segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ubatuba: as árvores de Iperoig


Faço referência a "O Dia da Árvore".
Uma contradição ideológica, mas, nem por isso, menos válida. Julinho Mendes nos anuncia duas coisas: plantará sua oitava árvore, e enviará a cada vereador de Ubatuba um pedido de lei para proteção das amendoeiras da orla da praia de Iperoig (do Cruzeiro). Recolhe-se do Anarquismo o princípio da ação direta, pelo qual não se deve delegar a solução de problemas a terceiros, nestes incluídos os políticos e o próprio Estado, mas, ao contrário, atuar diretamente, pessoalmente, como, no caso, plantando sua oitava árvore. Onde? No local anunciado, a praia de Iperoig.
No entanto, peripatéticamente (e sem o extremismo estoico [ai, a reforma ortográfica, saudades dos acentos agudos!] de Sêneca), como convém aos que gostam de passear ao ar livre, nas praias e sob a sombras das amendoeiras, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Lei humana nenhuma impedirá a ação do mar e (espera-se, pela ação direta e, se for o caso, pela desobediência civil) nada impedirá que as mudas de amendoeira sejam plantadas naquele lugar, cabendo à Natureza decidir se o gesto foi adequado ou não. Sem drama, nem dor, nem medo, nas palavras de Almir Sater e Renato Teixeira.
Mas, por favor, motosserra (aijizuis, será que o higienista Chirico vem por aí?) só com muito, extremo, exagerado, critério. É difícil dizer o que vale mais, se uma vida humana ou se a vida de uma árvore. In dúbio, como humano sou, e como tudo o que é humano me diz respeito, fico com a vida humana, mas não desprezo milímetro sequer da vida, qualquer vida, mesmo não-humana vida. Salvo "Perigo real e imediato", que, se muito não me engano, é tradução de título de algum filme hollywoodiano, nada de motosserra, por favor!
É o Dia da Árvore, e não plantei nenhuma árvore. Mas alguém plantou. Que os xamãs dos Bebe abençoem Julinho, ele está plantar.  
- texto publicado originalmente na revista eletrônica O Guaruçá



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