quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cruentata: escrevi bobagens


Quando escrevi sobre a morte da minha Cruentata, escrevi bobagens. Quem me alertou foi o autor da belíssima foto à qual link naquela matéria remete, o biólogo Vinícius Dittrich. Ele teve a gentileza de, delicadamente, me explicar que nomes científicos de espécies sempre são escritos com a primeira palavra - o gênero - com inicial maiúscula e com a segunda palavra - o epíteto específico, que caracteriza o gênero e define a espécie - com inicial minúscula. Sendo assim, o nome do bicho é Nephilengys cruentata. Depois de feita uma primeira citação nesse formato, pode-se falar em N. cruentata. Como, isoladamente, a palavra "cruentata" não tem sentido em nomenclatura biológica, seu uso em outro contexto não poderia ser em itálico, pois se trataria, então, de uma forma aportuguesada.
Expliquei a ele, então, a historinha sobre a Cruentata. Da primeira vez que a vimos, logo que começamos a mudar para Ubatuba, um ano e meio atrás, pareceu-nos uma viúva negra. Minha mulher, Marlene, é fotógrafa e participa de grupos do Flickr, e fez uma pesquisa para tentar identificar qual era aquela aranha. Apesar de algumas informações desencontradas, finalmente estabelecemos que se tratava da Nephilengys cruentata. No entanto, não havia meio de me lembrar do nome científico dela, só me lembrava de "cruentata". E assim foi ficando: Cruentata daqui, Cruentata dali, virou o nome próprio da primeira delas, a mãe. E, por extensão, depois, da filha, a que foi citada no texto. Então, realmente, a minha Cruentata fica fora das regras de nomenclatura.
Quem escreve acaba, em algum momento, ou em muitos momentos, escrevendo bobagens. Essas descritas creio que será possível reparar, ainda que precise torrar a paciência do editor de O Guaruçá, para republicação do texto com as correções.
Vinícius foi, por anos a fio, frequentador assíduo de Ubatuba, "mas essa fase acabou", disse. Ele é, hoje, professor doutor em Universidade pública da Bahia. Ponderei com ele que "Aqui continua sendo um paraíso, bem verdade que um paraíso a construir, porque muito do ambiente daqui já está degradado, e a luta é para interromper esse processo e recuperar o que for possível." E sugeri que volte a frequentar Ubatuba, onde será muito bem recebido aqui no pé do morro do Funhanhado.

- Texto originalmente publicado na revista eletrônica O Guaruça 


13/05/2010

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