domingo, 28 de dezembro de 2014

Autor de Ubatuba Cobra é sepultado na capital

Arquivo UbaWeb 
Marcos de Barros Leopoldo Guerra, blogueiro e jornalista de Ubatuba, foi sepultado dia 25, no cemitério São Paulo, em Pinheiros, na capital paulista, em cerimônia fúnebre restrita a familiares.

Marcos Guerra morreu na noite do dia 23, em sua casa, no bairro do Tenório, vítima de assassinato. Segundo as primeiras informações, divulgadas por O Globo e, pouco depois, pela TV Vanguarda e pelo site G1, Guerra foi atingido por três tiros, disparados por um dos dois ocupantes de uma motocicleta vista saindo do local logo depois dos estampidos. Há divergência entre as matérias, sobre o horário da morte.

Solteiro, de 51 anos de idade, morava com o pai, advogado de 85 anos de idade. Uma empregada doméstica também estava na casa no momento do crime. Guerra declarava-se empresário na área de consultoria tributária e, apesar de seus sólidos conhecimentos na área do Direito, não era advogado. Desde 2 de março de 2011 mantinha o blog Ubatuba Cobra, além de perfis em redes sociais e um blog da Associação Transparência Ubatuba, cuja direção assumiu em 30 de janeiro de 2011.

Marcos Guerra morou em Ubatuba nos seus últimos 13 anos de vida e escreveu para nossa revista eletrônica O Guaruçá, de 4 de janeiro de 2007 a 27 de fevereiro de 2011 na seção E-mails à redação, e de 18 de março de 2009 a 27 de fevereiro de 2011 como colunista.

Em seus textos, muito ácidos e críticos, exprimia fortemente sua opinião e fazia denúncias, com linguajar geralmente agressivo, o que lhe valeu desafetos e inimizades. Chegou a ser processado por crimes contra a honra e recebeu ameaças anônimas de morte.

O assassinato de Marcos Guerra teve repercussão imediata na mídia internacional, ainda que com equívocos, como foi o caso do portal dojornal português Público Porto, cuja matéria sobre o blogueiro foi ilustrada com a foto de um ex-vereador de Ubatuba, em um primeiro momento elogiado, mas depois frequentemente criticado por Guerra. O portal manteve a foto equivocada, provavelmente obtida na edição de 29/12/2011 do blog do próprio Guerra, até a manhã do dia 26.

Políticos, especialmente os prefeitos Eduardo César e Maurício Moromizato, vereadores, especialmente o ex-vereador Gerson Biguá, que perdeu o mandato em razão de denúncia feita por Guerra, provedores, diretores e funcionários graduados da Santa Casa de Ubatuba eram alvos frequentes de seus textos mais ácidos, assim como promotores de Justiça e juízes de Direito. O blogueiro propôs diversas ações civis públicas e deu origem a procedimentos judiciais ao provocar o Ministério Público, e administrativos, junto ao Tribunal de Contas do Estado.

A polícia civil já investiga o caso, apesar de estar em regime de plantão, devido a feriado, ponto facultativo e fim de semana. Nos plantões, há pessoal de outras cidades, como Taubaté, que estão em Ubatuba devido à Operação Verão. Uma das linhas de investigação é a possibilidade de vingança em razão dos textos de Guerra, que nem sempre primavam pelo equilíbrio.

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* texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 28/12/2014.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

`Muié´ peituda nas areias de Ubatuba

Desconfio que seja uma loira de cabelos encaracolados, da magnífica série que só um artista de múltiplas expressões pode produzir. 


* texto publicado originalmente na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 19/11/2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Chegou a Ubatuba mais um chato, o Emboaba

Responde pelo nome de Antero Emboaba o mais novo chato de Ubatuba. Chegou há pouco de fora e já está causando. Aqui, nas páginas da nossa revista eletrônica, O Guaruçá, como explicitou em sua primeira postagem. “Um amigo deu o endereço de O Guaruçá como espaço que poderia acolher o meu recado”, escreveu. 

Emboaba, todos sabem, é palavra de origem tupi, a língua geral. M´boaba, ou algo parecido, era como os indígenas designavam as aves que tinham penas ou penugens nas canelas e, mesmo, nos pés. Tivemos aqui, no pé do Funhanhado, onde ultimamente têm voado penas, algumas galinhas (que botavam ovos azuis) e um galo com esse perfil. Ora, os portugueses usavam botas de couro cru, com pelos, que os indígenas logo associaram às pernas emplumadas das aves.

De alguma forma, os bandeirantes paulistas se apropriaram do vocábulo e passaram a designar de emboabas (cabe a forma plural, pois não se trata de nenhum povo indígena) os forasteiros portugueses e nordestinos que com eles passaram a disputar as regiões auríferas de Minas Gerais. Virou guerra, a Guerra dos Emboabas, na qual os paulistas levaram uma coça, em 1708, e contabilizaram mais de 300 assassinados no Capão da Traição (entre as hoje cidades de São João Del-Rei, Tiradentes e Coronel Xavier Chaves), perto do rio das Mortes, quando já tinham se rendido. A Coroa Portuguesa tratou de intervir e regulamentou na região a exploração do ouro, de olho no farto imposto que poderia cobrar, o famoso quinto, não importava de quem. Os emboabas ficaram com a província aurífera de Minas Gerais e os bandeirantes foram para Goiás e Mato Grosso, onde também lavraram ouro.

De qualquer forma, os bandeirantes paulistas se apropriaram do vocábulo sem perceber que eles próprios eram emboabas (forasteiros) nas terras indígenas.
Aqui, em Ubatuba, temos caiçaras e emboabas e caraíbas, sejam os que nasceram aqui, os turistas, os migrantes, os aposentados, os aventureiros, os paraquedistas, os moradores de rua. Afinal, dizem “os donos do pudê”, Ubatuba é acolhedora por natureza. Alguns que aqui chegam (ou já moram, ou nasceram aqui) querem levar vantagem, no tradicional jeitinho brasileiro. Outros querem contribuir, no mínimo com sua criteriosa opinião, para melhorar a geleia geral em que Ubatuba se transformou. Os primeiros fazem questão de confundir o público com o privado, tentando (e muitas vezes conseguindo) se apropriar privadamente do que é público. Os outros, em geral, são chamados de chatos.

Seja, portanto, Emboaba Antero, bem-vindo à revista O Guaruçá, onde têm voz e expressão os chatos, mas também, de vez em quando, quando querem, ainda que meio envergonhados, os primeiros acima referidos. Trata-se de um espaço aberto, no qual o editor é de direita mas acolhe opiniões de centro e de esquerda. Um espaço democrático, enfim.

