quarta-feira, 23 de junho de 2010

Bicalho é o nome na Santa Casa de Ubatuba


Não, não se trata do Doutor Bicalho, que vive aqui, em O Guaruçá, trocando figurinhas com o Palombeta. Nem tampouco, provavelmente, o Bicalho do twitter, febre (o twitter é a febre) do momento. Nem ainda Daniel Bicalho com currículo no CNPQ.
A propósito, nem tampouco o argumento "Vítor Ferreira" teve resultados no sistema de buscas do CNPQ.
Isto tudo não quer dizer muita coisa. O CNPQ (Plataforma Lattes) registra e disponibiliza o currículo de quem lá se registra, necessariamente os que têm vida acadêmica, e apenas isso. Pesquisar o nome da Marlene será uma coisa, mas só pesquisar por "Elcio Machado" (literal, entre aspas) e nada, absolutamente nada, haverá lá, o que não quer dizer que eu não exista, nem diz sobre o que produzo. Mas também jamais fui contratado por "notório saber" em lugar nenhum, nem mesmo aqui em O Guaruçá, onde, a propósito, nem fui contratado, mas meramente convidado para ser colunista, $ zero na contabilidade do Moura, na minha e na da Prefeitura, condição pétrea, que não estou à cata de dinheiros (nem de votos), mas apenas exercitando, como cidadão comum, a... a cidadania.
O Bicalho do título acima: trata-se de Daniel Bicalho, com formação em Administração e especialização em Gestão em Saúde, segundo informou Vítor Ferreira, secretário-geral da Cruz Vermelha Brasileira, lotado na filial Maranhão, e signatário, representando sua instituição, no contrato firmado com a Prefeitura para a administração da Santa Casa de Misericórdia Nosso Senhor dos Passos de Ubatuba. A cadeira do dr. Enos Arneiro foi ocupada, na manhã desta segunda-feira, pela figura jurídica Cruz Vermelha - Filial Maranhão, através de um Conselho da Cruz Vermelha, cujo coordenador é Bicalho. Um colegiado, portanto. Vitor Ferreira, na condição de supervisor (deste e de outros contratos), estará presente nos momentos necessários, mas não residirá em Ubatuba.
Sandra, a telefonista da Santa Casa, não soube dizer e passou para Regiane, da Administração, que também não soube dizer: como, logo às 8h30 da manhã desta segunda-feira, saber quem respondia pelo hospital? Mas às 10h30 Regiane já sabia para quem passar a ligação, denotando calma e segurança, bons indícios. Atendeu-me Vítor Ferreira, que reafirmou o compromisso tornado público quando da exposição do Diagnóstico e Análise, de estar sempre aberto para qualquer informação sobre o tema, que gera cáusticas polêmicas aqui em Ubatuba. E que, no dia-a-dia do hospital, Bicalho será o contato.
Consultoria da Saúde na Prefeitura de Ubatuba
Seria interessante abrir, por dois meses, os meandros administrativos da Prefeitura de Ubatuba para diagnóstico e análise por parte da Cruz Vermelha - Filial Maranhão - CV-MA, como foi feito quanto à Santa Casa. Diagnóstico e análise apresentados foram obviedades encontradiças nos manuais de administração (inclusive de postulantes a ISO 9002), seja de hospitais, de indústrias, de casas de shows, de instituições financeiras, seja de Prefeituras. O núcleo de cada item, de cada ação, cabe em qualquer estrutura organizacional, diferindo os detalhes conforme a atividade desenvolvida, em vista das especificidades. Assim, seria interessante saber qual diagnóstico a CV-MA faria da Prefeitura que acaba de contratá-la. Item importante é controladoria, que, basicamente, pergunta: está em conformidade com as normas? Está em conformidade com as normas contratar sem licitação, com base em subjetiva avaliação de notório saber na área?
Em vista da contestação, na Justiça, quanto à forma de contratação da Cruz Vermelha para dirigir o hospital de Ubatuba, mandaria dona Maria Prudência que a assinatura do contrato fosse postergada. Não foi. Dona Maria Prudência não anda sendo muito respeitada na Prefeitura. É que ela pisa em calos, não dá muita bola para egos e sorrisos, é muito rígida quando se trata do bem público, e isso desgosta os plantonistas ora na administração do Município. Plantonistas que fazem uma espécie de mandato-tampão, já que não propuseram (e menos ainda executaram) políticas públicas sólidas para áreas fundamentais para Ubatuba, como Saúde e Turismo. Foram apenas ações pontuais, reativas, algumas até de muito sucesso, como a do combate à dengue na cidade. Mas tais ações não chegam a compor políticas, a menos que a ausência de políticas seja, em si, uma política. Se for assim, falamos então de uma naniquice específica, a politicagem.
A verdade é que a decisão de contratar os maranhenses para dirigir o hospital foi uma decisão política, pontual, de responsabilidade integral do Executivo, não compartilhada com o Legislativo nem com a comunidade. Pontualmente poderá até dar certo, mas não apagará o marcar de passos que foram os últimos cinco anos de desastre administrativo na Santa Casa do Senhor dos Passos, como mostrou o Diagnóstico feito pela Cruz Vermelha. A alegada capacidade da Prefeitura de por ordem na Casa, uma Casa Santa, uma Santa Casa, mostrou-se um desfilar de tentativas tímidas, que melhoraram alguma coisa, mas não atacaram os pontos fundamentais.
Escrevo em plena segunda-feira, quase fim de tarde, e até agora não foi publicada a Ordem do Dia do Poder ausente em tudo isso, a Câmara Municipal, que abdica de suas altas funções fiscalizatórias e de propor soluções, para apenas secundar o Executivo, apenas observar, ou seja lá o que for. Mas, creiam, não ficarei surpreso se houver uma moção de congratulações de notório vereador, cumprimentando a CV-MA pelo contrato sem licitação, pelo notório saber ainda não comprovado quanto a trabalho ainda por fazer.
De qualquer forma, terminei a conversa de hoje cedo com Vítor Ferreira desejando a ele, e sua equipe, boa sorte no empreendimento que apenas começam. Questionada que seja a decisão política da Prefeitura, de contatar sem licitação os maranhenses para gerir o único hospital da cidade, há que desejar boa sorte, porque os benefícios (e eventuais malefícios) cairão sobre nós, os caiçaras legítimos por nascimento, ou em construção, moradores aqui de Ubatuba.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruça 
17/05/2010

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