quarta-feira, 23 de junho de 2010

Burras do Fehidro no Cuidágua Indaiá

 
Foi possível notar uma certa perplexidade da coordenadora, a bióloga Alessandra Panza. No entanto, como o trabalho apresenta as características de seriedade, tenho certeza de que ela entenderá que, às vezes, a melhor contribuição que alguém estranho ao projeto pode dar é uma crítica honesta, ainda que contundente. Dizer em meio a sorrisos que está tudo bem e sonegar uma opinião ao Outro pode ser bom para amizades superficiais, mas não ajuda a avançar. De qualquer forma, a crítica oferecida foi uma opinião, nada além disso.
É que, na apresentação, sábado, da segunda fase do Cuidágua Indaiá, projeto desenvolvido pela Associação Socioambientalista Somos Ubatuba - ASSU com recursos do Fehidro, após brevíssima exposição do projeto e suas etapas houve uma dinâmica com o pequeno grupo de moradores do bairro, boa parte crianças. Os ensaios e os cuidados de produção ficaram evidentes, mas o tipo de dinâmica adotada tem um problema: não pode ser muito curta, comprimida, e funciona com grupos homogêneos de pessoas que previamente tenham sido apresentadas entre si, grupos que tenham, ainda que rudimentar, alguma maturação. O resultado é que, se a mensagem afinal foi parcialmente compreendida, apesar dos esforços a interação deixou a desejar. Uma pena, o belo acompanhamento musical perdeu impacto, porque se tratava de letra e melodia desconhecidas pelos presentes, que estavam sendo concitados à prática de outras atividades simultâneas.
A breve descrição do projeto mostrou que a primeira fase já foi realizada - faltando ainda a apresentação de relatorias. A principal atividade foi a de levantamento de campo e entrevistas estruturadas com moradores dos bairros nos quais se desenvolve o projeto, Perequê-Açu, Barra Seca, Taquaral, Casanga e Sumidouro. O mapa de pontos positivos e negativos nas margens do Rio Indaiá e do Ribeirão Capim Melado, que formam a segunda bacia hidrográfica em densidade populacional de Ubatuba, é de bom nível de detalhamento, mostrando onde são os pontos de desmatamento da mata ciliar, ocupações irregulares nas margens do rio (o Ribeirão é tributário do Indaiá) e manguezal, locais onde são depositados lixo e entulho, e pontos onde esgotos domésticos são lançados nas águas. No entanto, a avaliação não foi de todo ruim: a conclusão geral é de que há, sim, problemas com o Indaiá, mas ele ainda pode ser usado para abastecimento de água à população, desde que haja tratamento dessa água.
A segunda etapa, ora lançada, prevê oficinas nos bairros, bem como gincanas para expor os problemas e disseminar ações para preservação dos recursos hídricos. As escolas municipais e entidades comunitárias serão foco dessas atividades.

A terceira etapa, a última, pretende implantar planos de ação, com cursos de compostagem, fossa séptica, saneamento ambiental, reciclagem (inclusive com produção de bens artísticos) e agroecologia. Também está prevista dição de livreto, com encarte infantil, sobre gestão participativa da bacia hidrográfica do Rio Indaiá/Capim Melado, disponibilizando as informações obtidas às comunidades do Litoral Norte.
Entre as duas etapas, está em projeto um documentário sobre o Cuidágua Indaiá, junto com o Coletivo Arte e Realejo Filmes.
O que chamou a atenção no lançamento da segunda fase foi a falta de adesão das comunidades envolvidas. Além da pequena presença dos moradores, nem os cinco estudantes contratados em fase anterior para fazer as entrevistas estruturadas estavam suficientemente motivados para ir ao evento. Alessandra disse que o Cuidágua não pretende resolver todos os problemas e reconheceu que buscar a adesão das comunidades não é tarefa fácil, mas que, com o tempo e as atividades previstas, alguns resultados serão obtidos.
Ainda não tenho opinião formada sobre ONGs que pregam sustentabilidade, palavra-conceito do momento, mas que têm dificuldade com sua própria sustentabilidade, porque não conseguem apoio diretamente das comunidades interessadas. Então, resta apelar para as burras do Poder Público. É o que acontece com o Cuidágua Indaiá, recursos da ordem de 130 mil reais do Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo - Fehidro, para um projeto de dez meses. No entanto, há, como sempre, a burocracia emperrada, que às vezes faz o que precisa fazer - tomar prestação de contas da utilização dos recursos, trimestralmente, antes de liberar nova parcela - mas que demora: a prestação de contas foi em dezembro, mas a liberação da nova etapa de recursos só aconteceu agora.
De qualquer forma, meno male, são recursos que chegam à cidade, e, através do Fehidro, não é a primeira vez. A própria ASSU já realizou dois projetos, um deles semelhante ao do Indaiá (foi na bacia do rio Grande), com repasses do Fundo.
Imagens de satélite
O que foi vendido pelos releases oficiais para a sexta-feira, dia 21, dentro da programação do Festival da Mata Atlântica, foi uma palestra sobre monitoramento de floresta utilizando imagens de satélite, com o título “Mata Atlântica: A Floresta vista do Espaço”. Na verdade, não era bem uma palestra, mas uma atividade destinada aos alunos de Tecnologia de Meio Ambiente da Escola Técnica. Ministrado pelo geógrafo René Novaes e pela bióloga Verônica Gama, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o evento foi no Ubatuba Palace Hotel. Tema interessante, bastante técnico, para enfado de boa parte dos alunos, cuja pressa era em obter o certificado das tantas horas para compor currículo. Poucos mostraram real interesse pelo tema e houve pouquíssimas perguntas aos especialistas, algumas delas formuladas por não estudantes.
Dei uma olhada nos sites indicados pelo geógrafo René, cadastrei-me, não tive dificuldade de acesso ao programa GIS Spring, gratuito e desenvolvido pelo próprio INPE, mas nada de conseguir as fotos de satélite que, asseverou ele, estão disponíveis ao público. É que acontece algum mistério, mesmo feito o login a página recusa-se a abrir o carrinho de "compras", os pedidos das fotos. O lado bom é que o geógrafo deixou e-mail e telefone para serem usados em caso de dúvidas.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruça 24/05/2010

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