Uma observação
Emboaba, no sentido (de forasteiro) que deram à palavra os bandeirantes, não é a mesma coisa que caraíba, que era como os povos falantes da língua geral tupi-guarani se referiam não apenas aos europeus em geral, mas também aos indígenas falantes da língua gê, em remota referência ao grupo indígena caraíba, ou caribes, cuja ocupação territorial tinha início nas ilhas do Mar do Caribe e se estendeu para o sul do continente. Emboaba, assim, seria espécie de que caraíba seria gênero.



* texto publicado originalmente na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 10/11/2014. 

Ubatuba votou novamente no PSDB

Os eleitores de Ubatuba votaram maciçamente no PSDB, na eleição de domingo. Dos 62.527 inscritos (cinco a mais do que no primeiro turno), compareceram 46.589 (74,51%), o que significa elevado percentual de abstenção, 25,49, maior do que o nacional, que foi de 21,10.

Para presidente, Aécio Neves, do PSDB, teve aqui 67,79% dos votos válidos, contra 32,21% dados a Dilma, do PT. Aécio ficou com pouco mais de dois de cada três votos dos candidatos que não chegaram ao segundo turno, o que permite dizer que o tucano teve dois terços dos votos dos eleitores de Marina Silva. Em percentuais, segundo turno contra primeiro, Aécio 67,79 - 49,57 = 18,22, e Dilma 32,21 - 24,28 = 7,93.

Irmã votou novamente em Dilma
A cidade irmã de Ubatuba em Minas Gerais, Ladainha, votou novamente em Dilma, como tinha feito em 2010.

Um em cada três (34,50%) dos 12.207 eleitores inscritos em Ladainha (MG) não compareceu às urnas, abstenção muito maior que a média nacional. É possível que muitos deles tenham preenchido aqui o formulário de justificativa eleitoral.

Dilma teve lá 64,81% dos votos, e Aécio, 35,19%.

* texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 27/10/2014.

Ubatuba votou no PSDB

Rua Prof. Thomas Galhardo
Os eleitores de Ubatuba votaram maciçamente no PSDB, nas cinco eleições de domingo. Dos 62.522 inscritos, compareceram 47.147 (75,41%), o que significa elevado percentual de abstenção, 25,59, bem maior do que o nacional, que foi de 19,39.

Para presidente, Aécio Neves, do PSDB, teve aqui 49,57% dos votos válidos, contra 24,28% dados a Dilma, do PT, e 22,44% a Marina Silva. Todos os demais candidatos, somados, tiveram votação muito menor do que os votos em branco (3,81%) e os nulos (3,99%). Vale destacar a quarta colocada, Luciana Genro, do PSOL, que teve 524 votos, 1,21% do total.

Para governador, os votos de Ubatuba foram para Alckmin, do PSDB (70,15%), Padilha, do PT (16,67 %) e Skaf, do PMDB (11,34%).

Para senador, 69,63% dos eleitores de Ubatuba votaram em José Serra, do PSDB. Suplicy, do PT, teve 23,70%, e Kassab, do PSD, 3,68%.

Deputado federal
Para deputado federal, o mais votado foi do PSDB, Bruno Covas, que teve 3.025 votos, 7,73%. Colado, com 7,49%, Celso Russomano, do obscuro PRB. Samuel Moreira (forte no Litoral Sul), do PSDB, teve 6,47% dos votos daqui, algo surpreendente. Tiririca (PR) levou 5,05% dos votos de Ubatuba e Pedro Tuzino Leite, hoje no PTB (ex-PT, ex-PSDB), 4,78%. Ricardo Trípoli (PSDB) teve 4,19% dos votos, ainda que não se saiba qual, exatamente, o motivo. E o infeliciano ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, o pastor Marco Feliciano, do PSC, levou 3,62% dos votos de Ubatuba (1.417 votos).

Amélia Naomi teve 932 votos (2,38%) aqui, de um total de 77.831 votos em todo o Estado, ocupando, no momento (há votos sub-judice de candidatos impugnados que poderão alterar os quocientes eleitoral e partidário), a segunda suplência de seu partido, o PT. Amélia assinou com o candidato (candidatura impugnada) a deputado estadual Marco Aurélio o panfleto de propaganda eleitoral do PT “Compromisso com Ubatuba”.

Dos 504 candidatos a deputado federal que tiveram votos aqui, 57 tiveram mais de 100, e 447 entre um e dez votos.

Deputado estadual
Para deputado estadual, os mais votados também foram do PSDB, Antonio Carlos Júnior (7.013 votos, 18,6%) e Fernando Capez (3.068, 8,14%), seguidos por Gil Lancaster (1.628, 4,32%), do DEM (coligado com o PSDB) e Trípoli, do PV (1.346, 3,57%). Ana do Carmo foi a mais votada do PT, com 1.306 votos (3,46%).

Dos 594 candidatos que receberam ao menos um voto em Ubatuba, 42 tiveram mais de cem. Mas a soma de votos em branco e nulos foi de 10,03 + 9,99 = 20,02%, mais do que o candidato mais votado, que teve 18,60% dos votos válidos. Com mais de 100 votos houve 42 candidatos.
O cidadão ubatubense Marco Aurélio, do PT, cuja candidatura a deputado estadual foi impugnada e se encontra na lista do TSE “Indeferido/cassado com recurso” teve 44.617 em todo o Estado, mas ainda não é possível saber quantos, em Ubatuba.

Ubatuba tucana
Tucanos, as aves, são raros por aqui. Vê-se um ou outro nos morros, sobre as matas, mas raramente passeiam pelas áreas urbanas. Mas, pelo que restou confirmado nas eleições, há muitos tucanos por aqui, por convicção, conveniência ou falta de opção. Ubatuba sempre teve histórico de rejeição ao PT. A eleição de Maurício Moromizato a prefeito, em 2012, foi um espasmo, não por opção, mas pela falta dela. Se, em 2016, Moromizato conseguir se reeleger, o dilema estará novamente colocado, porque nenhuma nova liderança emergiu com força suficiente para ser alternativa viável, e as antigas dificilmente terão novamente espaço na política local.

Dados do TSE
Os dados desta matéria foram obtidos pelo programa “Divulga”, gratuito, que pode ser obtido no site do TSE, ou online.


* texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 06/10/2014.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Cidadão de Ubatuba na Lei da Ficha Limpa

Um dos declarados 15 mil panfletos com propaganda eleitoral de cinco candidatos do PT, destinados especificamente ao nosso município (“Compromisso com Ubatuba”), que inclui o candidato a deputado estadual Marco Aurélio de Souza, veio parar aqui em casa, no pé do Funhanhado. O panfleto, em papel não reciclado, a cinco cores, afirma que o parlamentar, que disputa reeleição, é Cidadão Ubatubense. É verdade. Foi agraciado com o título pela unanimidade dos vereadores presentes à sessão da Câmara Municipal realizada em 17 de setembro de 2013, projeto de decreto legislativo 9/13 de autoria do vereador Manuel Marques, do PT, mesmo partido do parlamentar.

O cidadão ubatubense tem sua candidatura questionada pelo Ministério Público Eleitoral com base na Lei de Inelegibilidades, de 1990, com as modificações introduzidas pela lei da Ficha Limpa (junho de 2010). Notícia antiga, de um mês atrás. Diz Julio Codazzi, no portal do jornal O Vale, de São José dos Campos, que “Marco Aurélio foi enquadrado pela PRE (Procuradoria Regional Eleitoral) na Lei da Ficha Limpa porque teve contas rejeitadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) em 2001 e 2006, quando era prefeito de Jacareí”. E que, em “nota enviada pela assessoria de imprensa, o deputado informou que irá recorrer para (sic) o TSE e alegou que o TRE está 'excessivamente rigoroso'”. Continua: “Segundo o petista, a condenação tem relação com o Consórcio Três Rios, entidade que tinha ligação com diversas cidades – entre elas Jacareí – e que era presidida nesses anos pelo então prefeito. O deputado disse que o erro foi cometido pelo então gerente administrativo da entidade e que, em 2010, a Justiça Eleitoral também analisou essa questão e deferiu sua candidatura.” Conclui: “O petista alegou ainda que 'confia na reversão da decisão, pois sempre pautou suas ações pelo rigor legal, ético e moral'”.

Agora é notícia mais nova. O Tribunal Superior Eleitoral acaba de proferir decisão contrária ao candidato, a despeito de estarem a seu serviço, no Recurso Ordinário Nº 72569 que tramita no TSE, oito advogados, alguns de renome, a começar por Hélio Freitas de Carvalho da Silveira, que já atuou em assessoria jurídica a Marta Suplicy, Aloizio Mercadante e José Genoino, como noticia a internet. Outro é o advogado Marcelo Santiago Andrade, autor do livro jurídico “Ação de impugnação de mandato eletivo”. Outro ainda é o advogado especialista em Direito Eleitoral Fernando Gaspar Neisser. Ao menos do ponto de vista da qualidade dos patronos da causa, está amplamente assegurado o amplo direito de defesa preconizado pelo Estado Democrático de Direito. Contudo, a ministra do TSE Maria Thereza de Assis Moura negou seguimento ao recurso. A íntegra da decisão pode ser encontrada no site do TSE, Acompanhamento Processual da Justiça Eleitoral – TSE e Push. É necessário ter (ou fazer) cadastro, gratuito.

Claro, e por causa desse tão amplo direito de defesa, cabem recursos, muitos, todos e mais alguns, antes do manto dourado da coisa julgada, o trânsito em julgado, coisa para as calendas gregas. Até que sejam julgados todos esses recursos, seguirá candidato, caso eleito será diplomado e, diplomado, tomará posse.

A lei? Ora, a lei. Nas eleições de 2010 não vigorava a Lei da Ficha Limpa. Então, se, conforme a nota do parlamentar, “a Justiça Eleitoral também analisou essa questão e deferiu sua candidatura”, o contexto agora é outro. Não é mais necessário o manto dourado da coisa julgada, do trânsito em julgado. Basta decisão proferida por um colegiado (judicial ou administrativo). Se judicial, que contenha reconhecimento, cumulativo, de requisitos, entre os quais de dano ao erário, de enriquecimento ilícito, de dolo na conduta. Mas persiste, é claro, no mais retrógrado dos Poderes da República, o mecanismo protelatório dos recursos sucessivos.

Ética e Moral
A ética é uma reflexão sobre a moral, uma sistematização científica do conhecimento, que admite teorias. A moral está mais na base, na relação direta do indivíduo com as práticas do dia-a-dia.
Diz o parlamentar, em nota, que “sempre pautou suas ações pelo rigor legal, ético e moral”. Ele é membro efetivo do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Rigor legal não necessariamente, tanto que contas de sua responsabilidade foram rejeitadas por questões legais. Além do mais, nem tudo o que é lícito é honesto, uma das bases do princípio da moralidade administrativa.

Ex-prefeito de Jacareí e aliado do atual prefeito de Ubatuba, Maurício Moromizato, Marco Aurélio manteve o odontólogo como seu “assessor parlamentar” de desde o primeiro semestre de 2011 a fevereiro 2012. O próprio site do deputado registra a fala de Moromizato: “Eu me senti muito feliz e honrado em ter ajudado o mandato do deputado Marco Aurélio, que exerce a política com ética e muito empenho e com quem eu aprendi bastante”. Não achei no portal da “transparência” da Alesp os salários pagos aos assessores parlamentares, mas assumo, de memória das notícias da época, que era algo ao redor de uns quatro mil reais por mês. Essa passagem rendeu a Moromizato incômodos apelidos, pela associação à figura do funcionário fantasma, que recebe salário mas nunca é visto no local de trabalho. Quando se trata de funcionário público, a associação é com o que esta revista, jocosamente, chama de “tetas do pudê”.

Pessoalmente, acho, penso, tenho o direito de pensar, que a questão é mais prosaica. Profissional de sucesso, consultório odontológico cheio, não precisaria de $ extra por ser assessor de p.n. de um deputado. Mas havia um diretório de partido a sustentar, aluguel, contas de telefone, água, luz... Para mim, penso, tenho esse direito, não é moralmente defensável receber proventos sem comprovar (nem exatamente o trabalho, mas o tempo dedicado a ele) por jornada de trabalho que aqueles sujeitos ao ponto, mecânico ou eletrônico, precisam cumprir religiosamente, sob pena de descontos e, até, da configuração de falta grave. Mas a sede da moral é o indivíduo, e o que é imoral para mim pode não ser para todos os demais membros da humanidade. Ou vice-versa. No entanto, ilegal realmente não é.

O que nos leva à questão do rigor. O rigor ético é de caráter científico, com suas várias instâncias e métodos de comprovação e demonstração. O rigor moral é de outra ordem, sabe que nem tudo o que é legal é moralmente defensável. E há o rigor da lei e dos tribunais. Quando a nota do parlamentar diz que o TRE está “excessivamente rigoroso”, quer dizer o quê? Dirá agora que o TSE também usa o rigor em excesso? Rigor admite o tempero da adjetivação “mais” ou “menos”, lembrando que a nota do parlamentar fala que ele se pauta apenas pelo rigor?

