segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ubatuba: de olho nos vidros e na cidade morta


Há pessoas pelas quais nutrimos um sentimento de amizade e respeito mesmo sem as conhecermos pessoalmente. Foi meu caso com o Julinho, que conheci por texto, antes de conversar, presencialmente por uns fugazes dois minutos, com o bardo e seu espigão sobranceiro (sou baixinho e fico minúsculo perto dele). Foi caso também, só de ler, com o Eduardo Souza, com o Luiz Moura e com o Carlos Rizzo, pois (ainda) não os conheço pessoalmente. Tudo isso, claro, possibilitado pelo portal O Guaruçá (mais do que uma revista, O Guaruçá incorpora, acho, o próprio espírito do portal UbaWeb). Costumo, jocosamente, dizer que cheguei há pouco de fora. É inteira verdade. Ainda não consegui completar o processo de mudança definitiva para este paraíso a construir, que é Ubatuba. E, via internet, o que achei de mais livre e elucidativo sobre o Município foi este portal, junto com alguns outros poucos endereços eletrônicos onde se pode ler, mas não participar, sobre as coisas destas terras de Coaquira.
Ler O Guaruçá dá trabalho. Tenho viagem agendada para uma cidadezinha a uns poucos quilômetros daqui (Assis, onde estou, devido a questões de saúde em família), por causa de algo que li nesta revista eletrônica. Precisei pesquisar um bocado, para descobrir com alguma segurança o que queria dizer "terras de Coaquira". E então conheci Coaquira, Cunhambebe (e sua mulher de gênio forte, sobre a qual algum dia escreverei aqui algumas linhas), o padre Anchieta nos versos em latim (sou péssimo de latinório, mas dá pra entender algo) e o porquê de Iperoig, ou Yperoig, como grafavam os antigos. Mas ainda me perco no Café Soçaite de Ubatuba, que me parece uma espécie de coluna de fofocas, incompreensível para quem não conhece os personagens retratados.
Novamente, hoje, deu-me trabalho ler O Guaruçá, por causa do texto da sra. Maria Cruz (a quem também não conheço), que chamou Ubatuba de cidade morta, em seu texto.
Fez referência, a sra. Maria Cruz, à ONG AMARRIBO, da qual já tinha ouvido falar, mas (minha memória é muito claudicante) sem evocação pronta. Rápida pesquisa no São Google fez-me relembrar de algumas coisas. Uma delas, a cartilha O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil, disponível gratuitamente aqui.
Já insinuei, ao Eduardo Souza, que Ubatuba é terra fértil e pode, sim, ver frutificar mangueiras. Depende menos da natureza, mãe de todos nós. Depende de nós, acho. O Rizzo faz sua parte, cuidando para que não destruamos a imensa e bela diversidade de pássaros que temos. O Julinho e o Moura também. Maria Cruz também. Eu também, espero. Mas será que fazemos o suficiente? A sra. Maria Cruz diz que não, e concordo com ela. Mais do que choramingar, precisamos encontrar formas efetivas de agir. Pisaremos em calos? Ah, certamente. Estamos dispostos a isso? Estamos dispostos a que pisem em nossos calos? Somos humanos, e evitaremos pisar alguns, com certeza. Acusaremos dor quando pisarem em algum nosso. Mas concordo com ela. Eu evito uns calos, alguns evitam outros, mas se formos feixe conjunto de varas, o resultado poderá ser interessante, sinérgico, acima de calos pisados, nossos ou alheios.
Não temos em Ubatuba um Antoninho Marmo Trevizan, de renome nacional e internacional em sua área. Ethos e Transparência Brasil, que apoiam a AMARRIBO, são ONGs que já se utilizaram de serviços da Kroll, empresa de espionagem que, dizem, contribuiu com alguns dossiês pra lá de suspeitos. Ninguém é perfeito, ninguém mesmo. Alguns são mais iguais que outros, mas, na média, em geral, acredito fervorosamente, nós brasileiros somos bem iguais uns aos outros, com defeitos e pecadilhos e virtudes maiúsculas e minúsculas. O povo não é corrupto não, como recorte médio. Mas os Poderes Municipais (que gerenciam cidades) podem, sim, ser bem corruptos, como recorte médio. Talvez precisemos de algo mais, do que apenas ficar de olho.
Então, o que temos? Temos o Marcos Guerra, na área tributária (ler O Guaruçá dá trabalho, alguns textos são densos). Temos o Rui Grilo, citado por Maria Cruz, com quem, imagino, será possível conversar sobre Rádio Comunitária. Não os conheço pessoalmente, só por textos aqui em O Guaruçá. E desconfio que temos mais uma porção de gente, cidadãos anônimos à espera de um empurrãozinho.
Nós temos calos. Eles têm calos. Para eles nós somos os outros. Para nós eles são os outros. Não estaria a hora de promovermos uma calibração para, sem maniqueísmo, avaliarmos a calosidade geral e ver o que é possível fazer, para que Ubatuba seja menos choramingação e mais realização?

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruçá 

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