sábado, 27 de outubro de 2012

Ubatuba terá Museu e Bienal de Arte Contemporânea



Sem usar recursos financeiros públicos da Educação, Ubatuba terá um Museu de Arte Contemporânea, âncora para Bienais como as que existem em São Paulo. Foi o que garantiu Sérgio Caribé Santos (PMDB), empresário do setor de artes plásticas e vice-prefeito eleito na chapa de Maurício Moromizato (PT). Os planos de Caribé incluem exposições de artes plásticas e festivais de cinema e publicidade, articulados com as datas da Festa Internacional de Literatura de Paraty, a Flip, permitindo intercâmbio de qualificados turistas entre as duas cidades. O vice-prefeito eleito fez as afirmações quando do Encontro de Candidatos promovido por uma comissão que tem a pretensão de propor políticas culturais para Ubatuba.

Empresário de sucesso, Caribé tem em São Paulo conceituada galeria de arte e conhece os meandros do setor. Garante que Ubatuba tem o potencial para se tornar referência em arte contemporânea, em cinema e em produção publicitária. Ele se propõe a ser o condutor, no meio empresarial, da iniciativa para a instalação do museu, que também abrigará exposições de artistas locais. Os recursos para a construção do museu serão provenientes da iniciativa privada e de estatais, através de doações e também mediante a utilização da Lei Rouanet (que permite às empresas e particulares deduzir parte a pagar do Imposto de Renda, deslocando o dinheiro para iniciativas culturais), disse. Instituições financeiras, grandes empresas e estatais como, por exemplo, a Petrobras, fazem isso rotineiramente, beneficiando atividades culturais diversas mediante patrocínio (em parte subsidiado pela Lei Rouanet) e se beneficiando através da projeção publicitária de suas marcas.

Segundo Caribé, Paraty demonstrou, na prática, como é possível ter políticas orientadas para segmentos importantes, valorizando as potencialidades turísticas e indo além delas. Acrescentou que é possível articular esse fato com iniciativas aqui em Ubatuba, para intercâmbio, aproveitando o que já é sucesso na cidade vizinha ao norte e expandindo as opções dessa privilegiada região.

Caribé disse que o Museu de Arte Contemporânea de Ubatuba fará homenagem a Ciccillo Matarazzo, grande industrial que foi prefeito de Ubatuba para o mandato de 1964 a 1969, mas cuja projeção nacional deu-se por ter sido o mecenas que impulsionou em sua época as artes plásticas. Foi o fundador, em 1946, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) e deu início, em 1951, à Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Em vista da importância do empreendimento e das características históricas e culturais de Ubatuba, o projeto arquitetônico do museu, segundo Caribé, será confiado ao vencedor de um concurso para o qual espera a participação de renomados arquitetos da atualidade. Ainda não há estimativa precisa dos custos, mas será empreendimento da ordem de milhões de reais, talvez uma dezena.

Centro do Professorado Smurfão "Teatro"
Já me criticaram por não ter dó da minha quase meia dúzia de leitores: alguns de meus textos são quilométricos. Ocorre que às vezes isso é inevitável. Então, vamos lá. Uma observação necessária: escrevi o presente texto confiando na minha claudicante memória e depois de um rápido contato telefônico, terça-feira, com o vice-prefeito eleito, para confirmar alguns detalhes essenciais. Tentei obter o registro da participação - não sei ao certo se em áudio ou vídeo - dos candidatos no encontro promovido por uma certa "Comissão Municipal de Cultura" formada no apagar das luzes da gestão eduardiana, mas acabei informado de que tal registro é um material da Comissão, "que será de uso exclusivo dela. Decidimos, junto aos candidatos, que só publicaremos após a eleição para que se evite o uso político ou a manipulação das falas com fins ’eleitoreiros’." Pois bem, a eleição já ocorreu mas até agora nada foi publicado. Como foi dito pela "comissão" que o material seria disponibilizado aos candidatos, tentei outra via, há quase duas semanas, com o prefeito eleito Maurício, que nada tinha recebido mas ficou de confirmar com seus assessores ligados à área cultural, e depois não deu retorno algum. Tentei diretamente com um de seus assessores, mas, novamente, nenhum retorno. Então, o jeito foi usar a memória pré-Alzheimer e, no caso da presente matéria, um rápido telefonema a Caribé - que atendeu prontamente e sem nenhuma desculpa de encaminhamento a assessorias.

Soa muito esquisito uma Comissão que se declara democrática tentar tutelar (para não dizer censurar) o registro de seu evento, "para evitar manipulação das falas com fins eleitoreiros". Pressupõe manipulação e pressupõe fins eleitoreiros: pressupõe má-fé. Talvez tenha sido esse o ambiente de criação da Comissão, no bojo do projeto do governo federal de dotar os municípios de mecanismos que os integrem ao Sistema Nacional de Cultura, cujos primeiros passos (nacionais) foram há mais de ano, setembro de 2011. Petrópolis examina o tema desde novembro de 2009. Mas só em agosto, nesse melancólico e triste apagar das já fracas luzes da gestão eduardiana, é que foi criada a tal comissão, pelo autodenominado "Povo da Cultura". Como em qualquer lugar, há os povos, especialmente nas redes sociais, especialmente no Facebook. O "Povo da Cultura" (dessa Comissão) daqui tem um grupo fechado, no Facebook, ao qual só têm acesso os membros autorizados. Durante curto período, fui autorizado, mas depois, sem aviso prévio (nem posterior), a autorização foi cassada, talvez pelo meu não comparecimento, até agora, às reuniões das quartas-feiras (mas haverá uma quarta-feira, quando houver convite público a toda a população). Até a cassação, nenhum material do Encontro de Candidatos havia sido divulgado.