O outro lado
Tentei falar com o deputado Marco Aurélio, mas o máximo a que cheguei foi falar com sua assessora de imprensa, que alegou dificuldades de agenda do candidato e limitou-se a enviar uma nota. Tentei também falar com o prefeito Moromizato, há tempos inacessível, sem sucesso.
O que mesmo?
“... com quem eu aprendi bastante”.


*Texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 02/10/2014

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Perequê-Mirim, em Ubatuba, praia boa mesmo

Disse José Ronaldo dos Santos que a praia do Perequê-Mirim era uma “boa praia até meados da década de 1980”. Comento isso, e advirto minha meia-dúzia de leitores: o texto é longo, exaustivo.

Maurício Moromizato me ensinou, em um puxão de orelha público, que, quando há bandeira vermelha da Cetesp, não é a praia que está poluída, é a água do mar que está imprópria para o banho. Mas, penso cá comigo, praia não é só a faixa de areia. É a faixa de areia banhada por água. Se a água está poluída, a praia não está hígida... De qualquer forma, no linguajar do povo e da mídia, consagrou-se a expressão “praia poluída”. E a do Perequê-Mirim, nos últimos anos, é a mais poluída de Ubatuba, mais ainda do que a famigerada praia sul do Itaguá, que é apenas a mais famosa. Trata-se de uma praia pequena, de águas mansas, no Saco do Perequê-Mirim, Enseada do Flamengo. Não é praia para a agitação dos surfistas, calma e bucólica que é. Se fosse de boa balneabilidade, seria ideal para famílias com crianças e idosos, como já foi no passado. Até um pequeno quiosque funcionava.

O que aconteceu com ela? Quais as causas? Foi vítima da política nanica que persiste em Ubatuba, bem como o descaso daqueles que elegemos como nossos representantes, estaduais e federais inclusos mas, principalmente, os locais, prefeitos e vereadores – inclusos os atuais. É nanica porque se baseia em disputas políticas menores por poder, por não visar ao bem comum.

Desde logo, é necessário registrar o falecimento do grandioso Programa Onda Limpa, do Governo de São Paulo, do PSDB, com recursos estimados em R$ 500 milhões para os CUIS do Litoral Norte (Caraguá, Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião). As obras seriam executadas com recursos próprios da Sabesp, da Jica Japan International Cooperation Agency e do e BNDES. Outros R$ 1,4 bilhão seriam destinados à Baixada Santista, entre Bertioga e Peruíbe, passando por Santos-São Vicente-Cubatão-Praia Grande e todos os outros municípios de lá. Os investimentos totais, desde 2007, hoje estariam a beirar R$ 2,1 bilhões. Mas não foi o suficiente para melhorar a qualidade das praias. Ninguém sabe, ninguém viu, a Sabesp parou de falar no assunto, mas várias obras foram executadas na Baixada Santista e algumas poucas nos CUIS. Até as placas sobre o programa, nas margens da rodovia Rio-Santos, neste trecho chamada de rodovia Rodovia Doutor Manoel Hipólito do Rego, apodreceram e desaparecem nos últimos cinco anos.

Se não faleceu, ao menos teve uma síncope (delíquio, como diria Jânio Quadros) da qual não se recuperou. Foram instaladas redes coletoras aqui no bairro, que ligam nada a lugar nenhum. Depois de anos enterradas, sem qualquer uso nem manutenção, se algum dia vierem a ser usadas precisarão ser refeitas. Quando? O prefeito Maurício Moromizato disse que a Sabesp tinha ido a ele, mas que ele ainda não tinha ido à Sabesp. Se foi, esqueceu-se de contar, de usar sua assessoria formal e informal de comunicação a serviço do bem comum, do povo – ah, a naniquice política...

Sem coleta e tratamento decente de esgoto, não há como ter onda limpa. Não tem como despoluir a praia – opa! despoluir a água do mar que bate na praia.

Há um outro programa estadual que data de 2007 e que também patina, por falta de recursos (parte viria do BID) e falta de vontade política de enfrentar os donos das casas de alto padrão existentes nas cotas altas dos morros, nas áreas de preservação ambiental: o Programa Serra do Mar, que pretendia reassentar famílias moradoras de áreas do parque da Serra do Mar, inclusive nos CUIS. Deveria ter sido concluído em 2013. Enquanto isso, a ocupação nas cotas altas dos sertões (são três) do Perequê-Mirim continua e prospera.

José Ronaldo dos Santos
Já citei José Ronaldo dos Santos várias vezes neste espaço democrático que é O Guaruçá. Em 2011, março ainda, falei que há pessoas em Ubatuba que não conheço pessoalmente, mas gostaria de conhecer. José Ronaldo é uma delas, e reitero: gostaria de ter esse prazer. Talvez num singelo café da manhã aqui no nosso Cantinho, com um visual bonito e, quem sabe, com uma sinfonia estridente. Dalgas Frish, um estudioso sem títulos acadêmicos, jura que são os machos, mas os caiçaras antigos daqui dizem que tanto macho como fêmea ensinam o canto tribal aos filhotes. Fato é que a sinfonia estridente dos sabiás e das sabiás vai desde a madrugada até bem depois que o sol nasce.

Neste final de madrugada de terça-feira, Marlene acordou irritada (de mentirinha) por causa do privilegiado gogó de um (ou uma) sabiá cantando bem pertinho da janela do quarto. Sabiás e outras umas quarenta espécies de pássaros, muitas das quais fotografadas aqui pela Marlene, uns 60 ou 90 ou mais indivíduos, é impossível saber, são um encanto à parte neste nosso Cantinho. Que está à venda (com a Marlene, que também tem um apartamento para alugar nas temporadas). Seguimos curtindo enquanto podemos. Mas a falta de assistência médica (e somos dois velhos com problemas específicos que o precaríssimo sistema de saúde de Ubatuba não dá conta de atender) nos obriga a abandonar Ubatuba, um paraíso ainda a construir.

Reclamões
Os políticos daqui não são chorões. Talvez mamem, e muito, mas não em benefício do povo.
Estamos aqui, no pé do Funhanhado, na época dos reclamões. E, como quem não chora não mama, quem pia mais ganha mais comida. Os reclamões são os filhotes de saíras, tiês, sabiás, sanhaços e de várias outras espécies. Trata-se da fase em que os pais levam os filhotes até os comedouros – temos alguns, aqui no nosso Cantinho, abastecidos com muitas bananas, alguns mamões e poucas laranjas, seguindo a ordem de preferência de nossos emplumados e barulhentos visitantes. Só que os bandidinhos ainda querem comida no biquinho, serão vários dias até que percebam que não precisam dos pais para bicarem eles próprios as frutas disponíveis.

