Leituras da mídia eletrônica do Litoral Norte
Primeiro, só erra quem faz. A maneira mais segura de não errar em um empreendimento é não empreender, não fazer. O erro é inerente a qualquer atividade humana (inclusive esta, a de escrever). O que se faz com o erro é outra coisa. Pode-se fingir que não existiu, pode-se corrigi-lo, pode-se aprender com ele. Quando o erro de outrem nos atinge pessoalmente, também podemos fingir que nada aconteceu, podemos propor a quem errou que o corrija, podemos aprender com o erro alheio.
Estas considerações iniciais são a propósito de uma Carta à Redação de uma leitora do Maranduba News, publicada na edição eletrônica 4, deste mês de abril. Trata-se da carta de uma das filhas de Chico Romão, um homem do mar, retratado em texto e foto de Ezequiel dos Santos na edição eletrônica 3, de março de 2010. Na matéria, Ezequiel cometeu um dos mais graves erros que uma publicação pode cometer: deu como morta uma pessoa, filha do Chico Romão, que "está viva, graças a Deus", como disse a missivista, que também explicitou melhor a circunstância da morte do pai: na verdade, ele morreu dentro do hospital e não na varanda. A visão a partir da varanda foi, segundo ela, uma graça divina, porque o pai sempre disse que não queria morrer no hospital. Reli o texto do Ezequiel: ele não disse diferente.
Quando não há má-fé, quando o conjunto da obra é bom, erros, mesmo graves, e mesmo erros de português, perdem dimensão, porque importante mesmo é o conteúdo. Erros são passíveis de reparação.
No meio eletrônico, uma coisa leva a outra, que leva a outra. É um mundo. Tem uma porção de tecnologias novas, como, por exemplo, a possibilidade de publicação de um jornal em formato PDF. Que você pode guardar em casa, no seu computador. E com os textos do Ezequiel, é uma forma de preservar a memória de antigos caiçaras. Descobri o Ezequiel e o Maranduba News a partir do Eduardo Souza, que, ave!, não é Cesar, e que relembrou Velhos caiçaras, dentre eles sua vó Maria, "de olhinhos pequenos, mansos", uma centenária vida retratada num rosto no qual cada ruga "esplendia essa sabedoria que se norteia na caridade e na fé".
Dois textos, do Ezequiel e do Eduardo, cheios de significados e emoções, bonitos: leituras prazerosas.
Em seu Editorial ao lado das Cartas à Redação, Emilio Campi (lembro-me da nona Zefa que insistia em falar "São José dos Campi", porque, na verdade, falava português malemá, mas pensava em italiano) rememora o tempo do heroísmo dos modens a 9.600 bps por segundo, quando colocou no ar o primeiro site do Litoral Norte Paulista. De volta a Maranduba, Emilio está novamente a usar modem, só que agora o 3G, estimo que a uns 128 mil bps em sua velocidade máxima. E está satisfeito, apesar disso significar cerca de 6,5% da velocidade nominal do Speedy de 2 mega-bps (que é 213.333 vezes mais rápido que o modem de 9.600 bps). No entanto, na prática, o Speedy, que o povo do ramo chama de slowly, não está com essa bola toda, não. É errático e não consegue sustentar sua velocidade máxima por longos períodos e, de vez em quando, simplesmente fica mudo. De qualquer forma, mesmo apesar de sua instabilidade intrínseca, o Speedy ainda é solução melhor e mais barata do que qualquer internet via rádio (o 3G também é via rádio, lembremo-nos).
No entanto, cadê o Speedy na Maranduba? Cadê o Speedy no Perequê-Mirim? Cadê o arrogante Valentão, quando se trata de cumprir o que promete? Cadê a Anatel? Choramingações. E isso é feio. Mas o Emilio não está a choramigar, apenas relata sua experiência pessoal. E vai ao cerne da questão, o que me faz concordar integralmente com seu editorial: "Se a gente realmente pudesse escolher a companhia telefônica que instalaria o cabo em nossa porta acredito que seria diferente".
O problema é que o modelo FHC-Serjão de privatização e reorganização da telefonia, sob o pretexto de melhorar a competitividade, criou feudos que extinguiram a possibilidade de concorrência e nos legou a Anatel, uma agência reguladora anã e ineficiente, para fiscalizar as mastodônticas teles.
Mas voltemos às Cartas à Redação do Maranduba News. Sob o título Parabéns III, há a manifestação de um leitor de Ubatuba. Ele coloca um único reparo: o jornal precisa "ter política local independente." E finaliza com sua opinião: "As coisas só mudam pela política". O que seria uma política local independente? Independente dos momentâneos ocupantes do poder? Independente de partidos ou grupos políticos? Independente de patrulhas? Há aí uma certa contradição. Se as coisas só mudam pela política, é o caso de fazer política, contra, a favor ou muito pelo contrário. Mas, por uma razão básica, a credibilidade, os jornais não assumem que fazem a política de interesses que fazem. Só ver os jornalões, especialmente os paulistanos. O que um jornal comum (que não seja um jornal de partido político, de sindicato ou de igreja) precisa é de independência editorial, para que assuma sua própria marca, suas características que o individualizam. Que informe, sem esconder nem inventar notícia. E o leitor que julgue.
Talvez mais grave do que posicionamentos de natureza política seja a falta de separação entre "Igreja e Estado", que era como as redações de antigamente chamavam a água e o óleo imiscíveis do Departamento Comercial e da Redação. Hoje percebe-se que a água ficou mais oleosa e o óleo, mais aguado. Publicidade é para espaço publicitário, notícia e opinião são para espaço editorial. E, nesse sentido, tanto faz o patrocinador publicitário ser uma empresa ou uma Prefeitura. Pena que essa rígida separação conceitual hoje esteja relativizada, batida pelo sudoeste bravo, no dizer do Eduardo Souza, que não é, ave!, Cesar.
De qualquer forma, fazer política não é apenas fazer política partidária, como muito bem explicitou a sra. Sonia Maria Bonfim em recente pronunciamento na Tribuna Popular da Câmara Municipal. Algumas bandeiras que já foram partidárias, como, por exemplo, a da Ética na Política, hoje não são mais. Foram assumidas por outros setores organizados da sociedade. Em alguma medida, por suas próprias culpas, os partidos políticos perderam importância, face a outras formas de organização social. Só são necessários por causa da legislação eleitoral. Mas, grandes ou pequenos, estão hoje mais para balcão de negócios e legendas de aluguel do que entes programáticos e propositores de políticas que estejam dispostos a executar.
Por final, que já estão excessivamente longas estas Leituras, só mais um necessário registro: jornais de bairro são mais influentes em seu bairro do que jornais que se pretendem municipais, regionais, estaduais ou nacionais. E, de quebra, são muito mais lidos pelo homem médio, que em geral é um tanto avesso à leitura.
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