Creio que em ambientes assim fechados que foi gestado, por exemplo, o Smurfão, hoje fato consumado: ninguém (ao menos nos próximos muitos anos) irá demoli-lo. Chamado reiteradamente de "Teatro Municipal" pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura (e também pelo candidato de 17,99), é um "Centro do Professorado". Inveja? Caraguatatuba tem um Teatro Municipal, com tê e eme maiúsculos. Aqui, oficialmente, o Smurfão, devido à origem dos recursos, é administrado pela Secretaria Municipal de Educação. Na verdade, quem cuida da agenda (em sentido absolutamente estrito, as datas já reservadas) é uma funcionária dessa secretaria, Sílvia. Mas quem decide a verdadeira agenda é diretamente o gabinete do prefeito, leia-se Clingel Frota, sem passar pelo figurante (*)secretário de Educação, Arnaldo da Silva Alves. Nenhum dos dois, Clíngel e o secretário, pôde atender reiterados telefonemas (e recados) ao longo de duas semanas, pois estavam "em reunião". É mais um exemplo da política nanica de Eduardo César, que tem horror em prestar informações que não sejam através dos ufanistas releases. Outro exemplo da naniquice política é que, construído sem consulta pública, sem ouvir a sociedade (exceto, talvez, o "Povo da Cultura"), sem informações orçamentárias precisas (quanto custou?), nem se sabe ainda ao certo se está pronto, se continua embargado pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, se já tem alvará dos Bombeiros. E mais: quem foi o autor do projeto da excrescência arquitetônica e desrespeitosa com o contexto urbano histórico de Ubatuba, do que agora se tenta batizar como "Teatro Municipal", o caixote inadequado para a praça onde está?

A naniquice política foi mais além, pelo uso de recursos que fazem falta em escolas caindo aos pedaços - vale a pena ver a foto postada por José Ronaldo dos Santos da Escola Aurelina, "aparência desagradável e maltratada" (com apoio de Maria Cruz -, fazem falta para algo básico, remuneração decente para os professores, para a implementação de leis aprovadas e não executadas, como denunciou a professora Valéria Zoli, na tribuna popular da sessão da Câmara Municipal do dia 9 deste mês, quando chegou a dizer que "Palavras voam ao vento, papéis documentaram, mas... nada". Educação de qualidade para nossos jovens sem aperfeiçoamento profissional de nossos professores? Só políticas nanicas podem pretender isso, comprometendo mais do que o presente, comprometendo a esperança de futuro melhor depositada num precioso bem, os nossos jovens.

Há, contudo, o fato consumado. O próprio então candidato Moromizato, dirigindo-se diretamente ao coordenador do Encontro de Candidatos, Fernando Moreno (da Comissão de Cultura), referiu-se ao Centro do Professorado de Ubatuba como um fato consumado para dizer que agora é o caso de ver como utilizá-lo. Mas já está sendo utilizado, na verdade, como numa certa mágica de Oz. Assim, até "Terça-feira insana" houve, mas em fim de semana, outra mágica. Ambos os eventos foram divulgados pela Assessoria de Comunicação da Prefeitura, releases reproduzidos sem crítica pelos jornalecos locais e pela mídia regional também coonestadora dessas coisas (G1 Vale, Imprensa Livre). Ambos os eventos foram sucesso, bilheteria toda vendida, um segmento da população está realmente ávido por esse tipo de espetáculo, sem atentar para o balcão de negócios que está virando. Falta saber se alguma taxa de uso foi recolhida aos cofres municipais, sob qual regime e rubrica contábil, já que transparência jamais foi o forte da gestão eduardiana - e nem, ao que parece, do "Povo da Cultura".

Falando em balcão, em meu último acesso autorizado ao grupo do Facebook fechado do "Povo da Cultura", estava sob análise um plano municipal de cultura de Petrópolis (RJ), cuja explanação exordial diz:

"Realizada em novembro de 2009, a I Conferência Municipal de Cultura de Petrópolis, marcou um novo período na política cultural do município: anteriormente, a exemplo do que ocorria em muitas outras cidades, Petrópolis mantinha uma prática pautada no atendimento das demandas dos grupos culturais e do próprio governo e sociedade por eventos, basicamente convidando atrações externas. Este modelo, em alguns casos, trazia resultados imediatos de visibilidade para a cidade - mas atendia e satisfazia apenas poucos artistas e produtores locais. Era a chamada ’política de balcão’, que no geral, oferecia péssimos resultados, no que tange à continuidade."

Mudança, como disse Maurício, é ajustar o foco para mérito e capacidade e não para experiência. Vale especialmente quando "experiência" carrega consigo um contexto não transparente. E mudança precisa substituir balcão por política, não política nanica nem qualquer uma qualquer política, mas sim por política pública, publicamente discutida.

(*) O figurante de agora já cantou de galo. É o mesmo que teve desplante de ir à Câmara, ocupar a tribuna popular e passar pito nos vereadores, acompanhado de grande número de diretores de escolas, para um passa-moleque no vereador que ousou fazer críticas à sua pasta.


- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá, em 26/10/2012

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