O Perequê-Mirim – e, de resto, Ubatuba – não é um reclamão. Aceita o descaso municipal, estadual e federal com mineira resignação. Aceita o descaso de condomínios que esvaziam suas fossas poluindo a praia – opa! o mar, não a praia – pela rota pedestre citada pelo José Ronaldo. Esse povo dos condomínios não é bobinho. Faz a descarga do esgoto em alguns finais de semana, no final da tarde, na troca de turno da PM Ambiental. Já reclamei, denunciei, mas... O esgoto, de cheiro pútrido, continua correndo a céu aberto pela rota terrestre Caminhos de Anchieta, citada pelo José Ronaldo, até atingir a praia e o mar pelo pequeno córrego na ponta norte da praia.

Queijo com banana verde
O Julinho, tenho certeza, gosta dos mineiros, mas não se sente confortável quando mostram tendência de não respeitar a cultura caiçara. Registrou em belo texto a indignação do pai dele com coletores de mariscos que, calçando botas sete-léguas, usavam enxadas como ferramentas numa das muitas e belas costeiras do nosso litoral, que citei em outubro de 2010.

Nada contra os mineiros, nada mesmo. Gosto muito deles, antes de virmos para cá cogitávamos em nos mudar para a região da Canastra, a terra dos sonhos. Mas aqui em Ubatuba já temos o suficiente, não podemos abrigar mais. É que Ubatuba precisa se desenvolver, mas não pode crescer. Cada mineira que vem para cá em pouco tempo forma família e passa a ter um herdeiro. Dois, três, uma grande capacidade de gerar lindos bebês saudáveis. Mas que isso não vire preconceito nem xenofobia. Não são só mineiros que aportam aqui, eu mesmo sou um caipira do interior de São Paulo. E boa parte não apenas do crescimento mas também do desenvolvimento de Ubatuba é mérito de mineiros trabalhadores e empreendedores. Quando o Perequê-Mirim era ainda mais carente de quase tudo, o mineiro Tio Elias abriu um mercadinho e instituiu a caderneta de fiado, que quando cheguei aqui a mim negou. É que eram tempos incertos, estava para ser inaugurado um grande supermercado de uma rede com sede em São José dos Campos. Continuo sem a caderneta, o supermercado se consolidou e o mercadinho do Tio Elias, hoje gerido por seus filhos, continua firme e forte, progredindo. Não tem muita variedade, mas tem o básico (e um pequeno açougue muito melhor e mais limpo do que o do grande concorrente). A caderneta, na verdade, não me faz falta, porque o mercadinho aceita cartão de crédito.

O Perequê-Mirim já foi um bairro de caiçaras, neles incluídos os oriundos de Tarba e que tão bem absorveram a cultura local que são facilmente confundidos com os nascidos nestas terras de Coaquira.

Ainda é um bairro relativamente tranquilo, não se ouve falar de furtos, de homem batendo em mulher, de estupro, nem mesmo de assédio em via pública. É constrangedor reconhecer que, talvez, seja porque é um bairro que tem dono que também não deixa o crack vicejar por aqui.

Cetesb
Sobre balneabilidade das praias. Peço à minha meia dúzia de leitores (os que tiveram a paciência de chegar até aqui), leitores, não se assustem. O site demora mesmo para abrir. Se tiverem paciência, há no site links com as séries históricas, que comprovam que a praia do Perequê-Mirim é mesmo a mais poluída de Ubatuba.


* texto publicado originalmente na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 25/08/2014.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Água, segredo de Estado em Ubatuba

A ordem do governador Geraldo Alckmin é de que só ele e o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, engenheiro Mauro Arce, podem falar sobre abastecimento de água.

Ante tão peremptória ordem, é difícil aos agentes públicos da gestão da água potável não sentirem muito receio de falar qualquer coisa sobre os sistemas que operam.

Pode ser que, afinal, o engenheiro José Bosco de Castro, superintendente da Sabesp nos CUIS do Litoral Norte, não tenha agido com descaso ou incompetência quanto a reconhecer e entender dados técnicos. É que um manto de segredo cobre a gestão da água no Estado de São Paulo.

Consegui, enfim, falar com o engenheiro Bosco, que estava de férias (outro segredo, ninguém tinha me informado disso) e que confirmou o teor da resposta. O espaço continua aberto à sua tréplica.

É um trocadilho ruim, mas em Ubatuba, na gestão da água potável, o que não podemos ter é crise de liquidez. Mal comparando, qualquer um que já tenha visto de perto o funcionamento do mercado financeiro ou acompanhado tendências da economia sabe que uma situação deficitária, quando se torna crônica, aponta para a morte econômica de qualquer pessoa, física ou jurídica, e mesmo de estados nacionais. E sabe também que quando a crise é de liquidez (a Argentina e seus calotes estão agora no foco da mídia) o caso é de morte súbita, mesmo que o patrimônio seja grande.

Funciona aproximadamente assim: mesmo que seja um fio de água, mas contínuo, vamos tocando, aqui em Ubatuba. Uma chuvinha por semana, mesmo que de uns poucos milímetros, vai nos garantindo, nosso consumo não é lá muito grande, e porque captamos água em cotas altas dos mananciais da Serra do Mar, com minúsculas barragens só para manter submersos os dutos de captação.

Grandes volumes de chuvas, ao contrário, são prejudiciais, porque sujam as barragenzinhas de captação, com risco de entupimento dos filtros diretos da estação de tratamento. Como a água fornecida precisa estar dentro de parâmetros específicos quanto à turbidez, a solução é fechar a estação de tratamento até que a sujeira (barro) em excesso escoe.

Parece que a Sabesp não quer ser mais flagrada de calças curtas (falei ligeiramente sobre isso, em 2013), pois quer licitar um sistema de floculação que amenizará muito o problema da sujeira na captação, evitando o fechamento total da estação de tratamento quando das grandes chuvas.
De qualquer forma, números, ah, os números, talvez só depois das eleições. Até lá, há que observar o fluxo que sai das torneiras e torcer para que os agentes públicos mantenham um mínimo de ombridade se a coisa ficar realmente feia. Por ora, só registrar que, de uns 80 mil habitantes de população fixa, temos uns 58 mil domicílios, dos quais uns 50 mil atendidos pela estatal da água. E registrar uma verdade: na temporada de verão passada, realmente veio um número enorme de turistas e não faltou água provida pela Sabesp nas torneiras.

