso pseudônimo. Quando a empatia pelo meio virtual se transforma em afeto solitário, não necessariamente correspondido, há forte desejo de um aperto de mãos, de olho no olho, de um abraço. Mas não houve tempo.

Não tive a oportunidade da primeira vez. Nem da última vez, e não saberia o que dizer, igualzinho às palavras que ele dedicou a seu amigo Toninho Xerife: "A última vez em que estive com ele, já estava de cama, com a doença que o levaria. Nesse dia, para me conter, e sem saber o que dizer (aliás, nessas horas, nunca soube), constrangido, brinquei..." A outro amigo, o Minoro, "Não mais a graxa no corpo e nas roupas, não mais a mecânica dos automóveis", e a quem dedicou versos de Manuel Bandeira:

"Mas agora não sinto a sua falta.
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se."

Também não sei, nessas horas nunca soube, o que dizer aos familiares e amigos dele, para tentar confortá-los pela imensa perda, que também sinto. Mas sei onde mitigar a saudade, lendo pequena parte de seu legado que deixou aqui. Onde falou sobre amizade. Onde, à falta da lembrança do corpo, que só agora conheci no velório, do que não morreu, ausentou-se, fica a indelével lembrança da alma, seja lá o que for isso.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá, em 05/10/2012
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