Em algum momento, outro problema precisará ser enfrentado, o do uso dos mananciais. Especialmente na Maranduba. E, outro ainda, em todas as vastas áreas ainda carentes de coleta e tratamento de esgoto domiciliar, na Praia Grande, em quase todo o município e, especialmente, aqui, no pé do Funhanhado, no Perequê-Mirim, que tem a praia com os piores índices de balneabilidade de toda Ubatuba.

Autoritarismo de um picolé
O abastecimento de água é segredo de Estado, mas, na verdade, não é só em Ubatuba. É que governador Geraldo Alckmin, geraldamente apupado popularmente como picolé de chuchu (vide), desde que José Simão cunhou o mote, resolveu virar bicho e determinou que, sobre abastecimento de água, só podem falar ele próprio, Alckmin, e o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, engenheiro Mauro Arce (ex-presidente da CESP).

Mais: em plena campanha eleitoral pela reeleição, Alckmin agora resolveu assumir um perfil briguento, no melhor estilo dos regimes autoritários. E nada melhor do que eleger um inimigo externo, o que tende a unificar o público interno – leia-se, o eleitorado, acrescentando-se a exibição de uma face não democrática, que impede o livre fluxo da informação. Resolveu eleger como inimigo externo o Rio de Janeiro (e os órgãos federais reguladores das águas), para onde segue a água liberada pela represa do Jaguari. Criou factóide, a falsa imagem de uma disputa de água para consumo humano versus água para geração de energia, para desviar a atenção da mídia que estava concentrada na crise hídrica em São Paulo, com reflexos ferozes no sistema Cantareira e em muitos outros no interior do Estado, o que tem levado a um racionamento explícito em alguns casos, e disfarçado, como é o caso da Grande São Paulo. Vale lembrar que a crise em si não foi causada por Alckmin, mas sim por condições hidrometeorológicas adversas. O complicado é como o governador candidato lida com o tema.

A disputa é falsa porque, no caso presente, a reservação privilegiada para consumo humano em nada ajudará, neste exato momento, o abastecimento de São Paulo e, de qualquer forma, a energia gerada pela diferença de potencial hidráulico em nada altera o nobre destino final da água, que é para consumo humano (ou animal).

Também é falsa pelo outro lado, porque a água economizada no reservatório da usina Jaguari ficará lá, para ser usada cá ou lá, no Rio de Janeiro. Para usar cá, faltam obras de interligação entre sistemas de abastecimento. Para usar lá, só abrir as torneiras, digo, comportas das unidades geradoras de energia elétrica, quando efetivamente começar a faltar água potável para a baixada fluminense.

A palavra final será (ou deveria ser) da Agência Nacional de Águas, a dona Ana, que segue o figurino criado por FHC, aquele que gerou coisas como Anatel e Aneel – que, parece, só (mas há exceções honrosas) têm olhos para a saúde financeira de suas reguladas (quase escrevo apaniguadas), esquecendo-se do consumidor e seus direitos. Dona Ana tem medo de se meter em briga de cachorro grande e o problema, diz a mídia, talvez caia no colo de outra candidata, a Dilma, não a da Sabep, mas a do Planalto. 

Errei
Onde se lê “... geraldamente apupado popularmente como picolé de chuchu”, leia-se “... geralmente apupado popularmente como picolé de chuchu”.


* texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 15/08/2014. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Água da Sabesp vai faltar em Ubatuba?

A Marlene, minha mulher, me questionou, e não soube responder. Resolvi perguntar à Sabesp. E continuo não sabendo. A estatal tergiversou na resposta a essa pergunta.

A Sabesp dos CUIS (Caraguá, Ubatuba, Ilhabela e São Sebastião) do Litoral Norte é diferente da que atende a Grande São Paulo. A daqui parece ser administrada por amadores, que não sabem reconhecer, entender nem informar dados técnicos. A de São Paulo, além de outras informações diariamente fornecidas aos portais nacionais e jornalões, explicita a situação dos mananciais.

Ubatuba corre risco de desabastecimento de água? Em vista da atual crise hídrica em São Paulo, devido à pior seca em 84 anos (segundo diz o governo estadual), a pergunta é de interesse público aqui nos CUIS, tão maltratados pelos sucessivos governos dos últimos 20 anos. Fiz, por e-mail, essa pergunta à Sabesp daqui, no dia 31/7/2014, nestes termos:

1 – Quais são os sistemas que abastecem Ubatuba de água potável? Em (grandes) números, quais suas vazões (entrega da água depois de tratada) mínima e máxima? Quantos habitantes (ou unidades consumidoras residenciais) são atendidos em cada sistema?
Resposta (uma semana depois, em 7/8/2014): “A Sabesp informa que os sistemas que abastecem Ubatuba são Carolina, Maranduba/Lagoinha, Itamambuca e Praia Vermelha I e II. Com relação às vazões, é importante ressaltar que há uma variação em virtude da sazonalidade decorrente da alta temporada e isso ocorre também no que se refere ao número de pessoas atendidas com água tratada, cujo número triplica durante o Verão.”
Réplica: Números, litros, centenas de litros, milhões de litros, zilhões de litros em cada sistema? Números, ao menos de unidades consumidoras residenciais, que não se alteram na temporada, são atendidos em cada sistema? Vazão mínima, a capacidade de captação, e máxima, a capacidade de tratamento?

2 – Qual é a capacidade máxima de captação e (se houver) reservação em cada um deles, considerando o regime modal de chuvas e o regime excepcional na seca como a atualmente registrada em todo o Estado de São Paulo?
Resposta: “No que diz respeito à captação e reservação, o abastecimento no Litoral Norte, incluindo Ubatuba, encontra-se normal e a Sabesp realiza diariamente o acompanhamento dos níveis dos mananciais. É importante ressaltar que não existem reservatórios (represas) nesta região. Os pontos de captação estão na Serra do Mar, em cotas elevadas, com pequenas barragens.”
Réplica: A pergunta já dizia “Se houver reservação”. Parece que não há, são “pequenas barragens”. Mas, qual, em números, a capacidade de captação? Números, litros, centenas de litros, milhões de litros, zilhões de litros em cada sistema?

3 – Considerando especificamente o sistema Carolina, como a seca dos últimos meses tem afetado o sistema? Existe alguma operação de redução do volume ou pressão entregue aos consumidores? Informo, a respeito, que na manhã de hoje (31/07/2014) observei, por volta das 6h30, pressão inusualmente baixa aqui em casa, no Perequê-Mirim, presente a notícia de que, em São Paulo, capital, a empresa passou a usar sistema de redução de pressão no fornecimento noturno de água.
Resposta: “A disponibilidade hídrica superficial depende fundamentalmente da precipitação (chuva), da capacidade de armazenamento da bacia. O território do Litoral Norte é influenciado justamente pela presença da Serra do Mar e por registrar precipitações médias anuais de cerca de 1.500 mm/ano. A situação normalizada dos mananciais se justifica pelas chuvas que vem ocorrendo, principalmente na serra, de onde vem a água que abastece a região.”
Réplica: Especificamente sobre o sistema Carolina, nada. Mas, ah, muito bem, um número, enfim. Só que médias anuais não valem neste momento. Fosse pelas médias anuais, a hidrovia Tietê-Paraná estaria navegável e o sistema Cantareira estaria abastecendo a Grande São Paulo sem sustos. Conhecido radialista daqui sempre dizia “E que venha sol”. Nos últimos meses, o povo fala “E que venha chuva”. Onde situação “normalizada”, números, por favor?
Sobre a pressão inusualmente baixa, sobre redução de pressão no fornecimento noturno de água, nenhuma palavra. Um “diálogo” verbal com um surdo?

4 – Considerando a variável sazonal do aumento da população flutuante no verão, qual a capacidade prevista para o sistema Carolina para os meses a partir de outubro de 2014?
Resposta: “Concluindo, a capacidade prevista de atendimento do sistema Carolina para a próxima temporada mantém-se como a do último Verão, quando Ubatuba teve número recorde de turistas atingindo pico de 1 milhão de pessoas.”
Réplica: Qual a capacidade prevista? Qual foi o número de litros fornecido de água quando o número recorde de turistas atingiu o pico de um milhão de pessoas? Números, por favor.

5 – Por final, existe alguma orientação específica para Ubatuba – afora as genéricas de uso racional e consciente da água veiculado pela propaganda institucional da empresa – quanto ao uso da água fornecida pela Sabesp?
Resposta: “A Sabesp faz a divulgação de mensagens institucionais sobre o uso racional da água, durante a temporada de verão em função do grande número de pessoas que vão para todo o litoral do Estado de São Paulo. Além disso, a Sabesp do Litoral Norte realiza desde 2008 o programa de educação ambiental, denominado Projeto Futurágua, com alunos do ensino fundamental de escolas de toda a região. Até o final do ano, a Companhia terá formado mais 1,6 mil multiplicadores mirins de preservação ambiental.”
RéplicaOra, ora, ora. A pergunta foi clara. “Afora”, noves fora, excluindo as mensagens institucionais, pagas pelos consumidores a emissoras de televisão, jornais e revistas, afora as genéricas, alguma orientação específica para Ubatuba?
Tréplica
Este espaço, claro, está aberto às tréplicas da Sabesp dos CUIS, que, na verdade, poderão ser as verdadeiras respostas técnicas às perguntas feitas originalmente, que permitirão a cada leitor cidadão elaborar sua própria resposta à grande questão de interesse público colocada e não respondida: Ubatuba corre risco de desabastecimento de água?

Reconheço falha na pergunta. Faltou indagar qual o consumo modal de água em Ubatuba, fora da temporada e na temporada (será que os engenheiros sabem, da estatística, o que significa “modal”)?

Uma semana para responder com generalidades? Descaso, falta de profissionalismo, má vontade, pura incompetência, surdez?

Demorar uma semana para responder, afora os vários e-mails enviados, além de telefonemas (que pagarei, no futuro, porque a conta ainda não veio, todas as ligações, das quais jamais houve retorno), o gerente local ter como local de trabalho prédio no Itaguá, e sua anunciada secretária trabalhar no prédio do centro da cidade? A chefe do Polo de Comunicação – RN116 não ter a menor autonomia, depois de 22 anos de carreira, para coletar informações e comunicar o básico? Há seriedade nisso?

O espaço está aberto à tréplica, ao gerente local de Ubatuba, Iberê Kuncevicius, e ao engenheiro regional dos CUIS, superintendente da Sabesp, José Bosco de Castro.

No presente momento, na condição de cidadão e usuário do serviço (no singular, porque coleta e tratamento de esgoto não existe aqui, no Perequê-Mirim, a pior praia em balneabilidade de Ubatuba) com um sorriso amarelo, como que ostentando um nariz de palhaço.
:o|

* texto publicado originalmente na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 08/08/2014.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Yasmin, criança, morreu em Gaza, não em Ubatuba

Não foi só Yasmin, de quatro anos, não foram só as Yasmins, crianças, que morreram em Gaza. Sarah, Miriam e Elyas também morreram. De nome Muhammad, com idades entre dois e 15 anos, morreram 16, na contagem até o dia 21 de julho de 2014. Crianças com nome, sobrenome, com pais, irmãos, primos, tios e avós, alguns dos quais também mortos. Todos palestinos, da faixa de Gaza.

Seus nomes, contudo, não podem ser pronunciados publicamente em Israel, Estado Judeu “democrático” que não tem carta constitucional (apesar de ter 11 “Leis Básicas”) e que adota a censura, conforme descrito pelo OI - Observatório da Imprensa na sua edição 808. A Autoridade de Radiodifusão de Israel (IBA) baniu de sua programação um anúncio da ONG de direitos humanos B’Tselem por ser, segundo a rede estatal de rádio e TV, “politicamente controverso”. “O anúncio listava os nomes de algumas das crianças mortas em Gaza no mais recente conflito entre palestinos e israelenses, que teve início há pouco mais de duas semanas”, diz o OI.

Se uma bomba, ou uma banana de dinamite dessas que criminosos usam para explodir caixas eletrônicos, se uma dessas tivesse matado Yasmin, de quatro anos, aqui em Ubatuba, ficaríamos horrorizados, e, com justa indignação, clamaríamos por justiça, pela condenação dos terroristas responsáveis por tal ato. Mas e quando quem pratica o terrorismo é um Estado nacional, não laico mas sim religioso? Que tem alta tecnologia e artefatos bélicos de alta precisão mas que, como faz qualquer terrorista, não distingue alvos militares legítimos da população civil sob seu fogo?

O que dizer do fundamentalista radical religioso Hamas, uma organização que emprega métodos terroristas tais como lançar a esmo foguetes ruins de pontaria sobre áreas povoadas por civis israelenses? Seus integrantes são flor que se cheire? Ah, não, claramente não. Fazem uma aposta política que expõe à morte seus concidadãos, ao expor à morte civis dos cidadãos de Israel. Mas é sempre bom lembrar que quem mata é o assassino, quem puxa o gatilho, quem atira a bomba. Sem ele, o assassino, o crime não acontece.

Alvos militares legítimos
Israel tem o direito de se defender. Os palestinos têm o direito de se defender. Direito inquestionável, de qualquer indivíduo, nação, Estado nacional. Mas há limites e um deles é a proporcionalidade. Ao se defender, não pode pretender a asfixia, a extinção, o massacre, do povo agressor. Não pode atingir nada que não seja alvo militar legítimo. Direcionar mísseis para o complexo nuclear de Dimona, que produz material passível de se transformar em armas termonucleares, é uma coisa. Atingir, ou meramente se arriscar a atingir a esmo populações civis ao redor é outra coisa.

Faz muito bem Israel ao operar o Domo de Ferro, sistema antimísseis caro e só empregado quando algum foguete do Hamas se dirige para áreas povoadas. Mas na maioria dos casos, como a munição custa caro, simplesmente deixa passar os foguetes porque atingirão áreas desérticas ou despovoadas. Mas faz muito mal ao atingir a população civil de Gaza, com fogo aéreo, terrestre e naval (quando nave de guerra mata crianças numa praia – sim, Gaza tem praias, como aqui, em Ubatuba).

Quando a maioria das vítimas, mortos e feridos, é civil, há alguma coisa muito errada, algo moralmente indefensável. Quem atira contra escudos humanos é tão assassino e criminoso quanto quem usa esses escudos. Já teve brasileiro usado como escudo humano na Bósnia, em 1995, e deu certo, porque o alvo que ele protegia não foi atacado pela Otan. Trata-se do coronel, então capitão, Harley Alves, que atuava como observador militar da ONU. Melhor assim. Mas cabe lembrar outra grande vítima de qualquer guerra, a verdade. Não restou provado até agora que o Hamas usa escudos humanos nem que os palestinos tenham predileção por expor seus filhos à morte.

República Pentecostal do Brasil
Nosso nível brasileiro de civilização, no quesito Estado-Igreja, penso (e tenho o direito natural de pensar, e o direito constitucional de expressar meu pensamento sem censura), é um tanto melhor do que o dos Estados religiosos, porque somos um Estado laico, não religioso nem ateu. Ainda assim, sobre o mármore nobre do plenário do Supremo Tribunal Federal, há um crucifixo. Ainda assim, admitimos a existência de partidos religiosos (cristãos), o que abre portas para hipotéticos partidos cristãos radicais, muçulmanos radicais, ateus radicais. Partidos fundamentalistas já existem por aqui, repletos de pastores. Alguns sonham com uma república pentecostal do Brasil.
Yasmin

Alguns links (e uma dica)
Não sabe ler textos em hebraico? Nem eu. Uso o Google Translate, um quebra-galho que permite compreender o essencial. 
 Uma dica: é possível salvar na barra dos favoritos de seu navegador (uso o Firefox) um "Português" cujo script, que segue abaixo.
javascript:var%20t=((window.getSelection&&window.getSelection())||(document.getSelection&&document.getSelection())||(document.selection&&document.selection.createRange&&document.selection.createRange().text));var%20e=(document.charset||document.characterSet);if(t!=''){location.href='http://translate.google.com/translate_t?text='+t+'&hl=en&langpair=auto|pt&tbb=1&ie='+e;}else{location.href='http://translate.google.com/translate?u='+escape(location.href)+'&hl=en&langpair=auto|pt&tbb=1&ie='+e;};

Os nomes das criançaswww.youtube.com/watch?v=qcTbMOabFhg.

- texto originalmente publicado na Revista Eletrônica O Guaruçá, em 28/07/2014

sábado, 5 de julho de 2014

Eu, Neymar Júnior, caçado em campo

(Declarações fictícias de Neymar a jornalistas, por E.M.)

Logo de cara quero pedir desculpas por não responder, sei que vocês estão loucos para fazer perguntas. Quero falar, só falar, desabafar, meio irritado que estou, por causa dessa dor muito forte nas costas, apesar do monte de remédios que me fazem tomar. Vi diversas vezes as cenas gravadas, vi o Zúñiga quando meteu o joelho na minha coluna. Vi na câmera lenta. Não foi um acidente, um acaso, nem a tal da simples  imprudência, o maior motivo das faltas que todos nós cometemos em campo. Foi maldade, mesmo que ele jamais admita.

A verdade é que não sou inocente, sabia que iria ser caçado em campo, como realmente fui. Sou obrigado a reconhecer que faz parte do jogo hoje jogado lá na Europa e aqui. Também dou minhas porradas, faço minhas cenas, mas todo mundo sabe que sou meio moleque, com aquela dose pequena de maldade da molecada. Só isso. Mas incapaz de agredir e machucar de propósito qualquer colega de profissão. Sou um profissional, aliás bem pago, não é mesmo?

Só não esperava ser agredido pelas costas, na covardia, quando na minha frente só tinha a bola, para matar no peito. Quando fiz isso estufei o peito e minha coluna ficou na posição mais vulnerável. O Zúñiga não veio com a mão nem com a barriga, veio com o joelho e deu o golpe. É só olhar a imagem em câmera lenta. Fico espantado de vocês não falarem disso, da maldade, da vontade de agredir, de tirar do jogo, de tirar da copa, de tirar do futebol. Alguns até comentaram, mas livrando a cara de quem organiza tudo isso. Tem dinheiro na jogada, né? A emissora "oficial" (fez o gesto das aspas) não quer brigar com o organizador. Sempre tem essa coisa da grana,  e prá mim também. Sei disso, mas minha vontade era de perguntar prá polícia por que  não abriu inquérito, por que não prendeu, já que foi crime. Até falei de fazer a denúncia na polícia, mas é claro que eu mesmo não posso, tem toda essa coisa da grana, até para mim. Mas e o meu contrato lá na Europa? E se essa merda me deixar meio inválido prá jogar lá? 

Bom, prá terminar, prá mim fica claro que essa arbritragem deixou isso tudo acontecer. Desde o primeiro jogo fui caçado em campo, enquanto aqueles três deixavam rolar. Esse espanhol cego não viu, deixou o jogo rolar, não tinha cartão vermelho no bolso e nem ficou de cara vermelha, porque só vergonha na cara deixa a cara vermelha. 

Acho melhor parar por aqui. 

"fair play padrão do organizador do Mundial": eu, E.M., usando a boca de Neymar nesta ficção, e inspirado em Dias Gomes, pela voz de Paulo Gracindo, interpretando Odorico Paraguaçu, "e se não disse, deveria ter dito". 
(Dias Gomes, remotamente inspirado em Vianinha)